Todo ano se repete, se não a mesma manchete, algo muito semelhante: fortes chuvas provocam deslizamentos e/ou enchentes e [sempre] mortes em (via de regra alguma das cidades do sudeste brasileiro ou do sul da Bahia).
Idênticas, também, são as medidas adotadas pelos governos burgueses ano após ano em resposta a essas ocorrências: declarar situação de emergência (governo municipal), reconhecer situação de emergência (governos estaduais e/ou federal), comparecer de helicóptero às regiões atingidas fingindo espanto (prefeitos, governadores e, nas situações mais trágicas, o presidente da República), eventualmente enlamear os pés aproveitando o asco pela sujeira para ajustar expressão facial de sofrimento (todos os anteriores e, ainda, por vezes, autoridades de menor calibre buscando projeção eleitoral), anunciar a destinação de singelos valores para a reconstrução das áreas atingidas (para bolsos ávidos pela oportunidade de prestar tão relevante serviço humanitário), iniciar campanhas para doação de agasalhos, alimentos e materiais de higiene para os atingidos (para isso o Estado burguês muito raramente dispende alguma quantia, e, quando o faz, subsidia um mínimo suficiente a aplacar ânimos insurgentes em desenvolvimento nas populações atingidas) etc.; uma legítima farsa grotesca, não fosse a realidade com que o drama se apresenta às vítimas.
Dessa vez, os fatos se deram em Angra dos Reis. Até o momento, já se contabilizaram 18 vítimas fatais. Para a imprensa capitalista, as mortes são decorrência das chuvas fortes que atingiram o estado do Rio de Janeiro entre quinta-feira (31) e sábado (2). Para qualquer um, no entanto, que se ponha a refletir politicamente sobre a catástrofe, a conclusão inevitável será a de que os eventos são resultado da ação de um único fator: o capitalismo.
As vítimas são, na sua imensa maioria, pessoas simples, de condições existenciais precárias, deslocadas para regiões alagadiças ou de topografia propícia a deslizamentos pelo próprio mercado imobiliário, que inviabiliza a esse grupo social habitar em zonas seguras. É o que se verifica também, por exemplo, nas recentes tragédias ocorridas em Minas Gerais, Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro, Pará, Tocantins, Maranhão e Espírito Santo. E o neoliberalismo puro-sangue retomado no Brasil com o golpe de 2016 só faz agravar o quadro: recursos? Somente para os bancos. Para que infraestrutura para a melhoria das condições de vida da população pobre?
Somente a combatividade dos trabalhadores pode reverter esse quadro. Derrotar o golpe apoiando a campanha por Lula Presidente é a ação tática exigida pela atual conjuntura. Qualquer resultado diverso que se obtenha das eleições presidenciais deste ano autorizará aos golpistas o aprofundamento das políticas neoliberais restabelecidas com Temer e mantidas por Bolsonaro.
P.S.: E não é que, pouco antes da conclusão desta matéria, noticiou-se a chegada de Bolsonaro – de helicóptero – a Angra dos Reis?