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Milícia fascista

Milícias rurais de TO podem ter assassinado dirigente do MST

Movimentos ligados à luta pela terra no estado suspeitam que o crime tenha participação de uma milícia rural paga por grileiros de terras

Brasil de Fato O militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Tocantins, Raimundo Nonato Silva de Oliveira, 46 anos, conhecido como Cacheado, foi assassinado dentro de casa, na frente da companheira, durante a madrugada desta terça-feira (13). Segundo o MST, três homens encapuzados arrombaram a porta dos fundos e o executaram a tiros em Araguatins (TO), na região chamada de Bico do Papagaio. 

Movimentos ligados à luta pela terra no estado suspeitam que o crime tenha participação de uma milícia rural paga por grileiros de terras. Cacheado teve o pai assassinado por pistoleiros, antes de se tornar líder do acampamento sem terra Alto da Paz em Araguatins (TO), localizado na fazenda Santo Ilário, área reivindicada para reforma agrária. 

Por isso, segundo o MST, Cacheado escapou de várias tentativas de assassinato entre os anos 2000 e 2015, quando desempenhou papel central na liderança do movimento. “Cacheado ficou muito visado pelo latifúndio, pelo poder judiciário e pela polícia. Ele se tornou uma pessoa muito vigiada e monitorada pelo poder político local do município de Araguatins e toda a região”, afirmou o dirigente do MST no Tocantins, Antônio Marcos. 

Com a morte de Cacheado, a segurança dos acampados no norte do Tocantins volta ser uma preocupação nacional do MST. “A violência pode crescer nos anos que virão pela frente, por essa onda do estímulo ao ódio e violência. no campo. É uma grande preocupação, porque há muitos anos não se ouvia falar em liderança do Bico do Papagaio sendo assassinado”, afirmou o integrante do MST. 

Brasil de Fato perguntou à Secretaria de Segurança Pública de Tocantins em qual estágio estão as investigações, mas não houve resposta. 

Campanha de Bolsonaro agravou clima de violência 

O clima se acirrou na região durante as eleições de 2022. O MST diz que a campanha dos latifundiários pela reeleição de Jair Bolsonaro (PL) inaugurou uma nova investida dos fazendeiros contra os sem terra. O movimento considera que atuação das polícias e do poder Judiciário, sempre em favor dos latifundiários, aumenta a vulnerabilidade de camponeses que lutam pela reforma agrária.

Em setembro deste ano, Bolsonaro cumpriu agenda de campanha em Araguatins (TO), município marcado por conflitos agrários. Em discurso, o presidente chamou o Partido dos Trabalhadores (PT) de “praga” e defendeu “varrer” o partido para o “lixo da história”. “Aqui é uma área grande voltada para o agronegócio. Vocês são orgulho do nosso Brasil”, afirmou Bolsonaro para apoiadores. 

“Bolsonaro mais uma vez reafirmou a nossa destruição. Talvez esse cenário de violência e ódio também esteja ligado à execução do companheiro Cacheado”, avaliou Antônio Marcos. 

Cacheado foi procurado por desconhecidos no dia da morte

Um dia antes do assassinato de Cacheado, homens desconhecidos foram até o acampamento Carlos Marighella e perguntaram por Cacheado. Na mesma data, o local recebeu a visita de policiais e de um oficial de justiça. O acampamento, localizado às margens da rodovia TO-404 e a 15 quilômetros de Araguatins (TO), foi alvo de um interdito proibitório, medida judicial que impede a permanência dos assentados.

“Nós ainda não sabemos quem esteve lá [no acampamento Carlos Marighella] perguntando pelo Cacheado. Então isso vai nos deixando um monte de dúvidas. Por que pessoas estranhas foram procurar por ele?”, disse o dirigente do MST. 

Risco de novas mortes

Cacheado lutava para que a fazenda Santa Ilário, situada em terras públicas, fosse desapropriada e destinada à reforma agrária. Mas o cenário de grilagem de terras com aval do poder local se repete em outras propriedades no Bico do Papagaio. Do outro lado, estão famílias de sem terra em luta pela reforma agrária. Os conflitos são frequentemente marcados pela prática da pistolagem e execução de lideranças.

“A solução é a reforma agrária. Enquanto o Estado brasileiro se nega a fazê-la, o latifúndio, o poder judiciário e as milícias seguem organizadas na região. Ainda existem vários acampamentos na região ameaçados por fazendeiros e pelo poder Judiciário”, alerta Antônio Marcos.

Cacheado deixa filho, netos e legado de luta 

Natural de Barra da Corda (MA), Raimundo Nonato Silva de Oliveira, o Cacheado, iniciou a militância ainda jovem nas Comunidades Eclesiais de Base (CEB). Participou da Pastoral da Juventude Rural (PJR/CPT) antes de ingressar no MST. Contribuiu ainda com movimentos sindicais e partidos políticos do campo progressista.

“Cacheados deixa filhos e netos além de um legado de resistência, persistência e coragem, com uma continua preocupação com as bases e com ‘Trabalho de Base Dentro da nas Base’, algo que sempre deve ser lembrado e praticado”, escreveu em nota o MST.

No comunicado, o Movimento afirma ainda que lutará “incansavelmente” pelo esclarecimento da autoria e por justiça por Cacheado.

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