Na última semana, Rolando Álvarez, bispo de Matagalpa, foi preso pela Polícia Nacional da Nicarágua sob a investigação de ataques golpistas contra o país. A polícia informou que ele foi levado à capital e está sendo mantido sob “guarda domiciliar” com acesso à família.
Nesta segunda-feira (22), o Papa Francisco fez uma declaração afirmando estar “preocupado” com a situação política nicaraguense, condenando a prisão de Álvarez.
“Acompanho de perto com preocupação e dor a situação criada na Nicarágua que envolve pessoas e instituições […] Quero expressar minha convicção e desejo de que, por meio de um diálogo aberto e sincero, ainda é possível encontrar as bases para uma convivência respeitosa e pacífica”, afirmou o Papa.
Historicamente, a Igreja Católica, na Nicarágua, desempenhou um papel profundamente reacionário. Foi fiel apoiadora da ditadura terrorista de Anastasio Somoza e, nos anos 80, atuou para derrubar a revolução sandinista. Nesse sentido, as acusações do regime Ortega contra ela, de que estaria organizando grupos violentos para desestabilizar o Estado nicaraguense, não são nem um pouco estranhas. Afinal, isto já foi feito no passado e continua sendo feito até hoje.
De maneira geral, a Igreja Católica possui até mesmo uma forte influência sobre o governo sandinista que, por exemplo, capitulou frente a essa pressão e não aprovou a legalização do aborto no país, mesmo em sua época revolucionária. E isso é algo que permanece até os dias de hoje com a chamada “união nacional” que Ortega, ao voltar ao poder em 2007, fez com as igrejas.
Essa ligação é tão forte que, muitas vezes, os sandinistas referem-se à sua ideologia como um “socialismo cristão”, apelando para símbolos e mitos religiosos e moldando partes do regime para agradar a Igreja.
Mesmo assim, como representante do imperialismo, a Igreja Católica não quer Ortega no poder justamente porque ele representa uma força nacionalista – anti-imperialista – na Nicarágua. Não é à toa que a Igreja apoiou a tentativa de golpe de 2018 e, até agora, como vem denunciando o regime nicaraguense, tenta desestabilizar o governo do país.
Acima de qualquer coisa, a declaração do Papa Francisco serve para jogar lenha na fogueira da campanha de que Daniel Ortega e, de maneira geral, os sandinistas, seriam ditadores. Campanha encabeçada, em primeiro lugar, pela imprensa imperialista que aproveitou a colocação do Papa para atacar ainda mais o regime na Nicarágua.
Deve ficar claro que isso acontece, pois Ortega faz parte de uma esquerda que, apesar de moderada, é inconveniente para o imperialismo. Uma completa oposição a figuras como Boulos, Boric, Haddad e Petro, representantes da “nova esquerda” identitária que, no final, não são verdadeiros inimigos da burguesia imperialista.
Por isso, é imprescindível que a esquerda defenda o governo Ortega, assim como fez Lula, e se coloque decididamente contra o imperialismo. Consequentemente, é preciso abandonar as ilusões que possui ao defender, até mesmo, o Papa, considerado, pela esquerda pequeno-burguesa, como um progressista.