No último debate presidencial do 2º turno, transmitido pela Globo, Lula estava bem mais combativo, chegando ao ponto de denunciar explicitamente o golpe de Estado de 2022. Ao contrário do que havia sido visto nos debates anteriores, o ex-presidente foi “para cima” de Bolsonaro, procurou apontar de forma mais categórica seus ataques aos trabalhadores, e colocando mais concretamente suas propostas, como a isenção do imposto de renda para a faixa salarial de até 5 mil reais.
Nos debates anteriores, Lula perdeu, diversas vezes, a chance de denunciar o golpe do qual o PT e o povo brasileiro foram vítimas. Com os candidatos da burguesia todos agrupados e o atacando constantemente, acusando-o de “corrupto”, de ter deixado uma suposta “herança maldita” de suas gestões para os governantes seguintes e outras colocações que poderiam ter sido rebatidas denunciando os golpistas. Era evidente que Lula não estava colocando essa questão porque sua campanha está repleta de golpistas, como Alckmin, Márcio França e outros, que procuram sabotar e “queimar” sua imagem diante do povo.
Na última sexta, porém, Lula mostrou compreender que uma postura mais combativa e radical estava faltando para realmente perseguir uma vitória eleitoral no domingo. Lula nem sequer havia sido provocado a respeito disso — o que reforça que decidiu colocar a questão voluntariamente — e afirmou: “Eu vou contar uma coisa: ele se esquece que ele herdou a Presidência do Brasil de um golpista, que foi dado o golpe junto com ele. Não foi da presidenta Dilma. Ele recebeu o governo de um golpista chamado Michel Temer, do qual ele ajudou a derrubar a Dilma”. Também colocou claramente “Fui preso para que você ganhasse as eleições, fui acusado por um juiz mentiroso”, referindo-se à sua prisão, que também é desenvolvimento importante do golpe.
Temer não gostou
A colocação de Lula teve bastante repercussão. O próprio Michel Temer comentou-a dizendo que “Lula está descompensado”. O fato de Temer, um traidor profissional, ter se insurgido contra a acusação já demonstra o nível de realidade que ela tem. É positivo que o PT esteja disposto a colocar isso, mesmo estando comprometido em partes com o MDB por conta do apoio de Tebet.
Temer também afirmou: “Estou recebendo muitas mensagens aqui de gente que dizia que iria votar nele e não vai mais votar por causa disso. Muita gente do MDB está me mandando mensagem dizendo isso”. Longe de ser algo para se lamentar, a debandada de uma parte, ainda que pequena, dos setores golpistas da candidatura de Lula é algo que deve ser celebrado. O próprio Temer, no entanto, não declarou seu voto abertamente ainda.
Lula reforçou a fala
Em entrevista após o debate, Lula voltou a denunciar o golpe contra Dilma. Ele afirmou “Inventaram uma história, deram veracidade à história e tiraram uma mulher digna que ganhou eleições”. Também disse que Bolsonaro foi participante do golpe. Ele relembra a votação do impeachment: “O povo pode ver o discurso que ele fez contra a Dilma no dia da votação. Não dá pra esconder isso. Não dá para fingir que não foi golpe”.
A fala de Lula é corretíssima e é muito importante sempre repetir as causas e consequências do golpe, para que o povo conheça quem são seus verdadeiros inimigos. Além disso, é fundamental observar e denunciar, inclusive, os golpistas que se agruparam em torno de Lula para procurar sabotar sua campanha e lucrar com a sua popularidade. Temer é apenas um deles, mas há também Geraldo Alckmin, Márcio França, Simone Tebet e muitos outros, com os quais a esquerda e o povo deve ter bastante cautela.