Política do mal menor retorna o PSDB ao governo do Rio Grande do Sul, na figura do Eduardo Leite, o “Bolsogay”. Confirmada a manutenção do poder, o primeiro passo do governo Leite foi antecipar a privatização da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), anunciado em fevereiro deste ano.
Inimigo dos trabalhadores
O primeiro aspecto a ser deixado claro é: quem é Eduardo Leite? Filiado ao PSDB desde o ensino médio em 2001, é um membro exemplar deste instrumento imperialista no Brasil. Leite teve um desenvolvimento político de vereador, deputado estadual, prefeito, governador e pré-candidato a presidente.
Como a maioria dos golpistas, Leite morou um tempo nos Estado Unidos da América (EUA) mantendo vínculos estreitos com o principal setor do imperialismo, o partido Democrata, representante dos banqueiros. Ele foi um dos 11 representantes da juventude brasileira a encontrarem-se com Barack Obama em outubro de 2017.
Eduardo Leite é um exemplo acabado da “direita democrática”, um inimigo da classe trabalhadora. Potencialmente mais nocivo que a extrema-direita, que por ter uma base social encontra mais uma resistência para impor uma política de austeridade.
O caso Corsan
A Corsan é uma empresa fundada em 1965, que herdou uma estrutura de sistemas públicos de abastecimento de água do Rio Grande do Sul iniciada em 1864. A empresa surgiu da Diretoria de Saneamento e Urbanismo da Secretaria das Obras Públicas, antiga Comissão de Saneamento.
Face ao maior poder econômico do estado, em 1936 as prefeituras concederam ao órgão estatal as responsabilidades sobre o sistema, através de convênios. A mudança para empresa, em 1965, tem um caráter retrógrado, mas limitado, ela torna privado da Corsan os bens públicos da DSUSOP, mas mantém as ações sobre controle do estado e prefeituras.
O problema maior está na abertura dessas ações ao capital financeiro e a consequente mudança na finalidade da Corsan. A companhia criada para prestar serviços, passa a ser apenas uma empresa focada em render lucros aos seus acionistas.
Essa é a realidade do Banco do Brasil, Petrobrás e tantas outras empresas estatais, que através de mudanças de regulações e outros golpes foram retiradas da população e entregues aos capitalistas. A Corsan está atravessando esse processo. Após preparações, em fevereiro de 2022, Leite anunciou a privatização da Corsan.
Felizmente, em julho de 2022, um desses passos, a “Oferta Pública Inicial” IPO do inglês “Initial Public Offering”, que é a abertura do capital na bolsa de valores, foi cancelado. Entretanto, o governo do Rio Grande do Sul e a direção da Corsan deixam claro prosseguir a privatização por outros meios. A mudança na estratégia ocorreu em razão da determinação do Tribunal de Contas do Rio Grande do Sul de correção dos modelos utilizados para calcular o valor de venda.
Os lacaios do Imperialismo apoiados na esquerda
O grande problema é que Eduardo Leite, como diversos outros políticos da “direita democrática”, são as mãos do imperialismo no país. Eles são inimigos dos trabalhadores e muitos deles foram eleitos com o apoio de parte da esquerda.
Um dos partidos de esquerda que apoiou Leite foi o PT do Rio Grande do Sul: “Entendemos que todos os democratas devem ter como compromisso primeiro a defesa da democracia e o combate às candidaturas que representam o atraso bolsonarista”, em nota assinada pelo presidente do diretório, Paulo Pimenta, pelo ex-candidato ao governo Edegar Pretto, pelo senador Paulo Paim e os ex-governadores Olívio Dutra e Tarso Genro.
O resultado da política do “mal menor” é que a direita mais nociva aos trabalhadores acaba assumindo o poder praticamente sem resistência. Além de a operação desarmar parte da classe trabalhadora, ocasionando uma confusão política gigantesca.
Esse é um dos eventos políticos que mais desmoraliza a esquerda e desmobiliza os trabalhadores. Esse mesmo mecanismo político tem relevante papel na ascensão da extrema-direita.
Reeleito, Leite pretende avançar a privatização
Logo após confirmada a reeleição, uma das primeiras ações de Leite foi prometer avançar no processo de privatização. O governador reeleito garantiu acelerar o processo para realizar o leilão da companhia ainda em 2022.
A justificativa de Leite para a privatização seria a necessidade de investimentos: “A Corsan não tem capacidade para conseguir triplicar os investimentos, como seria necessário, para conseguir atingir as metas que estão estabelecidas nesse marco regulatório”. Entretanto sobram exemplos de que esse argumento é uma falácia.
Atualmente há um verdadeiro movimento pelo mundo de reestatização de empresas entregues ao capital privado. Curiosamente, as empresas dos sistemas de água são a maioria desse fenômeno. A venda da Corsan coloca-se na contramão da história.
Quem bate cartão, não vota em patrão
O caso citado com Eduardo Leite demonstra o óbvio, os trabalhadores não devem confiar em seus inimigos de classe. Sua política e organização devem ser independentes da burguesia, estando em defesa dos seus próprios interesses de classe.
A política do “mal menor” na realidade é uma farsa e acaba garantindo o apoio dos trabalhadores aos políticos que não tem nenhuma simpatia destes. Termina como uma política de colaboração de classes e, como estas, sempre é prejudicial aos trabalhadores.