É difícil o morador do Jacarezinho conseguir viver um dia de normalidade. Após 3 dias de intensos tiroteios, que resultaram em 6 pessoas baleadas (dentre elas, duas menores de idade) e 1 morta, essa segunda-feira (21) se iniciou com a favela ocupada pela polícia militar, com pelo menos quatro carros blindados (caveirões) e inúmeros policiais. Trata-se de uma ação de guerra contra a população, que ainda sofre com duas unidades de saúde e sete escolas municipais que não abriram por precaução. A PM, até o momento, não deu nenhuma justificativa para esclarecer a população sobre a realização dessa longa operação policial.
Fim da PM
O Jacarezinho vem sendo ocupado pela polícia militar há meses com a implementação do Programa Cidade Integrada, do governo do Estado do Rio. Como já denunciamos neste Diário, esse programa representa uma licença para ocupar a favela e reprimir ainda mais os moradores. Diversas denúncias já foram feitas sobre crimes cometidos contra a população pelos policiais, revistas injustificadas e invasão de domicílios por parte da PM, mas nada foi resolvido.
Tudo isso prova que somente o fim da polícia militar vai acabar com o sofrimento desses moradores que vêm vivendo em uma verdadeira guerra.
20 de novembro: dia de luta do povo negro e dia de provas do Enem
No domingo (20), dia de luta do povo negro, a população do Jacarezinho não pôde sair de casa. Ela estava, mais uma vez, sendo atacada e confinada pelo braço armado do Estado, que fere e mata cotidianamente principalmente a população negra e pobre. Simbólico uma operação policial acontecer nessa data, atacando a população negra e pobre, ao invés de um evento público que marque a luta do povo negro brasileiro.
Também aqueles que pretendiam sair para realizar a segunda prova do Enem foram impedidos, pois o tiroteio começou antes das 5 horas da manhã e seguiu ao longo do dia. Mais uma vez, a população pobre sendo cerceada do direito de tentar alcançar o estudo universitário.
O morador do Jacarezinho não enfrenta somente a dificuldade da prova, ele precisa enfrentar um tiroteio antes de chegar ao local da prova. Um estudante relatou não ter conseguido sair de casa para fazer a prova do Enem: “Foi uma prova que eu planejava há meses, mas não pude fazer comparecer devido a essa guerra. Até pensei em sair, mas o tiro saía e voltava. No Jacaré estava dando tiro, no Manguinhos também, então de nada ia adiantar”, disse um estudante do Jacarezinho ao G1.
Os moradores protestaram
A população não sofreu passiva sob tiros. No domingo, terceiro dia de intensa ação policial, moradores foram para as ruas, queimaram pneus e fecharam os dois sentidos da via Leopoldo Bulhões, entre a Linha Amarela e Benfica, por duas horas. A esse fato a imprensa burguesa não deu a devida importância e repercussão para que esse exemplo não se multiplique.
Nesta segunda, a população já fez mais um ato de protesto contra as ações da PM. O que prova que o povo não aceita tantos ataques impunemente e que, com isso, está mais do que disposta a tomar as ruas para lutar por sua própria sobrevivência.
