Vassala da imprensa capitalista internacional, a imprensa brasileira ruma contra os interesses nacionais. Durante esta Copa, a campanha imperialista contra o Catar demonstra como a ideologia identitária imprime desgaste aos países oprimidos. O Catar, país que sediou mundial de clubes, Grandes Prêmios de automobilismo e motociclismo há muitos anos, agora foi descoberto pelo imperialismo como um Emirado, e todo Emirado que atente contra o menor interesse que seja do imperialismo, passa ser alvo de denúncias de ser uma “autocracia”.
Nesta era de disputa ferrenha por energia e com a brutalidade do avanço imperialista sobre o Oriente Médio, Rússia e China, entre outros territórios atrasados, a imprensa desempenha papel importante para propagar mentiras e desestabilizar países. No caso do Catar, temos, em tela, o país que teve o menor tempo para preparar uma Copa com tudo funcionando. Sem ter o que criticar, restou ao imperialismo utilizar supostas 6500 mortes durante as construções e criticar as leis do país, que utiliza a xaria em grande parte da Constituição .
Entretanto, para cumprir o doutorado em vassalagem, a Gazeta do Povo, por intermédio do colunista Fábio Canetti Galão [1], decidiu expandir a crítica a partir do conceito de sportswashing. De acordo com Galão, sportswashing é a prática de “receber grandes eventos da área para vender uma imagem positiva de um país (o chamado soft power) que na verdade é uma autocracia, não é novo – os prováveis primeiros casos ocorreram na década de 1930, quando a Itália fascista sediou a Copa do Mundo de futebol de 1934 e a Alemanha nazista, os Jogos Olímpicos de Verão de Berlim-1936″. O autor continua: “se o objetivo é sempre o soft power, entretanto, as edições dos dois eventos esportivos mais importantes do planeta, a Copa e as Olimpíadas, realizadas em autocracias nos últimos dez anos parecem indicar que o sportswashing não está mais funcionando”. (“Fiascos de Rússia, China e Catar mostram que a estratégia autocrática …”) .
Em primeiro lugar, todas as fontes utilizadas pelo autor são órgãos porta-vozes da imprensa imperialista, com interesses em desmoralizar e chantagear qualquer país que tente ser protagonista esportivo. Ele parte do poder brando para justificar sediar eventos esportivos, sendo que o esporte é uma das bases da própria organização da humanidade e do desenvolvimento das forças produtivas. Nesse sentido, sediar um evento de grande porte pode trazer grande desenvolvimento, e não é somente por causa do poder brando que determinado país vise ser sede de Copa ou Olimpíadas.
Em segundo lugar, a pinça do autor se move em direção dos países que mais preocupam os Estados Unidos, ou seja, Rússia e China. Galão afirma que os eventos esportivos acabaram piorando a “imagem” dos países ao invés de melhorar, acarretando enormes prejuízos. A Gazeta do Povo não considera que o poder brando (o soft power) é estabelecido pelos países imperialistas, que utilizam suas sucursais, como o pasquim de Curitiba, para reproduzir mentiras sobre “autocracias” etc. A China é o país que mais cresce no mundo. Em 2008, ano em que sediou as Olimpíadas, apresentou variação anual de 9,7% do PIB. Enquanto os Estados Unidos boicotavam as Olimpíadas, escalavam a guerra contra o Iraque e mergulhavam na crise dos subprimes, a China se desenvolvia a taxas condizentes com sede de Olimpíadas.
Como em toda imprensa vassala, a Gazeta entrevista professores que dão anuência e confirmação ao discurso que interessa aos Estados Unidos. “Em entrevista à Gazeta do Povo, Ana Flávia Pigozzo, professora do curso de negócios internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), apontou que o Catar pode até realizar um evento bem-sucedido do ponto de vista da organização, mas a tentativa de obter soft power aparentemente será um fracasso – muitos que não sabiam nada sobre a pequena nação árabe provavelmente agora têm uma impressão ruim dela”.
A professora “especialista” parece ter descoberto agora a monarquia catariana existe e não sabia que o país sedia diversos torneios internacionais. Na visão da especialista, o Catar “é um país que tem um potencial, mas também tem seus problemas. E essa exposição que ele teve acabou sendo prejudicial, porque mostrou uma realidade que talvez fosse melhor não ser mostrada […] quando você tem um evento dessa magnitude, o mundo inteiro volta os olhos para o país-sede. (“Fiascos de Rússia, China e Catar mostram que a estratégia autocrática …”) e isso deixa nítido o que tem de errado ali.”
O que os cínicos não levam em consideração é que uma superexposição de um país na imprensa capitalista independe de um evento da magnitude de uma Copa do Mundo, basta erguer um tema e o país da vez estiver em contradição com os interesses dos Estados Unidos. Neste caso, o movimento perfeito para o imperialismo era usar um emirado para fazer demagogia com o público rico LGBT que frequenta a Copa e que gostaria de provocar o povo daquele país com bebedeiras entre outros movimentos.
Estranhamente, a imprensa que utiliza o mote do Catar para atacar países dos BRICS, em contradição com os interesses dos Estados Unidos, não consideram (ou consideram) que o Brasil faz parte do grupo de países que frequentemente são acusados. Na Copa do Brasil, uma revolução colorida se fez para derrubar Dilma, inclusive com auxílio da Gazeta do Povo. Deste modo, podemos concluir que a imprensa vassala acredita que eventos esportivos não podem ser feitos no Brasil ou qualquer país que seja considerado autocrata pelo imperialismo.
Referências
[1] GALÃO, Fábio Canetti. Fiascos de Rússia, China e Catar mostram que a estratégia autocrática de usar o esporte deixou de funcionar. Em: Gazeta do Povo. https://www.gazetadopovo.com.br/mundo/fiascos-de-russia-china-e-catar-mostram-que-a-estrategia-autocratica-de-usar-o-esporte-deixou-de-funcionar/