A poesia e as artes são importantes para o espírito revolucionário? Trotsky foi profundo conhecedor da literatura, não apenas dos poetas e prosadores, mas de teoria literária; isso se evidencia tanto nas análises literárias feitas ao longo do livro “Literatura e revolução”, de 1924, quanto em suas polêmicas com os formalistas russos, colocando na berlinda os modelos teóricos de nomes hoje importantes na linguística moderna, tais quais Roman Jakobson. Rosa Luxemburgo, além de seus escritos marxistas, escreveu numerosas cartas enquanto esteve presa durante a primeira guerra mundial, quem já teve a oportunidade de lê-las sabe o quanto há de talento literário na autora; o próprio Lenin tinha vocação para literatura, há muito de prosa literária em seus escritos políticos; Plekhanov foi teórico da literatura, vale lembrar, bem mais competente que a maioria dos críticos estruturalistas e pós-modernos.
Não há apenas revolucionários com inspiração literária, pois a literatura está repleta de revolucionários, apenas para citar poetas modernos em língua portuguesa, vale lembrar de Patrícia Galvão, Agostinho Neto e Carlos Marighella; o nosso partido, o PCO, sempre valorizou a literatura em jornais, revistas e programas no YouTube, o próprio Rui Costa Pimenta, presidente do partido, em vários depoimentos já declarou sua vocação para literatura e sua devida formação na área; no programa Arte e Revolução, programa da COTv, a temática principal é a literatura.
Por tudo isso, gostaria de convidar os companheiros a participar, na próxima semana, nos dias 20 a 23 de setembro, do I Festival de Poesia na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo – FFLCH-USP –, do qual sou um dos organizadores. Durante a manhã, dos dias 20 a 23, ministrarei o minicurso “A semiótica da criação literária” das 10:00 às 11:40, na sala 261 do prédio de Letras – não há necessidade de fazer inscrição, basta aparecer para participar –; nos demais dias nossa programação será mista: (1) dias 20 e 21, haverá eventos presencias com participação dos poetas paulistanos, das 14:30 às 18:30, na sala 167, também do prédio Letras; (2) nos dias 22 e 23, na sala on-line https://meet.google.com/gmh-ubtu-oix, com poetas de todo Brasil. Eis a programação completa:
dia 20 set – presencial sala 167
(14:30 – 16:30)
Caco Pontes
Hélio Neri
Matisyahu Abramovitch
(17:00 – 19:00)
Marília Garcia Domingues
Indiara
Ave Terrena
dia 21 de set – on-line sala https://meet.google.com/gmh-ubtu-oix
(14:30 – 16:30)
Bellé Jr.
Andreia Gavita
Aline Cardoso
(17:00 – 19:00)
Anna Apolinário
Delmo Montenegro
Maurício Salles Vasconcelos
dia 22 de set – presencial sala 167
(14:30 – 16:30)
Edner Morelli
Edson Cruz
Mariana Godoy
presencial sala 167
(17:00 – 19:00)
Lilian Aquino
Horácio Costa
Djami Sezostre
dia 23 de set – na sala on-line https://meet.google.com/gmh-ubtu-oix
(14:30 – 16:30)
Simone Teodoro
Ingrid Carrafa
Anamaria Alves
(17:00 – 19:00)
Ricardo Escudeiro
Susanna Busato
Rogério Skylab
No dia 20, das 17:00 às 19:00, nossa companheira Marília Garcia estará presente no festival falando de política, liberdade de expressão e poesia, pois a Marília é outra revolucionária fazendo literatura; eis o poema “Vida Nova”, de sua autoria:
Um passo à frente pode ser o suficiente
Era uma noite de outono, o orvalho na janela.
O frio me levava para mais perto dos seus braços.
Estávamos deitados há algum tempo,
enquanto o relógio corria sem pressa.
Após bocejos e suspiros,
um beijo de boa noite
e só nos veríamos ao tocar do despertador.
Sono profundo, contínuo.
Sonhos tranquilos.
De manhã, o sol alto pedia um belo café na cama.
Desligar o despertador, tomar o desjejum.
O banho, as roupas, o carro.
Alguns amigos no trabalho diziam bom dia.
Mais café para acordar,
um telegrama. E as reuniões.
Decisões, tarefas, organização.
Passo a passo para grandes feitos.
A rotina tranquila escondia a constante renovação das coisas.
Maria caminhava todos os dias,
Mas sempre era uma nova caminhada.
O mundo ao seu redor se transformava sem pretextos
Era desigual
Todos os dias a lata do lixo se enchia
Todos os dias ela estava vazia,
O caminhão de lixo passando também sempre era desigual.
Seu Antônio corria todos os dias atrás do caminhão
Jogava as sacolas deixadas na rua,
Tomava posto na porta da lataria
Dia a dia era igual, banhava, saia, corria e corria
Mas sempre era diferente
O sol sempre se põe sob o mundo dos homens
Um sol, ora sereno, ora aterrador.
Deixando espaço ao luar misterioso do subúrbio da madrugada.
Onde os desfeitos de Joaquim tomam a meretriz após o turno da noite.
Nenhuma prioridade nos afetos, na política, ou no amanhã.
O dia a dia passa e devora os ossos humanos.
O vermelho do sangue é ralo, mas pinga gota a gota nas esquinas do tempo.
Não há momento para a decisão final,
mas a hora da sua chegada é como a morte.
Inevitável.