Diante da pressão que a imprensa golpista e os parasitas do mercado financeiro já exercem sobre o presidente eleito, é de se esperar que o governo Lula seja mais cedo ou mais tarde duramente atacado pela burguesia. Se as condições estiverem dadas, um novo golpe de Estado pode pintar no horizonte. Para enfrentar esse quadro, o presidente eleito precisa ter uma equipe confiável e principalmente o apoio popular.
Por isso a indicação de Flávio Dino (PSB) para chefiar o Ministério da Justiça causa grande preocupação para quem conhece um pouco do trabalho do ex-juiz. Após ser filiado ao PT entre 1987 e 1994, Dino atuou por 12 anos como juiz federal, uma função central na engrenagem política que mantém uma quantidade absurda de brasileiros atrás das grades. A partir de 2006 se filia ao PCdoB, até que em 2021 dá mais uma guinada à direita e entra no PSB.
Flávio Dino está muito longe de ser um aliado do PT e de Lula, ou de ser um político de esquerda verdadeiramente. A própria repercussão da sua indicação entre delegados deixa isso evidente, pelo menos duas notas de apoio foram emitidas, uma da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) e outra da Federação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (FENADEPOL). Dino é parte do monstruoso sistema de justiça brasileiro e nada indica que terá uma atuação menos antidemocrática dentro do governo Lula.
Durante os grandes atos Fora Bolsonaro, Flávio Dino chegou a sugerir que uma saída para o Brasil seria ninguém menos do que o vice de Bolsonaro na ocasião, o General Hamilton Mourão. Uma das principais críticas de Dino à Bolsonaro era a forma como ele se chocava com ministros do STF, como Barroso e Moraes. O STF, que chancelou o golpe de 2016 e que é peça importante para um futuro golpe, também deve ter adorado a indicação de Dino, pois a tendência é que seu reino de arbitrariedades seja plenamente tolerado.
Uma das suas indicações já teve que ser revertida após pressão do governo eleito. Para chefiar a Polícia Rodoviária Federal, o psbista havia escolhido um apoiador da Lava Jato, Dallagnol e da prisão de Lula, Edmar Camata. No entanto, Dino ainda mantém até o momento a indicação do Coronel Nivaldo Restivo para a Secretaria Nacional de Políticas Penais. Restivo não foi réu no farsesco julgamento do Massacre do Carandiru pois seus crimes prescreveram antes do julgamento. Agora, ganha de prêmio uma indicação para comandar o sistema prisional brasileiro, os aparelhos de tortura do Estado contra a população pobre.
Toda a trajetória de Dino mostra que o político é uma peça a ser utilizada pelo imperialismo contra o governo Lula. Um inimigo acolhido dentro da casa de um governo que tem um desafio imenso e já é pressionado desde a apertada vitória eleitoral. Integrando o mesmo partido do vice eleito, Geraldo Alckmin, Flávio Dino se materializa numa espécie de calcanhar de Aquiles do futuro governo Lula. Se a decisão for tomada em Washington, Dino será o facilitador da derrubada do governo que ainda nem assumiu.