Uma indígena de 55 anos, rezadeira e conhecida como Dona Joana, foi resgatada no sábado (5) da aldeia Campestre, onde foi mantida em cárcere privado junto com suas três filhas, todas menores de idade. Um vídeo que circula nas redes sociais mostra Dona Joana sendo ameaçada por um homem, que segundo testemunhas, é um capitão da polícia. O homem reconhecido por moradores como Vicente, grita com a senhora, a obriga a sentar no chão e corta parte do seu cabelo.
A equipe do observatório da Grande Assembleia das Mulheres Kaiowá e Guarani – Kuñangue Aty Guasu, que resgatou Joana Bennites, vinha acompanhando casos de ataques a vítimas acusadas de “bruxaria”. Segundo a equipe, o criminoso disse que Dona Joana seria queimada viva em frente a escola na comunidade da Soberania, no território de Nhanderu Marangatu, município de Antônio João/MS.
Resultado da expansão de igrejas evangélicas de extrema-direita, a violência por intolerância religiosa vem aumentando desde o golpe de 2016. Casos como o de Dona Joana não são raros. Segundo o relatório do O.K.A. (Observatório Kuñangue Aty Guasu) lançado no dia 1º de março de 2022, há uma campanha de perseguição por parte da extrema-direita, sobretudo a evangélica, contra as mulheres responsáveis por manter vivos os conhecimentos e hábitos tradicionais de suas aldeias.
“De novembro de 2020 a fevereiro de 2021, durante a construção do Mapa da Violência em campo, registramos 21 casos de espancamentos, torturas, violências psicológicas e perseguição de mulheres rezadeiras, nhandesys, que praticam o cuidado tradicional. Elas foram julgadas em público, suas casas foram queimadas, foram expulsas da comunidade, humilhadas, condenadas como ‘bruxas’ e ‘feiticeiras’.”
No mesmo dia do resgate, o site Midiamax publicou uma matéria denunciando casos de violência religiosa em sete cidades do MS, região marcada também por conflitos agrários. A bancada evangélica junto com a bancada ruralista somam muito poder no congresso e são responsáveis por massacres de características medievais no interior do país, mesmo que o Estado, teoricamente, seja laico.
O avanço da extrema-direita é uma ameaça para toda a população brasileira e afeta, como sempre, principalmente os grupos mais oprimidos. Nos campos, os povos indígenas, nas cidades, os moradores de favelas, em todos os lugares, os mais pobres. A formação de comitês de auto defesa é urgente e imprescindível na luta pela vida e garantia de direitos. Os indígenas precisam poder se defender com os mesmos recursos com que são atacados.