Elon Musk foi recentemente anunciado pela revista Forbes como o homem mais rico do mundo. Na mesma semana, o bilionário excêntrico abocanhou quase 10% do Twitter, talvez a rede social com maior influência sobre a opinião pública norte-americana – e mundial.
Musk possui mais de 80 milhões de seguidores no Twitter. Sua conta posta memes, fala muito sobre criptomoedas e ataca a esquerda identitária. Ademais, Musk faz pose de entendido em tecnologia e exalta as grandes “contribuições” de suas empresas à humanidade.
Às vésperas de sua aquisição, porém, Musk promoveu a seguinte enquete em seu perfil de grande alcance:
“Liberdade de expressão é essencial para uma democracia funcional.
Você acredita que o Twitter adere rigorosamente a esse princípio?”
70% dos dois milhões de usuários que interagiram com a enquete deram uma resposta negativa. A subsequente compra de parte do Twitter naturalmente gerou grande especulação.
É mais do que óbvio que direitos democráticos pouco interessam ao suposto homem mais rico do mundo – suposto porque sua “riqueza” é pura especulação. É possível que a aquisição tenha sido apenas uma forma de especular ainda mais com seus ativos. Do dia em que Musk promoveu esse espetáculo nas redes sociais até hoje as ações do Twitter se valorizaram em quase 20%. Musk é conhecido por veicular especulações sobre as empresas que controla no Twitter.
Se me permitem uma pequena especulação, eu acho que Musk almeja algum cargo político no futuro próximo ou comprou a rede social para impedir o próprio banimento. Imaginem o poder político que alguém que controla o Twitter teria numa campanha… Jeff Bezos – que acabou de ser ultrapassado por Musk na lista homens mais ricos do mundo – controla o jornal The Washington Post, mas acho que isso nem se compara ao controle de uma rede social.
De qualquer forma, um efeito colateral interessante dessa transação bilionária foi como ela mostra que o regime norte-americano é exatamente o que acusam o russo de ser: controlado por oligarcas. Redes sociais, fóruns públicos gigantescos de discussão, passam da mão de um bilionário para outro num piscar de olhos. Ao público resta torcer para que o novo dono seja um bilionário benevolente e democrático, o que é um oxímoro.
Me espanta que haja pessoas que torcem para que Musk “democratize” o Twitter, mas acho que é o outro lado da moeda da posição daqueles que acham que a sua opinião influencia quem os donos atuais do Twitter censuram ou não. Depois da “censura do bem”, agora devemos torcer pelos “bilionários do bem”.
