Em nova entrevista de Guilherme “nova esquerda” Boulos ao jornalista policialesco José Luiz Datena, fomos brindados com mais uma faceta do esquerdista queridinho da imprensa golpista. Ao saudar o convidado, Datena fez questão de destacar que não gosta do comunismo e que isso não seria um problema na sua amizade com Boulos, pois o mesmo não seria comunista.
Como de praxe, Boulos permaneceu com seu semblante reticente e não desmentiu o apresentador. No ano passado, em outra entrevista chapa branca com o direitista Boulos também fez uso do silêncio após Datena revelar que Boulos o havia convidado para ser seu vice. Mesmo sem especificar para qual candidatura do carreirista, se para a prefeitura ou para o governo de São Paulo, chamou a atenção do público o nível de intimidade demonstrado entre um suposto “esquerdista radical” e um raivoso apologista da violência policial.
Para além do constrangimento produzido nessas situações, Datena tem ajudado, mesmo que a contragosto, a expôr o psolista. Como destacado recorrentemente neste Diário, Boulos surgiu na política nacional durante as manifestações pelo “Não Vai Ter Copa”, que se colocava abertamente contra o governo federal em um momento de pleno desenvolvimento da campanha golpista que culminou no golpe de Estado dois anos depois.
A imprensa golpista abraçou o futuro candidato a qualquer coisa ao ponto de conceder uma coluna da Folha de São Paulo onde Boulos desferia seus ataques ao governo Dilma. Concluindo com isso seu papel de destaque na ala esquerda do golpe. Pouco após a derrubada do governo petista, o carreirista perdeu sua coluna no jornal, missão cumprida.
O regime político brasileiro pós-golpe se mostrou muito instável, com o derretimento da direita tradicional. Incapaz de emplacar uma candidatura capaz de retomar o controle do governo federal e estabilizar o regime político brasileiro pós-golpe, a burguesia investiu na conhecida pulverização do voto esquerdista. Ou seja, diante da crise dos seus representantes “puro sangue”, a burguesia estimulou esquerdistas para roubar votos do PT e permitir uma eleição apertada, mais facilmente manipulável.
Guilherme Boulos tem cumprido essa tarefa sistematicamente, se lançando à disputa presidencial de 2018 enquanto Lula ainda era candidatado pelo PT e, dois anos depois, ajudando a tirar o PT do segundo turno das eleições municipais em São Paulo. Tudo sob os aplausos da imprensa golpista, que repetidas vezes anunciou o carreirista como sendo o futuro da esquerda, afinal um esquerdista sem a mácula de fazer parte do maior partido da esquerda nacional.
Como explicitado por Datena, Boulos não é comunista. Diante da sua atividade política concreta, até mesmo o rótulo de esquerdista pode ser colocado em suspeição. Para alguém apresentado como à esquerda do PT, Boulos tem relações íntimas demais com a burguesia nacional e no mínimo relações indiretas com o próprio imperialismo, como na sua atuação no IREE e no próprio “Não Vai Ter Copa”. Essas relações e sua atuação mostram porque Boulos é promovido pelos monopólios da comunicação contra o resto da esquerda. Um “radical” que não incomoda os inimigos do povo.