A SAF (Sociedade Anônima de Futebol), que significa, na prática, a entrega do setor de futebol de um clube a um capitalista individual, é constantemente apresentada pelos jornalistas burgueses como a solução para os times que estão passando por dificuldades financeiras. É muito comum ver, principalmente entre os funcionários do Grupo Globo, a defesa de que essas privatizações trariam aportes financeiros, que recuperariam o clube.
Em primeiro lugar, é preciso analisar o básico da atuação burguesa no mercado. A burguesia não compra ações no mercado, muito menos ações dos clubes de futebol, por caridade; o objetivo é extrair não só o lucro simplesmente, mas sim o máximo de lucro possível. A burguesia, no mercado financeiro, só compra ações se puder especular e obter lucros exorbitantes. E o mesmo ocorre quando um grupo de capitalistas compra um clube de futebol.
O Cruzeiro, clube mineiro centenário, foi comprado pelo ex-jogador Ronaldo Fenômeno. O objetivo dele, logicamente, é extrair o máximo de lucro possível. E ele extrairá tal lucro do Cruzeiro, ele especulará em cima do clube – com a venda de jogadores, com os patrocínios adquiridos, etc.
Ou seja, após um investimento inicial, o clube será sugado pelos verdadeiros vampiros do mercado financeiro. Esse cenário não é novo: aconteceu, por exemplo, com o Figueirense, cuja privatização deu tão errado que a empresa precisou devolvê-lo aos torcedores. E esse é o caminho natural de todos clubes que viram SAF, que dão seu futebol a um capitalista ou a um grupo de capitalistas, que possuem interesses estranhos ao do avanço do futebol e da equipe.
A velha tática das privatizações
É comum, quando a burguesia quer vender um patrimônio nacional, ela sucateá-lo amplamente. É o que tem feito, por exemplo, com os Correios; é o que fez com a CEDAE, empresa de águas no Rio de Janeiro, etc. E é o que ela tem feito com os clubes de futebol.
O Cruzeiro, que havia sido bicampeão brasileiro, campeão da Copa do Brasil e tinha acumulado sucessos na década, sendo um dos favoritos para o título do Campeonato Brasileiro de 2019, foi rebaixado justamente no Brasileirão daquele ano – para a surpresa de todo mundo.
A Globo chegou a fazer matéria no Fantástico, durante o ano de 2019, em que a Raposa era favorita ao título, contra o clube; houve uma grande propaganda direcionada a acusar a direção cruzeirense de corrupção. Acabou que o clube foi rebaixado no ano em que era favorito; em 2020, jogando a Série B, a FIFA puniu o clube com a perda de 6 pontos, que quase o rebaixou para a Série C, com a desculpa de uma transferência irregular.
Em 2020, o Cruzeiro, apesar do boicote da FIFA, conseguiu ficar na Série B – o que já é um péssimo resultado para o clube. Em 2021, mais boicote. E o clube se manteve na Segunda Divisão.
Ou seja, a burguesia rebaixou o Cruzeiro artificialmente em 2019, boicotou-o em 2020 e em 2021, mantendo o clube na Série B. Agora, a burguesia o compra por um preço mais baixo: isto é, a burguesia sucateia uma instituição para comprá-la por um preço inferior.
E isso não aconteceu só com o Cruzeiro: entre os grandes, o Botafogo também foi vítima do mesmo processo e foi privatizado. No Vasco, o presidente que chegou lá pela via do judiciário burguês e não pela eleição, rebaixou o Clube em 2021 (temporada de 2020) e o manteve na Série B montando um péssimo elenco. Não é coincidência que se trata justamente do presidente que quer privatizá-lo.
A burguesia quer realizar uma completam sangria contra o Cruzeiro
Recentemente, um porteiro que recebia R$ 1,1 mil mensais entrou na Justiça contra a SAF Cruzeiro, pedindo R$ 19 mil em salários atrasados. E a SAF se pronunciou dizendo que não tinha dinheiro para pagar e se recusava a qualquer acordo.
Além de a SAF representar, em todos os clubes, o completo descaso contra seus funcionários, ela representa também o ataque contra as finanças do clube em benefício dos capitalistas individuais. Transformar os clubes brasileiros em SAF consiste numa movimentação de toda a burguesia de conjunto contra o futebol nacional, inclusive e principalmente do Judiciário e do monopólio dos meios de comunicação. Uma política operária para a questão é a política de oposição completa à SAF, assim como a defesa de que os clubes devem ser controlados pelos torcedores, torcidas organizadas e funcionários.