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Crise da Nova Esquerda

Chile rejeita constituição identitária e o caso Safatle

O povo não quer que o identitarismo governe suas vidas e disse não ao imperialismo e à Nova Esquerda, que está em crise profunda

O conteúdo político do oportunismo e do social-chauvinismo é o mesmo: a colaboração das classes, a renúncia à ditadura do proletariado, a renúncia às ações revolucionárias, o reconhecimento sem reservas da legalidade burguesa, a falta de confiança no proletariado, a confiança na burguesia (Lenin, 1916. O oportunismo e a falência da II Internacional)

Muitos oportunistas e ingênuos ainda se perguntam sobre os motivos da proposta de nova constituição chilena ter sido rechaçada. Aqui no Brasil, a Nova Esquerda, uma forma de oportunismo ainda mais contrarrevolucionária, anti-operária e pró-imperialista que os fabianistas ingleses e os sociais democratas alemães da época de Lenin. A equipe do Blog Internacionalismo fez um debate em seu programa, o Mundo em 1h, a qual precisa ser aprofundado para evitar esse tipo de cavalo-de-troia no Brasil.

O 11 de Setembro de Gabriel Boric - O Mundo em 1 Hora #89 (Podcast)

Personagens como Vladimir Safatle, uma das vozes ideológicas desse movimento da Nova Esquerda latino-americana, até o momento não compreendeu que os trabalhadores conseguem discernir uma operação que vai torná-los reféns de uma nova ditadura, e que fatiaria o Chile, um dos territórios mais importantes do mundo, em pedaços. A ideia de “plurinacionalidade no Chile”, uma das propostas da Constituição, seria nefasta para o país, proporcionaria o assalto total do território, o país mais estreito do mundo, com uma das maiores faixas litorâneas, rico em minérios, especialmente cobre e lítio, em pleno Pacífico.

Safatle, um dos ideólogos mais entusiasmados com Gabriel Boric, afirma que o resultado do rechaço à constituição do Apruebo Dignidad foi catastrófico e surpreendente. O ideólogo não conseguiu dimensionar e compreender o que há de nefasto na constituição, lamentando especialmente o “não” a um Estado “plurinacional”, que ele atribui como uma “invenção boliviana”, sendo que existem outras federações plurinacionais não artificiais como é o caso da Rússia, além da República Popular da China. Assista aqui a entrevista.

Essa ideologia aventada por Safatle entre outros ideólogos, que falam em “cosmopolitismo”, “povos originários” e o verdadeiro “bom viver”, práticas que fundem anarquismo e oportunismo, ao mesmo tempo visam orquestrar o arsenal teórico “decolonial” (cria da ONU, com Alberto Quijano na América Latina), a um combate do que chamam de colonialismo nas “mentes” e “eurocentrismo”. A pretexto disso, não lutam pelos trabalhadores, mas por paridade “diante da diversidade”, enquanto o imperialismo avança. Uma mostra pode ser vista também nesse vídeo curto.

Safatle propõe que até mesmo que o Brasil seja “plurinacional”, contrariando o princípio constitucional brasileiro de indivisibilidade do território (e propor o separatismo é crime), mas, para além da institucionalidade, na prática Safatle quer facilitar a entrega do país aos estrangeiros, já que a ele, basta ser um ideólogo do imperialismo, das forças políticas favoráveis a arrasar com nossa economia e nossa história.

A Nova Esquerda entra em seu ciclo de decadência e dá mostras de como sabotar a luta dos trabalhadores

A chegada de Gabriel Boric, e da Frente Ampla chilena ao governo, renovou as esperanças da esquerda rosa, tudo porque o imperialismo fez um grande trabalho de propaganda, utilizando todos os mecanismos de dominação possíveis. A Nova Esquerda, uma maquinação do imperialismo contra os trabalhadores, que serve para destruir os países sem utilizar canhões. A Nova Esquerda foi produzida nas universidades dos Estados Unidos, Inglaterra e França e se espalhou pelo mundo, chegando a seu ápice na Espanha, quando encontrou na língua espanhola, uma forma de entrar posteriormente na América Latina.

Com pautas que não são feitas para os trabalhadores, a Nova Esquerda tem como cerne o movimento identitário: feminismo; multiculturalismo; ambientalismo; movimento LGBT; decolonialismo. Pautas sobre “direitos coletivos”, direitos humanos e dívida histórica colocaram esses movimentos em colisão com países atrasados nacionalistas, como a Venezuela e Nicarágua, além de todos os regimes em conflito com os interesses do imperialismo.

Com esses atributos, oriundo de um movimento social artificial, altamente financiado pelo próprio imperialismo, foi que Gabriel Boric se tornou a esperança para parcela da esquerda chilena. Contudo, Boric foi eleito para uma missão pouco edificante para alguém que se coloca à esquerda do espectro político, que é justamente refrear a luta popular, com a manutenção da economia neoliberal.

Freios ao processo revolucionário chileno

Boric, eminência parda do movimento estudantil chileno – patrocinado pelo Partido Socialista, braço imperialista da falsa social-democracia chilena, liderado por Michelle Bachelet -, subiu em carros de sons entre diversos representantes de esquerda, diante das manifestações, e passou a discursar mais diretamente aos estudantes e às classes médias.

Boric e seu partido artificial, o Convergencia Social (CS) [1], braço do Podemos da Espanha e do PSOL do Brasil, organizou um movimento liquidacionista. O movimento passou a contar com comícios eleitorais ao invés de constitucional e revolucionário, todos os oportunistas capitalizaram. 

Bandas históricas como o Inti Illimani (“El pueblo unido jamás será vencido”) tocaram para um milhão de pessoas, enquanto as periferias organizavam barricadas contra o golpe dos “amarelos” (liderado por Cristián Warnken) e o movimento Autonomista (que se fundiu aos “libertários” e criou o partido CS de Gabriel Boric). Em toda Santiago, explosões sociais aconteciam, enquanto o movimento feminista pago com dinheiro do imperialismo distraía o mundo do problema concreto no Chile, tais como disparada da inflação, do desemprego e da ditadura de Piñera. O movimento feminista arregimentou o coletivo La Tesis (do endereço da conta de Instagram, abaixo) para performar a música “Un violador en tu camino”, como demonstramos anteriormente neste Diário. Pouco a pouco, o movimento revolucionário se dispersou pelo desânimo popular, pelo fortalecimento dos Carabineros e pela repressão do governo Piñera durante a pandemia, que atuou ainda mais fortemente que João Dória para manter o povo em casa.

https://www.instagram.com/p/Bp0gSK3jaZ8/?utm_source=ig_web_copy_link
Postagem do grupo La Tesis, das performances que rodaram o mundo, contra o marxismo.

Seis meses de fracasso econômico e político

Em seis meses de governo, Gabriel Boric demonstrou ter sido a aposta correta do imperialismo. Com ele foi possível manter a roda especulativa financeira de permanecer rodando. 

A taxa de variação anual do Índice de Preço ao Consumidor (IPC) no Chile, em agosto de 2022, foi de 14,1%, 10 décimos superior à do mês anterior. A variação mensal do IPC (Índice de Preços ao Consumidor) tem sido de 1,2%, de modo que a inflação acumulada em 2022 é de 9,9%. São os piores índices em 28 anos. A situação vem piorando mês a mês, levando a diversos protestos pelo país, principalmente de indígenas, os mais pobres, e os estudantes, parcela da população que se sente mais traída por Boric.

A taxa de desemprego no Chile situou-se em 7,8% durante o trimestre móvel abril-junho de 2022, de acordo com as informações registradas na Pesquisa Nacional de Emprego (ENE), elaborada pelo Instituto Nacional de Estatística do Chile (INE). O valor significou um decréscimo de 1,7 pontos percentuais (pp.). Apesar do decréscimo, os índices são altos e Boric não tem plano B, pois o acordo que ele tem com a banca internacional é manter o Banco Central no governo, no campo econômico.

Boric também vem frenando o processo de industrialização chilena em nome da energia limpa, sacrificando milhões de trabalhadores e o desenvolvimento chileno. Não se posiciona firmemente contra a privatização da Codelco e o país vem sofrendo para desenvolver diversos setores industriais.

Proposta de constituição identitária. Por que a Nova Esquerda falhou?

A constituição de Boric era profundamente antipopular, pró-imperialista e, a pretexto de ser “plurinacional” acaba sendo um manifesto ao anarquismo e ao fim do Chile. Embora manifestado que o Chile é indivisível, a constituição não propunha soberania, independência, fortalecimento do Chile, ao contrário, além da fragmentação territorial, fazia do país um território internacionalizado. Vamos aos pontos críticos:

Estado plurinacional e ecológico

O primeiro artigo evoca a síntese do identitarismo, todo o conto de fadas da Nova Esquerda. Diz o artigo 1 do capítulo primeiro “Chile es un Estado social y democrático de derecho. Es plurinacional,
intercultural, regional y ecológico”. Para se ter uma ideia da esquizofrenia, a constituição brasileira, cheia de problemas e remendada em vários princípios, traz no início a soberania nacional como primeiro “Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I – a soberania”. Não é possível romper os grilhões do pinochetismo sem se libertar do neoliberalismo, e não evocar soberania de início, facilita muito o trabalho do imperialismo. O artigo 7º não garante, em absoluto, a não fragmentação.

O reconhecimento de 10 nacionalidades indígenas, cada qual gerindo de forma autodeterminada, com um sistema judiciário em cada nação, um senador e deputados regionais, não significa equidade, pois concretamente não se dispõe das bases materiais para a existência dessas regiões autônomas. Atualmente, a população indígena é de 12% da população chilena e estão majoritariamente vivendo nas metrópoles, enquanto os territórios originários estão dispersos por desertos e regiões minerais, onde há dificuldades de sobrevivência nas atuais condições civilizatórias, concretas.

Povos originários do Chile – Wikimedia Commons

O artigo 6º é totalmente problemático com a ideia de paridade. Forçariam uma paridade que certamente contaria com os elementos mais repugnantes para o trabalho junto à burguesia. “El Estado promueve una sociedad donde mujeres, hombres, diversidades y disidencias sexuales y de género participen en condiciones de igualdad sustantiva, reconociendo que su representación efectiva es un principio y condición mínima para el ejercicio pleno y sustantivo de la democracia y la ciudadanía. Todos los órganos colegiados del Estado, los autónomos constitucionales, los superiores y directivos de la Administración, así como los directorios de las empresas públicas y semipúblicas, deberán tener una composición paritaria que asegure que, al menos, el cincuenta por ciento de sus integrantes sean mujeres…”.

Trata-se de uma armadilha, haja vista que as parcelas mais frágeis na sociedade são justamente aquelas que precisariam ter um fortalecimento de sua educação, do direito à saúde e, principal, o trabalho digno, o emprego. O Chile é um país atrasado, e, como tal, demanda investimentos importantes para retirar as pessoas do desemprego e da indignidade, antes de lançar possíveis laranjas a cargos públicos.

Boric lança uma das maiores ideologias de nosso tempo com essa constituição, o chamado “direito da natureza”: “Artículo 103 – La naturaleza tiene derecho a que se respete y proteja su existencia, a la
regeneración, a la mantención y a la restauración de sus funciones y equilibrios dinámicos, que comprenden los ciclos naturales, los ecosistemas y la biodiversidad. El Estado debe garantizar y promover los derechos de la naturaleza”. Se o Estado garante o direito da natureza, quem a defenderá serão pessoas, com interesses. Quem seriam os donos do direito da natureza, as ONGs?

Existem pontos para ser comentados em mais de um artigo para este Blog, porém, ressalta-se que não há defesa dos trabalhadores, do direito de fato à educação de qualidade, não garante totalmente a gratuidade do ensino nem da saúde, e organiza um sistema judiciário mais inchado, com nomes bonitos como “Defensoría del Pueblo”, o que faz parte dos cacoetes da Nova Esquerda, que tem na demagogia, a sua política em favor dos interesses neoliberais e do imperialismo.

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