Na última sexta-feira, 14, o cantor Seu Jorge, ao se apresentar em um clube de elite em Porto Alegre sofreu ataques racistas de alguns membros da plateia que o chamaram de “macaco” e imitaram o som do animal. O caso revela o que pensa a burguesia sobre a população negra brasileira, mesmo indo a um show do cantor o consideram inferior por ser negro a ponto de ofender o artista. Se até mesmo a população negra com uma riqueza e destaque sofre opressão, a classe operária negra, então, é completamente massacrada pelo capitalismo.
Jorge Mário da Silva, mais conhecido como Seu Jorge, é um famoso cantor de samba do Rio de Janeiro, nascido na cidade de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, onde Lula fez um comício há pouco tempo.
Em outros momentos, Seu Jorge já denunciou o racismo que sofreu, por exemplo na Europa quando morou na Itália. Ele, como artista, e não um militante político, não tem uma posição muito bem definida mas, sendo da comunidade negra brasileira, se colocou em vários momentos a favor de pautas da luta do povo negro. No próprio show em caso, ele se colocou contra a redução da maioridade penal, uma política da direita para aumentar a repressão contra a juventude negra, que já é gigantesca.
Ele disse: “Quando a gente olha para um garoto de 15 anos, adolescente, e ele é branco, a gente continua vendo um adolescente. Mas, muitas das vezes, quando a gente olha para um adolescente negro de 15 anos, a gente, muitas das vezes, a gente pensa em redução da maioridade penal”. Seu Jorge tendo passado sua juventude como um operário em Belford Roxo, uma das cidades com maior repressão policial do Rio de Janeiro, consegue entender bem a realidade da juventude negra nos dias de hoje.
Seu Jorge também se pronunciou sobre o caso após o show: “Era um jantar de gala com pessoas muito bem-vestidas, praticamente nenhuma pessoa negra no jantar, apenas os funcionários. Ouvi dizer que estavam proibidos de olhar para mim ou falar comigo. Mas falei com todos ao fim e tirei fotos com todos. Atrás do palco comecei a escutar vaias e xingamentos e percebi que não seria possível voltar para fazer o famoso bis, retornei ao palco para me despedir. Ouvi muito ódio e muita grosseria racista, mas sei que estamos mais unidos que nunca e que vamos vencer a guerra que segrega nosso povo a miséria e a falta de oportunidade.”
O relato é importantíssimo para esclarecer o seguinte: o público do show consistia da juventude da pequena burguesia mais rica e da burguesia de Porto Alegre, ou seja, sua reação expressa o verdadeiro pensamento dessa classe social. Seu Jorge por sua vez se solidarizou com os trabalhadores da casa de festas, dada as suas origens, e ainda analisou de forma acertada a situação do negro no Brasil. Uma enorme população condenada à miséria e à falta de oportunidades, de acesso à educação e ao emprego nas periferias e favelas, além dos trabalhadores do campo.
A burguesia usa o seu discurso identitário demagógico como uma folha de parreira para encobrir o seu verdadeiro pensamento a respeito do povo negro. Ela acha os negros seres inferiores, que devem ser exterminados pois são a maioria pobre da população e representam um perigo para a sua dominação. Além disso, como os negros sempre foram escravizados e explorados, a burguesia usa essa questão para justificar a exploração atual do povo negro no mercado de trabalho e na sociedade, vivendo nos piores ambientes e exercendo as piores profissões. Para a burguesia, os negros são macacos. Tudo o resto que ela fala, sobre empoderamento e diversidade, não passa de uma farsa. A burguesia é uma classe social abjeta.
Outra característica do acontecimento foi que os ataques racistas foram seguidos de cantos em apoio a Bolsonaro, o que revela o caráter de grande parte do seu eleitorado. Apesar de ter conquistado uma popularidade em camadas trabalhadores devido à falta de presença da esquerda, por realizar ataques contra o PSDB e por ter promovido auxílios sociais para ganhar votos na eleição, a base principal de Bolsonaro não são esses trabalhadores. A sua base mais fiel, ideológica, é a pequena burguesia reacionária e os capitalistas nacionais.
A população negra e trabalhadora em sua maioria tem Lula como seu candidato, foi o que foi visto nos atos do Rio de Janeiro. Lula esteve no Complexo do Alemão, algo que Bolsonaro só conseguiria fazer com um enorme aparato repressivo da polícia para garantir sua segurança. Lula esteve nas ruas, quase nos braços do povo, não só isso como ele esteve e estará em outras regiões da periferia do Rio de Janeiro. Em Salvador, maior concentração de negros fora da África, o comício de Lula foi o maior do Brasil até agora.
Assim, fica mais uma vez evidente que o candidato dos pobres, dos negros e dos trabalhadores é o ex-presidente Lula. Bolsonaro, apesar de toda a sua demagogia, é o candidato que representa os setores mais atrasados e reacionários da sociedade, particularmente os interesses da pequena burguesia fascista e da burguesia nacional dependente do imperialismo.
O caso Seu Jorge deixa claro que a luta pela libertação do negro segue e precisa ser organizada. E não só isso como ela está inserida dentro da luta de classes, entre a burguesia e a classe operária, que nesse momento se expressa nas eleições. De um lado o candidato da burguesia, dos capitalistas que querem esmagar a população negra para garantir seus lucros. De outro o candidato operário, candidato das favelas, dos trabalhadores rurais sem terra, dos trabalhadores negros de toda a nação. A luta do negro hoje passa pela luta por Lula presidente.