Após a derrocada da terceira via nas eleições presidenciais, isto é, da alternativa que o setor mais importante da burguesia brasileira e do imperialismo tentaram impor ao país, a burguesia de conjunto, antes dividida entre Bolsonaro e a terceira via unifica-se para o segundo turno sob a bandeira da reeleição de Bolsonaro. Bolsonaro é nesse momento o candidato da burguesia nacional e do imperialismo. Os números do financiamento da campanha de Bolsonaro mostram claramente a posição política da burguesia.
Bolsonaro foi o candidato que mais recebeu doações (pessoa física) nessas eleições. São mais de R $85 milhões de reais desde o início do pleito. Desse montante, mais de R $60 milhões foram doados no segundo turno das eleições, mostrando claramente o deslocamento da burguesia no segundo turno. Existem 163 doações (pessoa física) de R$100 mil reais ou mais, as 7 maiores estão na casa do R$1 milhão de reais.
Grandes capitalistas nacionais doaram para Bolsonaro em um grande esforço da burguesia para elegê-lo, somado aos recursos do fundo partidário e os recursos do Estado brasileiro que Bolsonaro utilizou para sua campanha, auxílios, etc., Esta deve ser a campanha mais cara da história do país. Soma-se a isso na iniciativa da burguesia de conjunto em pressionar e coagir os trabalhadores para votarem em Bolsonaro ou não ir votar, já existem centenas de denúncias no Ministério Público do Trabalho.
Os 10 principais doadores da campanha de Bolsonaro são os empresários Bolsonarista já conhecidos. Conforme a justiça eleitoral, o ranking está assim:
- Fabiano Zettel (advogado e pastor) – R$ 3 milhões
- José Salim Mattar (empresário, Localiza) – R$ 1,8 milhão
- Hugo de Carvalho Ribeiro (agronegócio) – R$ 1,2 milhão
- Luciano Hang (empresário, Havan) – R$ 1,022 milhão
- Alexandre Grendene (empresário, Grendene) – R$ 1 milhão
- Cornelio Sanders (agronegócio) – R$ 1 milhão
- Oscar Cervi (agronegócio) – R$ 1 milhão
- Pedro Grendene (empresário, Grendene) – R$ 1 milhão
- Jorge Eduardo Beira (empresário, Ypê) – R$ 750 mil
- Ralph Whitaker Carneiro (mercado financeiro) – R$ 650 mil
Alguém poderia objetar que se trata não da burguesia de conjunto, mas apenas do setor Bolsonarista, que a burguesia não está unida em torno da campanha de Bolsonaro, uma vez que os banqueiros e os industriais não entraram em peso nas doações. Vejamos então a situação do candidato concorrente, o ex-presidente Lula.
A campanha do ex-presidente Lula amealhou 47 vezes menos que Bolsonaro. As doações para o ex-presidente Lula não chegam nem perto dos mais de R$85 milhões de Bolsonaro, em realidade a soma ficou em apenas R $1,7 milhões de reais doados por pessoas físicas, uma soma irrisória considerando que o PT tem mais de 2 milhões de filiados. A diferença abismal tem uma significação política importante.
A campanha do ex-presidente Lula não tem apoio algum da burguesia brasileira ou internacional. Por outro lado, se os banqueiros não apoiaram pessoalmente a campanha Bolsonaro é por não poder ser publicamente identificado com candidatura Bolsonaro, se efetivamente fosse contra tenderiam a deslocar seu esforço monetário para candidato concorrente, o que efetivamente não aconteceu.
A burguesia está com Bolsonaro e viabilizam financeiramente sua campanha, e mesmo os setores do grande capital que procuraram viabilizar a terceira via, plano que foi fracassado, deslocaram-se novamente, como em 2018, para o campo do Bolsonarismo, embora de uma maneira um tanto mais discreta. Esse setor da grande burguesia pretende ainda recriar o chamado centro político, isto é, os partidos tradicionais da burguesia pró-imperialista, implodidos pela polarização.
A operação política exige que esse setor da grande burguesia apresente uma diferença com o bolsonarismo, tendem a apelar para a esquerda em geral, tentando utilizá-la como base para sustentação dessa reconstrução, isto é, criar a ideia de que existe uma direita “civilizada”, democrática, diferente do bolsonarismo. Em realidade são tão podres quanto o bolsonarismo, mas não querem parecê-lo. Esse é o sentido dos setores capitalistas (Tebet, Alckmin, etc.) dentro da campanha do ex-presidente Lula; não se trata de trazer um setor dos capitalistas para o campo candidatura Lula, como muitos ingênuos acreditam, mas de operacionalizar o reerguimento deste centro político, dando destaque na esquerda para direitistas que não são em nada melhores que o bolsonarismo, mas que se apresentam como democratas, como o caso da Simone Tebet, que já se aventa a possibilidade, alguns dizem até a obrigatoriedade, de Lula apoiar Tebet em futura candidatura.
A burguesia está com Bolsonaro de maneira pública ou privada, Lula conta apenas com os trabalhadores, que é o mais importante e poderoso apoio.
