Com a chegada da posse de Lula, surgiram diversos rumores na imprensa burguesa que afirmam que Bolsonaro não participará da cerimônia e, consequentemente, não passará a faixa presidencial para o presidente eleito.Em vez disso, o futuro ex-presidente viajará aos Estados Unidos, onde passará alguns meses ou no resort de Donald Trump, ou na casa de amigos em Orlando. Nada disso, todavia, foi confirmado até o fechamento desta matéria.
Frente a isso, setores da esquerda pequeno-burguesa e da própria imprensa burguesa vêm afirmando que Bolsonaro estaria fugindo do Brasil para se prevenir de, nos primeiros dias do governo Lula, ser preso. Seria esse, de fato, o motivo de sua suposta viagem?
Até o momento, nem o governo eleito, nem o Supremo Tribunal Federal (STF) indicaram que irão, efetivamente, tentar prender Bolsonaro. Finalmente, seria uma ação extremamente problemática, pois criaria uma animosidade entre setores bolsonaristas que não podem ser ignorados. Parece que, até o momento, as forças que conseguiriam efetivar essa prisão estão levando esse problema em consideração.
Afinal, se a situação política já está tensa o bastante simplesmente porque Bolsonaro perdeu as eleições – bloqueio de estradas, manifestações ininterruptas em frente aos quartéis generais, queima de ônibus e carros etc. -, se prenderem Bolsonaro, a coisa irá adquirir proporções ainda maiores, tornando-se, possivelmente, uma crise política gigantesca logo nos primeiros dias de governo Lula.
Na última semana, por exemplo, surgiram uma série de casos de pessoas deixando explosivos em locais públicos para criar “o caos”, nas palavras de um dos apoiadores de Bolsonaro que queria explodir uma bomba nos arredores do aeroporto de Brasília. Imagina o que aconteceria se Bolsonaro fosse preso.
Decerto que, caso uma onda de ataques a bomba e outros tipos de armas se iniciassem no País, as forças repressivas do Estado teriam as condições necessárias para reprimir tais manifestações. Entretanto, a partir daí, a crise política no Brasil atingiria um patamar muito maior do que o atual. A presença de grandes parcelas bolsonaristas no próprio aparato repressivo, por exemplo, seria motivo de complicação, algo que não está nos interesses de Lula e de seu governo.
Outra prova de que Bolsonaro não está sob perigo iminente de ser preso é o fato de que, apesar das manifestações bolsonaristas em Brasília, que tentaram invadir a sede da Polícia Federal e atearam fogo a carros e ônibus, apesar das ameaças de bombas que estão surgindo nas últimas semanas, poucas prisões estão sendo efetivamente feitas. Caso o STF e demais instituições governamentais estivessem procurando uma justificativa para encarcerar todo mundo, a situação descrita seria perfeita e, mesmo assim, não foi utilizada. A atitude é, de maneira geral, de cautela, a política do Supremo não é de repressão geral, mas sim, de controle de danos.
Por fim, a derrota da extrema-direita só pode ser atingida por meio da mobilização popular dos trabalhadores. “Varrer” o bolsonarismo não pode ser feito por meio das instituições do Estado burguês, como defende parte da esquerda pequeno-burguesa. Uma vez que, ao invés de desmoralizar, esse tipo de coisa mobiliza a base de Bolsonaro, que tende a responder mais ou menos na mesma intensidade do ataque.
A derrota de toda e qualquer força reacionária se dá por meio da luta política, e não da repressão. Esta tende, antes de qualquer coisa, a radicalizar as bases da extrema-direita o que, como foi visto, apenas piora a situação e cria ainda mais dificuldades para que a classe operária possa levar adiante a sua luta. Algo que deve ser evitado pelo governo Lula.