Após a votação mais acirrada de toda a história da República brasileira, Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito, pela terceira vez, presidente do Brasil. Anterior a isso, viu-se uma intensa mobilização por parte da burguesia enquanto classe que, de maneira escancarada, tentou emplacar Bolsonaro. Para tal, montaram uma grande operação de coação patronal que rendeu milhares de denúncias, além de toda a gastança de Bolsonaro que, utilizando o Estado, instituiu de maneira completamente oportunista “programas sociais” para comprar votos com bilhões de reais.
O mais escancarado, todavia, foi a operação da Polícia Rodoviária Federal (PRF) que, no dia da eleição, bloqueou o acesso de dezenas de milhares de eleitores de Lula, efetivamente impedindo-os de registrar os seus votos. A isso, diga-se de passagem, Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e grande “defensor da democracia” – pelo menos segundo a imprensa burguesa -, nada fez. Limitou-se a conversar com o diretor da PRF e, depois, dar anuência total à operação criminosa.
Ou seja, fica claro que a vitória de Lula se concretizou independente dos interesses da burguesia. Finalmente, foi resultado da luta incansável da classe operária brasileira que, principalmente depois do primeiro turno, foi convocada a pintar as ruas de vermelho para garantir a derrota dos golpistas nas eleições deste ano.
O povo, que defendeu Lula na prática, o escolheu como seu representante de luta contra o neoliberalismo, os banqueiros, o imperialismo e, de maneira geral, contra a burguesia. Votou no petista não porque queria impedir Bolsonaro de chegar ao poder, mas sim porque enxerga no presidente eleito o começo da solução de seus problemas que, depois do golpe, só aumentaram.
Frente a essa derrota imensa, a burguesia, tentando garantir que seus interesses sejam atendidos, está realizando uma ampla campanha para pressionar Lula a ir cada vez mais à direita, adotando o seu programa de ataque aos direitos dos trabalhadores. Eliane Cantanhêde, por exemplo, em coluna ao Estadão intitulada Lula ia bem, mas derrapou ao repetir Bolsonaro e atacar a responsabilidade com o dinheiro público, afirma que Lula errou ao, recentemente, atacar o teto de gastos. Para ela, o petista deveria ser comedido, seguir os ditames de Pérsio Arida, direitista infiltrado em sua equipe de transição, e não atacar “o legado de FHC”. Rogério Werneck, também em coluna para o Estadão, afirmou que “Pressa em tentar ampliar gastos pode afetar a credibilidade da política econômica de Lula”, defendendo a mesma posição de Cantanhêde.
Quem estaria errado, Lula, ou a imprensa burguesa? Decerto que a segunda alternativa. Lula, defendendo os pontos que defendeu em sua campanha, está cumprindo a promessa que fez com o povo brasileiro que, mais uma vez, não votou em nenhum banqueiro. A burguesia, pressionando Lula a adotar uma política cada vez mais neoliberal, está indo justamente contra a vontade dos trabalhadores, tentando fazer com que Lula governe não para a classe operária, mas para os capitalistas.
Lula deve, portanto, seguir os rumos que indicou até o momento e radicalizar cada vez mais à esquerda. Seu governo deve ser de ataque aos patrões e, baseado na mobilização dos trabalhadores brasileiros, deve derrotar o golpe imperialista no País. Essa é a única forma de garantir um governo que verdadeiramente atenda aos interesses do povo.