Um dos jornais mais importantes da burguesia imperialista norte-americana, o The New York Times reconheceu o abuso de poder do Supremo Tribunal Federal (STF) no Brasil, na figura do ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Em artigo intitulado “To Fight Lies, Brazil Gives One Man Power Over Online Speech” o jornalista Jack Nicas destaca que o Brasil garantiu a Moraes um “poder unilateral para ordenar empresas de tecnologia a remover várias publicações e vídeos online”.
Sem atacar fortemente Moraes, um homem do PSDB e, portanto, do imperialismo no STF, o jornalista diz que “ao permitir que uma única pessoa decida o que pode ser dito online no período que antecede as eleições de alta participação, que terão lugar em 30 de outubro, o Brasil tornou-se um caso de teste num debate global crescente sobre até onde ir na luta contra notícias falsas e enganosas”.
“A decisão suscitou indignação nos defensores do Presidente de direita Jair Bolsonaro, bem como a preocupação de muitos especialistas em direito da Internet e direitos civis, que afirmaram que representava uma expansão de poder potencialmente perigosa e autoritária que poderia ser abusada para censurar pontos de vista legítimos e balançar a disputa presidencial”, destaca a matéria.
O jornalista norte-americano ainda afirma que Moraes está colocado no centro de uma luta relacionada ao aumento da autoridade do STF, que ordenou investigações contra Bolsonaro e prendeu apoiadores do governo.
“Ele tem sido talvez o controle mais eficaz da nação sobre o Sr. Bolsonaro, que durante anos atacou a imprensa, os tribunais e os sistemas eleitorais da nação. Mas no processo, o Sr. Moraes tem levantado preocupações de que os seus esforços para proteger a democracia do país a tenham, em vez disso, corroído”, escreve o colunista, que dá destaque a declarações contrárias ao aumento do poder ditatorial de Moraes.
A publicação do artigo – à medida que nada na imprensa burguesa é publicado sem um interesse – é mais uma indicação de que a burguesia decidiu se unificar em torno de Jair Bolsonaro, um candidato improvisado, contra a volta do PT ao governo, na figura do ex-presidente Lula.
Isso ocorre ao mesmo tempo em que o STF e Moraes, apontados como “caçadores de fascistas” por tomar medidas ditatoriais contra a liberdade de expressão, estão claramente sendo coniventes com os crimes eleitorais bolsonaristas.
Moraes, o grande defensor da democracia, segundo o comentaristas burgueses e pequeno-burgueses, nada tem feito para impedir, por exemplo, a coação de funcionários por empresários bolsonaristas, que estão buscando impor a vitória eleitoral de Jair Bolsonaro na marra e com a força deles.
Até mesmo as medidas antidemocráticas contra as chamadas “fake news” (mentiras, que sempre ocorreram com força no período eleitoral) diminuíram de tamanho.
O careca “caçador de fascistas”, que censurou todas as redes sociais do PCO – primeiro partido a lançar a candidatura de Lula – às vésperas das eleições e prendeu e censurou vários bolsonaristas quando ainda existia a tentativa de impor uma terceira via, tornou-se “tchuchuca” com a extrema direita durante a eleição, isto é, no momento que importa.
Ao mesmo tempo, o STF colocou a questão da gratuidade dos transportes públicos à mercê das prefeituras e governos, facilitando a manipulação eleitoral da burguesia, que apoia Bolsonaro. Basta que um prefeito bolsonarista que governa onde Lula tem mais eleitores impeça a gratuidade dos transportes, enquanto um outro o garanta onde Bolsonaro tem mais votos.
A matéria do The New York Times aponta que a burguesia imperialista apoia a redução dos ataques a Jair Bolsonaro, pois agora o essencial é derrotar a candidatura de Lula, cuja vitória significaria uma importante derrota do golpe de Estado de 2016.