Foi impressionante, nos últimos dias, a mudança de posição de toda a esquerda nacional com relação ao fenômeno do nazismo. Há cerca de dez dias, todos eram antinazistas e antifascistas, e estavam dispostos a apoiar todo tipo de crime e loucura para combater um suposto nazismo vindo do apresentador de podcast Monark.
Seria natural presumir que, com a invasão da Ucrânia por parte do exército russo, a esquerda manteria sua política de luta contra o nazismo a qualquer custo, e apoiaria Putin e seu exército, que entram no país presidido por Volodymyr Zelensky, um ex-comediante e agora presidente da Ucrânia, que foi amplamente apoiado por milícias nazistas cuja origem remete ao período do próprio Hitler. Seu governo foi marcado por assassinatos (como os 16 mil mortos da região do Donbass), prisões, tortura, perseguição e proibição à esquerda e muitas outras atrocidades contra o povo ucraniano.
No entanto, qual não foi a surpresa de todos quando a esquerda se colocou contra a ação dos russos e em defesa do pobre governo nazista da Ucrânia. Ainda que alguns setores tenham adotado a posição covarde do “nem Putin, nem OTAN”, está claro que todos não tiveram coragem de bater de frente com a posição da burguesia e fazer uma defesa aberta do governo russo, que enfrenta o imperialismo.
O fenômeno do “antinazismo relâmpago” é curioso e precisa ser explicado, para esclarecer como pensam esses esquerdistas, cuja opinião parece mudar da água para o vinho de um dia para o outro.
No que diz respeito ao caso Monark, é preciso lembrar que toda a imprensa burguesa, todos os setores da direita e da extrema-direita nacional – inclusive figuras que possuem uma associação com o fascismo e o nazismo, como o próprio Bolsonaro – se colocaram contra e começaram a levantar uma campanha de calúnias e de linchamento do rapaz. Monark apenas fez um comentário sobre sua defesa da liberdade de qualquer setor legalizar um partido, inclusive os nazistas, e a partir daí, o Brasil inteirou se revoltou. Começou com os patrocinadores do podcast Flow, que exigiram a demissão do apresentador, logo o juiz do STF, Alexandre de Moraes, já saiu a público para defender que a liberdade de expressão não pode ser absoluta, Flávio Bolsonaro mencionou a lei que botaria o nazismo (e, ora vejam só, o comunismo também) na ilegalidade, com punições de multa e prisão para quem fizesse apologia ou usasse símbolos de um dos dois, até Damares posou de antinazista e emitiu forte opinião contrária a Monark no Twitter. Foi um espetáculo grotesco e desagradável. Enquanto isso, toda a esquerda nacional assistia tudo e aplaudia como uma torcida desmiolada.
Agora todos esses setores antinazistas estão junto com a imprensa burguesa, o imperialismo – principal responsável pela opressão de todos os países do mundo, Bolsonaro e, claro, toda a burguesia nacional subserviente aos norte-americanos, na condenação de Putin. No entanto, lá na Ucrânia é que está ocorrendo a verdadeira luta contra o nazismo. É graças à ação do exército russo que está sendo colocado em xeque um golpe de estado criminoso de oito anos de duração. Um golpe de estado apoiado por milícias nazistas, e que sustenta sobre essas milícias, as quais atuam como uma verdadeira guarda nacional no país. Golpe esse que foi dado com o apoio emocionado do imperialismo, que ajudou a treinar, financiar e armar essas milícias criminosas.
É verdadeiramente vergonhoso que a esquerda não se posicione de forma firme e contundente a favor da Rússia neste caso presente. Para além da questão principal que envolve esse conflito (o cerco das tropas da OTAN contra a Rússia), está o próprio problema da tal “luta contra o nazismo”, o qual eles fingiram defender quando o “nazista da vez” era apenas um youtuber. Contra um nazista apoiado e financiado pelo imperialismo, todos capitulam, muitos, inclusive, pedem “paz” e “diálogo”. Neste momento, é preciso sair às ruas em apoio à ação dos russos e fortalecer essa luta contra o imperialismo e os nazistas.