A vitória de Lula, fruto da mobilização dos trabalhadores contra o regime golpista iniciada com a derrubada da presidenta Dilma Rousseff, está sendo questionada pelas bases bolsonaristas. Em diversos estados se organizam manifestações para questionar o resultado das eleições, são atos de oposição ao governo, algo que já era esperado. No momento, eles não são apoiados pela burguesia, pelo contrário, são reprimidos pelo conjunto da direita. Mas esses atos já apontam para qual deve ser o papel da esquerda, organizar a mobilização contra o golpismo da direita em defesa do governo Lula.
O Brasil com a vitória de Lula entrou em uma nova conjuntura política, a esquerda que havia sido derrubada do governo em 2016 voltou ao governo federal sob a base da mobilização popular. Não é um novo governo Lula de 2003 mas sim um governo muito mais fortemente apoiado pelo povo, algo que nunca aconteceu. Ao mesmo tempo, a direita bolsonarista, apoiada sobre o empresariado nacional, controla o Congresso e os mais importantes estados do Brasil. E por fim Bolsonaro é o segundo candidato mais votado da história, perdendo apenas para o próprio Lula. Está claro que o novo governo enfrentará uma fortíssima oposição.
A situação volta a um quadro semelhante aos dos anos antes do golpe de Estado. Quando o Congresso Nacional e alguns governadores sabotaram o governo Dilma e ao mesmo tempo impulsionaram atos de rua para desestabilizar o governo. Naquele momento, o imperialismo era a principal força por trás do ataque da direita ao governo do PT, agora com a crise do imperialismo a direita foi tomada de assalto pelo bolsonarismo, que é a expressão política de grande parte dos empresários nacionais. Ao mesmo tempo o governo Lula retorna sob a base da luta dos trabalhadores. Diferenças importantes em relação a 2015.
Os atos bolsonaristas não têm uma expressividade grande, as próprias manifestações comemorando a vitória de Lula no domingo a noite ofuscam essas mobilizações. Apenas os caminhoneiros fizeram atos importantes devido aos bloqueios das vias, contudo Bolsonaro e os governadores bolsonaristas se colocaram abertamente contra estes. Os caminhoneiros são uma base do bolsonarismo que pode facilmente ser disputada pela esquerda, visto que uma de suas principais reivindicações é justamente o controle dos preços de combustível, a mesma política de Lula.
A esmagadora maioria da esquerda se colocou a reboque da posição da burguesia. Formou-se um consenso desde a Folha de S.Paulo, passando pelo PSDB e o STF, até os governadores bolsonaristas do Rio de Janeiro e Minas Gerais, de que era necessário reprimir esses atos. Os governos do PT seguiram essa política e a esquerda sem cargos a defendeu como correta. É uma capitulação ante a direita. A esquerda nunca deve apoiar a repressão do Estado burguês pois ela sempre se voltará no fim contra os trabalhadores e suas organizações. Neste caso se abre um precedente para a repressão violenta dos bloqueios de estrada, ferramenta de luta tradicional da esquerda.
Esses setores da esquerda caíram tanto na sanha repressiva que chegara a adotar até mesmo o vocabulário da direita. Os manifestantes foram chamados de terroristas, bandidos, baderneiros pela imprensa da esquerda, algo vergonhoso, que remeta aos atos de 2013 quando se fez uma campanha ultrarreacionária contra o início dos protestos populares. A esquerda tem a sua tradição, sua analise política os atores baseado na luta de classes. Julgamentos moralistas, principalmente contra atos radicais, são o método da direita para manter os trabalhadores revoltados sobre controle.
Ao mesmo tempo que esta assumindo a direção desse movimento anti bolsonaro está sendo a direita que fez de tudo para impedir a vitória de Lula. A imprensa burguesa, o judiciário, que derrubaram Dilma, que prederam Lula, que se calaram diante da tentativa de golpe eleitoral de Bolsonaro no segundo turno agora mais uma fez se vestem como os paladinos da democracia, a democracia da polícia militar. Tentam apagar que quem venceu foi a classe operária e a luta se deu principalmente contra essa burguesia, e em segundo lugar contra o bolsonarismo, um filhote da política dos golpistas.
O que deixa isso claro é que a imprensa burguesa está falando de golpe bolsonarista. Contudo a posição de alguma organização da esquerda é de que acontecerá um golpe sua ação deve ser imediata e fulminante, lançar um movimento de ruas para impedir que haja esse golpe. Entretanto o que acontece é o oposto, a burguesia lança seu aparato repressor e a esquerda atua como uma torcida do futebol moderno, assistindo a distância pela televisão sem controle nenhum dos acontecimentos.
A esquerda deve ser a protagonista da luta política, foi a esquerda que venceu as eleições presidenciais, que recebeu mais de 60milhões de votos na figura do ex presidente Lula, o líder operário mais popular da América Latina. Foi a luta dos trabalhadores que derrotou o imperialismo e a burguesia nacional e conseguiu colocar um metalúrgico de volta ao poder em seu 3º mandato. Os trabalhadores têm a força para impedir um golpe de Estado real, e portanto tem a força para ofuscar completamente os pequenos atos bolsonaristas dos últimos dias.
Por fim e ainda mais importante, estes supostos aliados de Lula que se colocam contra os atos bolsonaristas, que controlam o aparato de repressão, são os verdadeiros perigo. São eles que em um momento de crise podem lançar um movimento para derrubar o presidente eleito. Não se pode depositar um único pingo de confiança na burguesia, sua imprensa, seus governadores e parlamentares. Os “aliados” de Dilma foram os que a derrubaram em 2016, Lula e a classe operária não podem cometer o mesmo erro.
O que faltou para Dilma em 2016 foi a mobilização popular contra o golpe de Estado, quando o congresso e o judiciário se voltaram contra ela só lhe restava o povo, mas o PT acreditou nas instituições, controladas pela direita até o fim. Lula volta ao poder de outra forma, a mobilização popular já existe, mas ela precisa ser organizada e ampliada. Um governo Lula sob as bases da mobilização do povo tem a capacidade de esmagar totalmente o bolsonarismo, derrubar toda a direita, convocar uma assembleia constituinte e se tornar de fato um governo dos trabalhadores.