Os capitalistas pressionam pela retomada imediata das aulas em meio à pandemia do coronavírus. O governo estadual e a prefeitura de São Paulo, administrados pelo PSDB, largaram na frente nessa questão, obrigando professores e alunos a estarem presencialmente nas escolas a partir do dia 1º de fevereiro.
O problema é que a pandemia se encontra em um dos seus piores momentos, com mais de uma semana seguida registrando mais de mil mortes diárias e dezenas de milhares de novos casos, conforme os dados oficiais, subnotificados e manipulados. Ou seja, a situação está completamente fora de controle, sendo que São Paulo é o epicentro nacional da doença. Desde o início da pandemia, não houve nenhuma medida real para organizar a população e enfrentar a doença por parte dos tucanos.
O Brasil registra 239 mil mortes e mais de 9 milhões de casos confirmados. O estado de São Paulo responde por 1,9 milhão de casos e 56.191 vítimas. Neurocientistas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) destacaram que o coronavírus deixa sequelas neurológicas e pulmonares mesmo em pacientes com sintomas leves ou assintomáticos.
A vacina, anunciada por João Doria como a solução quase milagrosa, não passa de marketing político pessoal que visa colocar em evidência sua candidatura para as eleições presidenciais de 2022. Até o momento, foram distribuídas 12 milhões de doses da vacina no país, bastante para imunizar 3% da população. Até quarta-feira (10), pouco mais de 1 milhão de pessoas haviam sido vacinadas no Estado de São Paulo, que tem uma população de 47 milhões de habitantes.
A Associação dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (APEOESP) deflagrou greve para impedir a retomada das aulas em caráter presencial. Os professores, estudantes e pais temem que as unidades escolares se tornem vetores de expansão da doença, o que necessariamente vai resultar no aumento de infecções e mortes. Basta considerar que os professores são uma categoria com muita gente em situação de vulnerabilidade e os alunos acabarão por levar o vírus para seus familiares.
Diferentemente da APEOESP, a União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES) e a União Nacional dos Estudantes (UNE), ambas entidades estudantis dirigidas pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB), apoiam a política direitista de retomada das aulas no meio da pandemia. A palavra de ordem adotada em conjunto com a direita é a de “volta às aulas com segurança”.
Ao invés de se posicionarem contundentemente contra o retorno, com vistas a preservar as vidas de professores, crianças, adolescentes, funcionários e pais e mães, a política das entidades estudantis se orienta no sentido de fiscalizar a precária infraestrutura das escolas para garantir a volta às aulas. Isto é, se o governo garantir a segurança, as aulas devem retornar. Se em tempos de normalidade faltam todos os tipos de materiais fundamentais – e até mesmo água – para as escolas públicas, particularmente as estaduais, por que seria diferente no contexto da pandemia e de falência financeira generalizada de Estados e municípios?
A esquerda pequeno-burguesa está sendo cúmplice da política criminosa da direita genocida. A política de “volta às aulas com segurança” é uma verdadeira infâmia. É de conhecimento geral o fato de que as escolas não têm segurança nenhuma. Os governos burgueses fazem propaganda de que os equipamentos de proteção individual serão distribuídos e a infraestrutura das escolas adaptada à nova situação. Qualquer um que tenha colocado os pés em uma escola pública sabe que isto não é verdade. Para tanto, seria necessário o investimento público massivo, algo vetado pela política de austeridade fiscal.
A pandemia faz com que setores da esquerda adotem uma posição política direitista. A ideia de que não se pode mobilizar nas ruas, serve somente para desarticular a luta popular. A UBES e a UNE, bem como o PCdoB, deveriam estar engajados na luta contra a retomada das aulas e não servir como agentes para colocar em prática a política da direita.
É preciso mobilizar os sindicatos de professores, as entidades estudantis, os sindicatos de servidores públicos municipais e a comunidade escolar nas ruas em torno do repúdio à política genocida e criminosa de retorno das aulas presenciais. As mortes e sequelas decorrentes da covid-19 serão somente números em uma planilha da burocracia estatal que serve aos capitalistas. Trata-se de uma luta em defesa da vida da ampla maioria da população e dos trabalhadores.