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Identitarismo

O negro não ganha nada com a queima de estátuas

Os episódios de queimas de estátuas fazem parte de uma política do imperialismo, o identitarismo, e visa arrefecer a luta dos negros nas ruas e colocar nas mãos da direita.

Nas últimas semanas viu-se acontecer ataques a estátuas de figuras históricas do Brasil. O primeiro desses atos foi em São Paulo com a estátua do bandeirante Borba Gato, no qual um grupo intitulado Revolução Periférica assumiu a autoria da “queima” da estátua no dia 24 de Julho, um dia em que ocorriam manifestações em todo o país pelo Fora Bolsonaro. O segundo foi há alguns dias, dia 24 de agosto, na região central do Rio de Janeiro aonde a estátua de Pero Vaz de Caminha foi posta em chamas. Mas, ao que parece, os responsáveis confundiram a estátua do autor da primeira peça de literatura brasileira com a do descobridor do Brasil, Pedro Álvares Cabral, frequentemente citado por identitários.

O ato do Rio não foi assumido por nenhum grupo, até o momento. Entretanto, perfis em redes sociais que divulgaram o ocorrido também divulgaram que o ato teria sido um protesto contra o julgamento do Marco Temporal das terras indígenas pelo Supremo Tribunal Federal.

Os atos foram amplamente citados e “aplaudidos” por setores da esquerda pequeno-burguesa, parlamentares e líderes de organizações burocráticas e inexistentes no mundo real.

Os dois eventos que, aparentemente, não estariam ligados à causa do povo negro oprimido, servem muito claramente à política identitária, a política de abordar aspectos superficiais, secundários e que nada tem a ver com a luta real dos povo negro de hoje.

Para quem estátua é prioridade?

Primeiro, é preciso deixar claro que as estátuas, principalmente de figuras históricas que viveram num Brasil de 400, 500 anos atrás, não representam praticamente nada para o negro pobre e oprimido das periferias brasileiras. As estátuas que geralmente ficam em áreas centrais da cidade ou em bairros ou regiões frequentadas pela classe média, afastam mais ainda os trabalhadores até de ter um contato com aquele monumento. Entretanto, o mais importante é que, ainda que os trabalhadores saibam do que se trata aquele monumento, ele simplesmente não vai significar nada de concreto na sua vida, não vai ter relação nenhuma com seus dramas e necessidades diárias, como o ônibus e metrô lotado, o custo da passagem, o desemprego, a carestia dos alimentos etc. Não foi Pedro Álvares, muito menos Borba Gato quem tomou essas medidas que destroem dia a dia as condições de vida dos trabalhadores brasileiros.

Na verdade, essa é uma “invenção” de pessoas de classe média, de uma esquerda “bem pensante” universitária que cria uma tese na sala de aula e tenta aplicar à realidade das pessoas de “carne e osso”, a tese de que essas figuras que viveram há centenas de anos seriam os responsáveis pela “desgraça” que eles vivem hoje.

Uma tese que busca inventar um novo inimigo da classe trabalhadora, um inimigo que não está no presente, nem diante de nossos olhos, mas sim em algum lugar no passado. É, sem dúvida, um tipo de pensamento de pessoas que não estão vivendo “com os pés no chão” vivendo na realidade. No país em que cerca de um milhão de brasileiros perderam a vida por conta da COVID-19, em que cerca de 60% da população economicamente ativa está desempregada, em que 125 milhões de brasileiros está passando fome em alguma medida e que, por conta desse “inimigo imaginário” tais fatos não teriam relação com o golpe de Estado, com a política genocida da direita durante a pandemia deixar as pessoas morrerem de fome e doença, sem qualquer tipo de suporte real e com um presidente ilegítimo, golpista e fascista, mantido pelo imperialismo.

A quem serve essa política?

Apesar de ser importante constatar que se trata de uma concepção fora do “mundo real” de uma classe média ignorante que não conhece a história do país e nem “enxerga um palmo à frente do nariz”, o mais importante é a quais interesses essa política serve?

Já dissemos que trata-se de mais um episódio da política identitária, de uma luta por aspectos superficiais e circunstanciais, mas essa política não só serve aos interesses do imperialismo, mas como ficou muito claro nos últimos tempos que é um dos “carros chefes” da política do imperialismo mais agressivo de todos, o norte-americano.

O presidente norte-americano, o democrata Joe Biden, vem utilizando de forma escancarada o identitarismo para fazer muita demagogia com os norte-americanos – colocando negros, mulheres, imigrantes, LGBTs no seu governo – mas, também fora do país. Vimos há duas semanas, desde que o Talibâ expulsou os exércitos estrangeiros e assumiu o controle no Afeganistão, que tem sido feita uma grande operação midiática sobre a “condição” das mulheres afegãs, que agora “iriam perder seus direitos”, que agora seriam duramente massacradas pelos talibãs.

Vitória do Taliban contra invasores

Em primeiro lugar, precisamos lembrar que, o que levou Joe Biden, a fazer demagogia com o negro, principalmente, foram as violentas revoltas que estouraram em centenas de cidades dos Estados Unidos, após o assassinato de George Floyd por um policial em Minneapolis. Assim que assumiu o governo, e até mesmo durante a campanha eleitoral, Biden e seu grupo não perderam tempo em despejar promessas para as comunidades negras, imigrantes e das mulheres. O que nunca passará de retórica e jogadas de “marketing”.

Entretanto, assim como divulgou recentemente o grupo Wikileaks que a Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA) planejou em 2010 que fazer demagogia com as mulheres ajudaria a fazer as pessoas apoiarem as invasões no Oriente Médio, a política identitária está sendo responsável por encobrir as ações de destruição e massacre massiva do imperialismo sobre povos em todo o mundo, não só nas centenas de guerras correntes, mas nas lutas internas da classe trabalhadora contra a opressão da burguesia.

Destruir estátua não é luta

Finalmente, é preciso dizer que destruir estátua, um monumento, não é luta nenhuma contra a opressão real dos negros de hoje. Pelo contrário, atacar a imagem de uma pessoa que viveu há mais de 400 anos é tirar a luta do mundo real, do mundo concreto, das pessoas e da luta de classe de hoje, em inimigos imaginários do passado, é literalmente “combater moinhos de vento”.

E isso, não é só uma confusão política, mas uma política criminosa, uma política que visa colocar o setor mais oprimido, mais esmagado da sociedade inerte, buscando combater um inimigo que não existe e, que para isso deveria aguardar o “comando” de pseudo intelectuais da esquerda universitária. É querer subjugar o setor que sofre os maiores tipos de violências nas mãos das forças de repressão do Estado, a um fator externo que “não teria” relação com Bolsonaro, com Doria, com o golpe de Estado e o imperialismo.

Ato de 24 Julho da Paulista

Assim como aconteceu no dia 24 de Julho, em que um grupo pequeno e, até o momento inexistente, se deslocou do principal acontecimento do país naquele dia – o fato de haver cerca de 1 milhão de pessoas nas ruas pelo Fora Bolsonaro – para criar e atacar um “inimigo imaginário”, como foi em São Paulo com o ataque à estátua do Borba Gato, a política identitária aí vem sendo utilizada para deslocar a luta real das ruas e das mãos classe trabalhadora e operária, para o parlamento e para as mãos da direita golpista e pró-imperialista.

É uma coisa mais do que óbvia para quem está no mundo real pegando transporte coletivo lotado, mas que esquerda pequeno-burguesa teima em não querer aprender, que a passagem do transporte, o preço do gás, dos alimentos, conseguir um emprego só virá pela luta contra os golpistas e fascistas de hoje, que estão nos palácios em Brasília, que não há outro meio senão tomar as ruas e paralisar a produção com uma greve de verdade contra o patrão.

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