Uma parte da esquerda coloca suas esperanças na “frente ampla”. A justificativa é que precisamos unir todas as forças que são contra Bolsonaro, mesmo os segmentos direitistas. Então a “frente ampla” seria mais abrangente do que a esquerda “isolada” (esse é o termo que eles usam, esquerda “isolada”).
Essa posição escamoteia o motivo pelo qual a esquerda de luta é contra Bolsonaro. Aliás, a esquerda de luta (destaque para o PCO) é contra o governo, e não a pessoa física do Bolsonaro. Se formos fazer uma análise profunda, a figura do capitão tem pouca ou nenhuma relevância. Poderia ser trocado pelo general Mourão, pelo general Braga Netto, que nada mudaria no governo.
A mídia criou a expressão “bolsonarismo” para usar como cortina de fumaça para enganar os desatentos. A esquerda pequeno-burguesa agarrou essa palavra e a usa como um escudo contra críticas. Afinal, teríamos que unir todos os “não-bolsonaristas” para derrotar o “bolsonarismo”. Essa união deveria incluir direitistas como João Doria, um tal de Leite, sem falar nos “nobres” juízes do STF e os “nobres” senadores da CPI que vai terminar em pizza, digo, em festa que será organizada pela lavajatista Paula Lavigne.
Ora, todas essas forças supostamente “não-bolsonaristas” votam em todas as canalhices anti-povo que o governo manda para o Congresso. Votam pela privataria geral, pela destruição dos direitos trabalhistas, pela extinção da Previdência, pelo congelamento dos gastos com Educação e Saúde, etc.
Os que lutam de verdade contra o governo lutam para que todas essas medidas sejam derrotadas e revertidas. É preciso, por exemplo, reverter as privatizações todas, inclusive a privatização da Vale, feita no governo FHC. Isso só será possível com muita luta do povo. E certamente a direita “não-bolsonarista” se posicionará radicalmente contra todas as reivindicações. Como disse Marx, “a emancipação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores”. A esquerda pequeno-burguesa que reclama do “isolamento” prefere se unir aos golpistas, mas se recusa a discutir a preparação de uma greve geral. Falam em “bolha” da esquerda. Mas não vão aos bairros populares e favelas debater com o povo e, assim, furar essa suposta “bolha”.
Como eu disse acima, a CPI dará zero de resultado. A Prevent Senior continuará no mercado, Braga Netto continuará general e o senador Contarato continuará votando conta o povo. Do STF golpista, ou do STJ ou qualquer outra estrutura do nosso judiciário não podemos esperar nada. É bem provável que eles tentem impedir Lula de se candidatar, como já fizeram.
Para conquistar o direito de Lula concorrer, precisaremos de muita mobilização, e até mesmo da greve geral. Essa greve, se ocorrer, não será uma greve cuja reivindicação será especificamente o direito de Lula ser candidato. Será uma greve contra a fome, o desemprego, pelos direitos trabalhistas e por auxílio emergencial digno. Mas ela inevitavelmente colocará a burguesia contra a parede, o que pode arrefecer a sanha golpista de novamente barrar Lula.
Que Marx seja nossa inspiração: “a emancipação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores”.
A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a posição deste diário.