A prefeitura de São Paulo anunciou uma espécie de “passaporte da vacina”, que será utilizado em comércios, com a finalidade de impedir aqueles que ainda não tomaram a vacina (ou estão atrasados para tomar a segunda dose) de entrar nestes estabelecimentos. Nas próximas semanas, comércio, serviços e eventos em geral deverão exigir estes passaportes para permitir a entrada de pessoas no local — estabelecimentos que não cumprirem a medida serão multados.
No que se trata de combate à pandemia, a medida não tem base nenhuma na realidade. Como pode a burguesia implementar este passaporte quando não consegue nem mesmo vacinar as pessoas? A entrega e aplicação de vacinas é repleta de problemas e controvérsias, fazendo com que o intervalo entre a primeira e a segunda dose possa ser variado em determinadas situações — como cobrar algum tipo de prazo para a população, quando nem o governo sabe como efetuar a aplicação da segunda dose?
É importante ressaltar que, mesmo se tudo aquilo que foi dito acima não fosse verdade, ainda assim a medida tem caráter ditatorial. É uma medida segregacionista que, assim como diversas outras aplicadas durante a pandemia, serve como um pontapé inicial para a retirada de diversos outros direitos da população. Um exemplo disso foram as diversas cartadas que surgiram ao longo da pandemia para que as empresas pudessem demitir os trabalhadores que não quisessem se vacinar — uma hipocrisia total, considerando que muitas empresas mantiveram seus funcionários trabalhando durante a pandemia, promovendo diversos surtos em fábricas e escritórios Brasil afora.
Mesmo que tudo isso fosse anulado, ainda existe o “fator vacina” — muitas vacinas, inclusive a CoronaVac, peça de propaganda de João Doria, não têm eficácia comprovada, além de possuírem diversos efeitos duvidosos. A falta de testes iniciais fez inclusive com que algumas vacinas resultassem em mortes inesperadas, algo que, mesmo que tenha sido resolvido, nada diz sobre os efeitos destas vacinas a longo prazo. Já as pessoas que tomaram a CoronaVac precisaram de uma terceira dose de outra vacina para que o efeito funcione — outra medida sem testes em que a população será cobaia.
A questão das vacinas é incerta até mesmo para aqueles que as criaram. Elas foram produzidas às pressas e, mesmo que todas fossem o auge da perfeição contra o coronavírus e suas variantes, ainda existe o fato de que os países imperialistas tratam de se colocar como primeiros da fila, afundando países oprimidos em uma miséria ainda maior.
O passaporte é uma imitação menor (talvez de forma experimental, talvez por falta de poder da burguesia) do que ocorreu em parte da Europa (França, Inglaterra, Alemanha, etc.) — o “passaporte covid” europeu serve como um impedimento, mas não para entrar em uma loja ou ir em algum evento, e sim para entrar ou até sair do país em questão, além de multas “habituais”. Como resultado, a população saiu às ruas, protestando contra a medida ditatorial — na França, o responsável por chamar as manifestações foi a principal central sindical de esquerda do país, a CGT , reiterando que eles não são contra a vacina, e sim contra medidas autoritárias que ferem a liberdade da população.
No Brasil, o responsável por aplicar essa política seriam pessoas como Bolsonaro ou Doria. Usando toda demagogia possível, Doria, comprovável apoio da esquerda pequeno-burguesa, conseguiria retirar estes direitos um a um, assim como Bolsonaro, usando toda hipocrisia possível, simplesmente seguiria sua política de repressão e abriria mais uma brecha para atacar o povo e a esquerda — que, por sua vez, entraria em parafuso.
É preciso entender que para prosseguir com a vacinação de maneira correta é necessário ter vacina para todos — com a pauta de quebra de patentes no meio deste assunto, algo que a esquerda pequeno-burguesa brasileira parou de reivindicar —, é necessário que esta vacina esteja acessível para todos os brasileiros e que haja uma campanha de vacinação intensa, para que toda a população entenda a importância disso e tenha acesso a tal recurso. Testagem em massa, aquisição de equipamentos e EPIs e diversas outras medidas também precisam ser aplicadas para um controle efetivo da pandemia.
Essas medidas ditatoriais precisam ser rejeitadas, pois representam um poder ainda maior de retirada de direitos nas mãos de Bolsonaro e, em São Paulo, de Doria, do PSDB. É preciso reivindicar as campanhas de conscientização da população, além da disponibilização de vacinas eficazes para todo o povo.
