Artigo assinado por Lee Fang no site The Intercept Brasil denuncia a atuação criminosa dos monopólios da indústria farmacêutica dos Estados Unidos. Com a elevada e desesperada demanda mundial pelas vacinas contra a covid-19, muitos países acertadamente vêm buscando driblar ou quebrar as patentes, permitindo a aceleração e o barateamento dessas vacinas. Na verdade, essa é a única forma para a maioria dos países pobres conseguirem imunizar suas populações. E essa necessidade está sendo confrontada com os interesses desses monopólios, do qual fazem parte a Pfizer e a Johnson & Johnson, duas das fabricantes de vacinas ianques.
Diante da situação dramática da pandemia, que se arrasta há mais de um ano, fica escancarada a verdadeira face do capitalismo. Nunca se tratou de “salvar vidas”, mas de ganhar o máximo possível de dinheiro a qualquer custo. Enquanto a população mundial anseia por vacinas e pelo fim das medidas restritivas, os lobistas da indústria farmacêutica estadunidense realizam uma “cruzada” em defesa do direito de propriedade intelectual. Ao melhor estilo dos monopólios capitalistas, é um mecanismo essencial para ganhar dinheiro sem fazer nada.
Segundo essas empresas, quebrar as patentes seria injusto e atrapalharia o desenvolvimento científico. Quem escuta esses argumentos poderia até pensar que esses capitalistas desbravaram o árduo caminho do desenvolvimento dessas vacinas arcando sozinhos com os custos e expostos à possibilidade de sofrerem prejuízos bilionários. É claro que em comparação com as vidas de milhões de pessoas, mesmo que esse enredo fosse fiel à realidade, ainda não seria aceitável privilegiar o lucro. No entanto, essas mesmas empresas receberam verbas públicas para desenvolver as vacinas que agora reclamam como “propriedade intelectual”.
A Pfizer, que desenvolveu sua vacina em parceria com o laboratório alemão BioNTech, foi beneficiada com o investimento de milhões de dólares do governo da Alemanha. A Jonhson & Johnson, por sua vez, foi agraciada com cerca de um bilhão e meio de dólares por uma agência estatal dos Estados Unidos. Outra empresa que recebeu verba bilionária do governo estadunidense para o desenvolvimento de vacinas foi a Moderna. Essa é uma fórmula já estabelecida na etapa atual do capitalismo, os monopólios desenvolvem tecnologia a passos de formiga e sempre com a verba dos estados nacionais, ou seja, com dinheiro proveniente dos impostos pagos pela população. E no final, posam de vítimas e fazem uso do seu poder político para impor seus interesses econômicos por cima dos interesses da população mundial.
“Livre Mercado”: Vacina feita com dinheiro público, mas com patente e preços abusivos
A reportagem do Intercept cita o chamado “Relatório 301”, elaborado anualmente e tendo como alvo “países que não protegem os direitos de propriedade intelectual”. Demagogicamente, o relatório é aberto a reclamações do “público”. Quem mais utiliza esse mecanismo são justamente os monopólios da indústria farmacêutica do país. É um canal direto para punir comercialmente países que tentam salvar vidas das suas populações. Os dois exemplos citados no artigo ocorreram, como seria de se esperar, em países pobres: Tailândia e Indonésia. Ambos países sofreram retaliações comerciais do país mais rico do mundo por quebrarem patentes para produzir medicamentos genéricos para tratamentos contra câncer, AIDS e hepatite B. Que crime, estão dando remédio barato ao povo!
A quebra da patente das vacinas deveria ser a regra e não a exceção. Diversas estimativas têm apontado que os países mais pobres vão demorar vários anos para imunizar suas populações e a um custo humano incalculável.
Graças à ação desumana dos monopólios, essa espera pelas vacinas pode se arrastar indefinidamente. E essa demora para imunizar a população em nível mundial tende a criar o ambiente propício ao estabelecimento progressivo de variantes mais eficazes do vírus, como ocorreu em Manaus. Mais um sinal da irracionalidade do capitalismo e da sua incompatibilidade com a humanidade, pois as variáveis surgidas nos países que estão no final da fila das vacinas podem até conseguir driblar a imunidade das vacinas já desenvolvidas. Uma amostra disso ocorreu na África do Sul, que chegou a suspender a aplicação da vacina da AstraZeneca/Oxford pois ela se mostrou pouco eficaz contra a variante detectada no país.
Ao longo de um ano de pandemia, pelo menos quatro variantes do vírus conseguiram se estabelecer. Se considerarmos que o vírus terá mais alguns anos de ampla circulação, estamos diante de um cenário bastante problemático. No Brasil, onde a pandemia contou a tabelinha entre Bolsonaro e os governadores “científicos”, pelo menos duas variantes mais eficazes conseguiram se espalhar. É urgente bater de frente com os monopólios da indústria farmacêutica. Se é para “defender a vida”, como muitos gostam de propagar, então é preciso ter claro que o capitalismo não foi apenas quem garantiu as condições para o “sucesso” do novo coronavírus, mas está agindo agressivamente para acumular capital mesmo que isso prolongue a pandemia e arrisca reiniciar a corrida por imunizantes.