Pouco depois de a Folha de S.Paulo anunciar que a direita iria organizar um bloco aparte no próximo ato do dia 24 de julho, passou a circular nas redes sociais o convite para uma atípica — para dizer o mínimo — concentração da manifestação, em frente ao Conjunto Nacional. No convite, em que não aparecia a cor vermelha, e sim o verde, o amarelo e o branco. Cores que poderiam muito bem aparecer em qualquer material de divulgação da extrema-direita bolsonarista. E não somente as cores: a propaganda é assinada, entre outras organizações golpistas, pelo PSDB, pelo PV, pelo Cidadania, pela Força Sindical, pelo PSDB e pela Rede Sustentabilidade.
Não é mistério nenhum o que isso tudo significa. A direita golpista, na medida em que foi expulsa violentamente do ato de 3 de julho, procura agora se isolar do conjunto da manifestação. Ficou patente o quanto é odiada pelo povo e que, portanto, seu lugar não é no meio das manifestações. Como seu objetivo junto às manifestações é tão somente o de se aproveitar delas de um ponto de vista eleitoral — a direita não defende uma única reivindicação dentre as que os trabalhadores levantam no momento —, estar em um bloco aparte do ato lhe é suficiente. Afinal, basta uma boa foto da Folha de S.Paulo para que saiam por aí anunciando que foram os verdadeiros líderes da manifestação.
É uma operação de abutre, bastante comum entre os partidos da direita, inimigos do povo. À esquerda, cabe somente denunciar esse circo e tomar todas as medidas possíveis para que essas organizações golpistas não tentem sequestrar as manifestações que são do povo. No entanto, o que chama muito a atenção é o comportamento de um determinado partido da esquerda nacional.
No meio de toda a pocilga golpista que está convocando o bloco para o Conjunto Nacional, consta o Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Um partido, diferentemente dos demais, de esquerda, que se posicionou contra o golpe de 2016 e que tem uma pequena base social no movimento estudantil e nos sindicatos. Por PCdoB, entenda-se todo o conjunto de seus satélites, que também assinam o material de convocação: a UNE, sob o controle do PCdoB há 40 anos, o PPL, partido incorporado ao PCdoB por causa da clausura de barreira, a JPL, juventude do PPL, a UMES, sob controle da JPL, a UNEGRO, organização de negros controlada pelo PCdoB, e a CTB, “central sindical” pelega de brinquedo criada pelo PCdoB para chantagear a CUT.
Também não é novidade que o PCdoB esteja ao lado dos partidos inimigos do povo. Há décadas, o partido, seguindo o caminho inevitável de todos que funcionaram como apêndices da burocracia stalinista, vem se consolidando como uma das alas mais direitistas da esquerda nacional. O PCdoB estava no MDB durante a ditadura militar, foi contra a criação da CUT e do PT, não apoiou o PT nas primeiras eleições, chegou a pedir que Dilma Rousseff renunciasse quando estava sofrendo um golpe, é o maior defensor do verde e amarelo e, em inúmeras oportunidades, aliou-se à direita contra as candidaturas do PT. Exemplos recentes são o apoio de Flávio Dino (então no PCdoB) a Aécio Neves (PSDB) e do partido de conjunto, incluindo sua presidenta nacional, ao golpista João Campos (PSB) contra Marília Arraes.
O que a participação no bloco da direita mostra é que o PCdoB, como expressão da ala direita da esquerda nacional, está indo cada vez mais para a direita. O que é absolutamente natural, pois com o aumento da polarização política, a direita se desloca para uma posição cada vez mais antipopular, em reação ao movimento operário cada vez mais radical. Se antes o apoio à colaboração de classes poderia vir de maneira velada, agora deve ser feita de maneira explícita: para sobreviver no regime com todos os privilégios que adquiriu — ministérios, governo estadual, deputados etc. —, o PCdoB terá de vestir as cores da burguesia.
Não se trata de um sacrifício em nome do futuro da humanidade, como assim prega o PCdoB. A tal da “frente ampla” não é a renúncia de disputas mesquinhas em nome de um grande projeto nacional. É a renúncia de um partido de esquerda enquanto tal. O PCdoB, em todos os momentos em que decidiu comprar a política da “frente ampla”, esteve, na verdade, anulando a si próprio enquanto força política.
A tentativa de mudar o nome do partido para Movimento 65, extinguindo a foice e o martelo e adotando o verde e amarelo, bem como as negociações para uma fusão com o PCdoB mostram claramente que o partido não está atraindo a direita para o seu programa, mas sim sendo engolido por ela.
No bloco de direita dos atos, isso é bastante claro. Embora o PCdoB assine em nome de dezenas de organizações, embora a convocação conte ainda com as marcas do PSB, da Força Sindical e outras entidades, há apenas um partido capaz de se projetar de fato na situação política: o PSDB. É o único partido a governar o estado mais importante do País — São Paulo — e que já governou o país. O único, inclusive, que conta com total apoio da burguesia e do imperialismo norte-americano. E é por essas e outras que, assim como o bloco da esquerda fortalece a figura de Lula, a liderança natural do movimento, o bloco de direita leva ao fortalecimento do PSDB, que, no fim das contas, utilizará todo seu poder para impor ao bloco a sua candidatura.
O Movimento 65 do PCdoB, portanto, se revela agora como outro movimento: o Movimento 45, rumo a garganta do PSDB.