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O fator Lula

Os “dilemas” do PSOL: entre o oportunismo rasteiro e o sectarismo

Dirigente do PSOL se esforça para não rachar o partido diante da possibilidade de candidatura de Lula

O dirigente do PSOL, da corrente interna do partido, Resistência, Valerio Arcary, publicou no sítio Esquerda online um artigo intitulado “Oito notas sobre o dilema do PSOL”, no qual discute com seus correligionários os problemas sobre o apoio a uma candidatura de Lula. Eis o “dilema” do PSOL, apoiar ou não apoiar Lula:

“diante do possível perigo de um 2° mandato Bolsonaro, não está descartado, ao contrário, merece ser examinado com seriedade um apoio a Lula, desde o 1° turno. Nunca poderá ser incondicional e acrítico, mas é uma possibilidade. Devemos, neste momento, discutir quais as propostas do PSOL para um governo de esquerda. A hora é de luta por um programa. Uma decisão de candidatura pode ficar para mais tarde.”

A preocupação de Arcary, que pelo menos desde a eleição municipal do ano passado tem sido um aliado da política de Guilherme Boulos no PSOL, é debater com os setores do partido que se opõem à uma aliança de qualquer tipo com Lula e o PT.

Para entender o que se passa é preciso retornar um pouco no tempo. O PSOL, tendo sido criado por parlamentares pequeno-burgueses que saíram do PT já durante o governo Lula, se apresentou como uma alternativa de “esquerda” ao PT. Não nos cabe aqui entrar no detalhe do programa do então novo partido cujo programa possui algumas colocações muito genéricas sobre o socialismo com democracia e de críticas abstratas às alianças do PT com a burguesia.

Naquele momento, aqueles parlamentares, que foram coniventes e apoiadores de toda a política de conciliação de classes do PT, precisavam mostrar um discurso esquerdista como maneira de se diferenciar. Esse discurso, que para a maior parte dos dirigentes do PSOL não era nada além de uma disputa de tipo eleitoral com o PT, agrupou pequenos grupos de esquerda que se preocupavam em atacar o governo petista.

Grosso modo, esse é o fundo da posição sectária do PSOL no momento em que a situação política no País se modificou com o início do processo golpista. Fincados na política anti-PT, os diferentes grupos dentro do PSOL se recusaram a se colocar contra o golpe e efetivamente formar uma frente única contra a direita. Alguns setores, que ainda hoje se dedicam a atacar o PT e Lula, se colocavam abertamente a favor da queda de Dilma Rousseff, se colocando em uma aliança informal com a direita golpista.

Na medida em que a ofensiva golpista foi se aprofundando, aos poucos, uma parte do PSOL começa a admitir a existência de golpe, muito tardiamente, mas substituíam uma luta clara contra o golpe por críticas confusas ao governo Dilma.

 O golpe e a efetiva queda de Dilma produz uma enorme crise no partido. Um setor se mantém na política anti-PT e outro, empurrado pela situação política, busca se integrar, ainda que de maneira confusa, ao movimento contra o golpe, procurando tirar proveito politicamente. A mesma divisão se dá quando o assunto é a defesa de Lula e a luta pela liberdade do ex-presidente.

Eis o fundo do “dilema” do PSOL, que tanto preocupa Valerio Arcary. O dilema é como demonstrar apoio a Lula e tirar o máximo proveito eleitoral disso sem rachar totalmente o partido.

“Nada é mais importante que derrotar Bolsonaro, quando o Brasil se transforma no epicentro da pandemia, e o desemprego, a inflação dos alimentos, e a suspensão do auxílio emergencial incendeiam a maior crise social da história.”

Arcary afirma que a principal tarefa é derrotar Bolsonaro. Portanto, a política correta seria costurar uma candidatura de Lula. Até aí, tudo parece correto. Mas a frente única que propõe o dirigente do PSOL não está baseada de fato nessa necessidade real. A tarefa está condicionada a um programa. Seria preciso discutir um programa comum da esquerda para as eleições.

O dirigente do PSOL diz que o momento é discutir quais as propostas para um governo de esquerda, é “hora de lutar por um programa”. Tal é o fundo do problema que revela uma concepção oportunista da política.

O que Arcary defende não é uma verdadeira frente única, ou seja, uma frente fundamentada em um objetivo comum, prático. Arcary quer um programa de governo comum da esquerda, um programa que, da maneira como está colocado, só pode ser uma proposta de administração do Estado burguês.

Ao condicionar o apoio a Lula a esse programa comum, Arcary quer um programa de tipo burguês, ou sendo mais específico, um programa reformista. Para a esquerda pequeno-burguesa, só é concebível uma aliança nesses termos. Trata-se de uma concepção oportunista. Só apoiamos Lula se pudermos entrar na sua coligação eleitoral e posteriormente em seu governo, caso contrário, abandonaremos tal unidade.

Eis uma diferença com uma política revolucionária. A política revolucionária não compromete seu programa com o de outras organizações, mas toma uma posição independente na situação. Apoiar Lula, nesse momento, não é um jogo eleitoral, um projeto de governo. O apoio a Lula deve ser entendido, pelos revolucionários, como uma alavanca para a mobilização, como uma frente única prática na luta contra o golpe.

Uma política revolucionária sequer cogita a entrada em um governo de tipo burguês, ainda que esse governo possa ter uma aparência de tipo radical e ainda que esse governo possa, eventualmente, levar adiante medidas verdadeiramente populares.

Arcary quer mostrar para os setores do PSOL que não querem ver Lula nem pintado de vermelho que o apoio ao ex-presidente é um grande negócio eleitoral. A ala sectária do partido, por interesses diversos, não quer a aliança com Lula simplesmente porque não quer, depois de todos esses anos atacando o PT, aparecer junto com Lula, o que pode lhe causar prejuízos junto ao eleitorado conservador que conquistaram por seu anti-petismo.

No entanto, tanto um setor como outro tem a mesma concepção. Ambos não conseguem conceber uma frente única prática, de luta contra a direita sem comprometer o programa. Assim, Arcary quer unidade com o PT desde que se faça um programa comum, ou seja, um programa que serve apenas para dar uma satisfação ao eleitorado do partido. Os setores sectários não querem defender Lula e a luta contra o golpe porque entendem que isso, por si só é um ataque ao seu “ilibado” programa.

No final das contas, o oportunismo e o sectarismo andam juntos e ambos são inimigos de uma política de massas, que visa mobilizar o povo.

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