Em carta pública ao governo Jair Bolsonaro, os banqueiros começam a exigir que os governos implementem políticas de lockdown. A situação da pandemia está completamente fora de controle no Brasil.
Nas últimas 24 horas, 1.570 pessoas morreram vítimas do COVID-19 e houve 55.177 novas infecções. Desde o início da pandemia, o País soma 295.425 óbitos e 12.047.526 casos de contaminação.
Os sistemas de saúde operam em colapso. Faltam leitos de UTI e pessoas já morreram na fila de espera por uma vaga. O que aconteceu em Manaus está se generalizando. O lockdown pode fazer com que a curva de contaminação caia, mas por si é incapaz de resolver o problema. Somente medidas eficazes como a vacinação em massa e o distanciamento social podem fazê-lo.
A questão econômica é a única preocupação dos banqueiros. É bastante evidente que eles não têm qualquer preocupação com a vida da população. O que lhes interessa é a manutenção de seus lucros astronômicos. Em carta, eles citam que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro encolheu 4,1% em 2020. Espera-se uma contração no primeiro semestre de 2021.
Os dados oficiais assinalam uma taxa de desemprego de 14%. Esta é manipulada para esconder a realidade. Entre os meses de fevereiro e dezembro, 5,5 milhões de pessoas deixaram de procurar emprego. É visível o declínio econômico, que se reflete no desalento, no trabalho informal e no subemprego.
Os banqueiros pressionam o governo Jair Bolsonaro (ex-PSL, sem partido) no sentido de dar uma saída para a situação catastrófica. Eles falam em lockdown, vacinação em massa e Auxílio Emergencial para as camadas mais pobres da população. Com o declínio econômico, as pequenas e médias empresas, que contraíram dívidas com os bancos, vão à beira da falência e não conseguem pagá-las. Isto é, os bancos dependem da recuperação econômica destas empresas.
Com o desemprego generalizado, bem como o crescimento da inadimplência, os bancos vêem seus interesses econômicos serem atingidos. Por mais poderosos que sejam, o fato é que eles dependem dos rumos da economia. Um colapso geral do sistema econômico é um problema também para seus próprios interesses.
Um lockdown prolongado tem consequências complexas. Para que isto possa ser feito, o Estado teria que garantir um Auxílio Emergencial para todos com valor suficiente para suprir as necessidades básicas. Isto só pode ser feito se dinheiro for retirado dos bancos e se mexer na política de austeridade fiscal. Além disso, é preciso garantir moratória em todas as dívidas, proibir cortes de luz, água e despejos. Também um auxílio deve ser garantido às pequenas empresas para preveni-las de ir à falência.
Os pequenos comerciantes, pequenos empresários e lojistas são duramente atingidos pelos efeitos do fechamento total, que ameaça a sua própria existência, daí sua oposição declarada a este tipo de medida. Por outro lado, os banqueiros são muito menos atingidos, em virtude de seu poderio econômico. Estes conseguem suportar perdas por muito mais tempo, diferentemente dos pequenos lojistas, empresários e comerciantes.
Se é preciso implementar políticas restritivas e distanciamento social, é dever do poder público amparar a população e os setores pequenos da economia. Não se pode permitir que a política governamental resulte em falências e desemprego generalizados.
A ditadura policial contra a população, forçada a ficar em suas casas (para aqueles que têm casas) e passar fome através da repressão estatal, é o lockdown dos banqueiros. É uma medida que não custa recursos públicos, não mexe na política de austeridade fiscal, mantém os pagamentos dos juros da dívida para as instituições financeiras.
Um dos pilares de sustentação do genocídio em curso é justamente a política de austeridade fiscal, implementada após o golpe de Estado de 2016. O teto dos gastos públicos, medida legislativa que congelou os investimentos de 2016 até 2036, não permite que os investimentos massivos na saúde e seguridade social sejam realizados pelos governos. Além disso, com o congelamento dos recursos, o Sistema Único de Saúde deteriorou-se rapidamente.
Merece destaque que os bancos consideram que as escolas não devem ser fechadas no período da pandemia. Para eles, a escola deve ser a primeira a abrir e a última a fechar. A argumentação é de que não há evidência científica de que as escolas se transformem em vetores de expansão da doença. O que é absurdo, pois elas aglomeram milhões de pessoas diariamente, infinitamente mais do que festas e atividades familiares. Só com a abertura de poucas semanas em São Paulo, estima-se que houve 4 mil contaminações.
O controle dos bancos sobre o Estado levou a nação à beira do abismo a qual se encontra. Depois de 295 mil mortos, eles resolvem exigir que medidas drásticas sejam tomadas e fingem preocupação com a vida. Esta preocupação é uma fachada para esconder seus verdadeiros interesses.