Segundo artigo publicado no Brasil 247 , “PT e o PSol, já não alimentam mais esperanças de estarem unidas no mesmo palanque da disputa para o governo de São Paulo”. Ali se reproduz a fala de Boulos também àquele canal, na qual alega o que considera como necessidade prioritária de eleger “pelo menos cinco ou seis” deputados federais para a legenda em 2022″, expondo os objetivos mesquinhos do pré-candidato e do seu partido, que nada têm a ver com os interesses dos trabalhadores diante da situação.
Além disso, é evidente que seria perfeitamente possível ao PSOL buscar conquistar seus interesses mesquinhos sem rachar a esquerda no principal colégio eleitoral do País. O partido poderia, por exemplo, aproveitar-se da alegada popularidade de Guilherme Boulos para lançá-lo como puxador de votos parlamentares para a legenda e ganhar espaço político como defensor da unidade da esquerda. O que estaria de acordo com a estratégia parlamentar do partido e não serviria aos objetivos da direita na atual etapa.
Após anos propagando a ladainha de uma unidade contra o fascismo, o PSOL poderia dar um exemplo inédito de coerência política e afirmar, na prática, que de fato atua politicamente considerando “a ruína do País e a capacidade de Lula para liderar um projeto nacional”, como disse Boulos ao 247. Poderia até fazê-lo conciliando a luta contra o golpe, o fascismo e o bolsonarismo. Porém, o cálculo político do PSOL é muito mais rebaixado do ponto de vista da luta contra o que o partido pequeno-burguês diz combater.
A opção por abandonar a unidade contra o bolsonarismo e lançar um candidato próprio ao governo de São Paulo não irá fazer mais do que dividir o voto da esquerda. Naturalmente, os principais beneficiários dessa manobra são os políticos da direita, em especial o PSDB, partido que se entronizou no Palácio dos Bandeirantes.
Deve-se lembrar que não faz muito tempo, lideranças psolistas como Guilherme Boulos atacaram uma eventual chapa Lula-Alckmin. Em entrevista ao UOL, publicada no dia 6 de dezembro, o presidente do PSOL, Juliano Medeiros, não poupou críticas a uma suposta aliança entre o principal líder popular do País e o ex-governador tucano.
“Não há dúvida de que seria um elemento dificultador [apoiar Lula com Alckmin de vice]. E não há dúvida de que provoca grande desconforto”, disse Medeiros. À luz de uma candidatura própria, para disputar os votos do PT e beneficiar principalmente os tucanos e a direita paulista, as críticas (embora acertadas) serão mero exercício de cinismo e oportunismo.
A decisão de rachar o maior colégio eleitoral do Brasil, com mais de 21 milhões de votos, que pode ser decisivo na eleição nacional e para evitar a vitória da direita, é de uma mesquinharia inacreditável. Revela a total falta de princípios do partido, que se presta a beneficiar a direita, sendo partícipe de um ataque orquestrado pela burguesia contra as massas trabalhadoras, que hoje sofrem as consequências de uma política marcada por genocídio, fome e miséria, e que certamente irá tornar-se ainda pior caso a terceira etapa do golpe seja bem sucedida.
Não se trata de que todo partido de esquerda esteja obrigado a apoiar o PT ou qualquer outro partido majoritário. Divergências são naturais, ainda mais quando expressam importantes princípios políticos, como o PCO que não apoia candidaturas burguesas, que não sejam expressão da luta dos trabalhadores e que não sirvam para impulsionar a mobilização dos explorados por suas reivindicações. Mas a ruptura solista não expressa nada que tenha a ver com princípios, como fica evidente da declaração do próprio Boulos e na política cotidiana desse partido.