A data de 7 de setembro se aproxima e com isso aumenta a necessidade de uma séria convocação da população para a realização de atos nacionais em todo país. O problema fundamental, que é a luta pelo Fora Bolsonaro e a derrubada do regime golpista, agora terá um ingrediente a mais, com a convocação simultânea dos bolsonaristas, que também farão do dia 7 uma data de mobilização nacional dos fascistas.
A esquerda e a manifestação
A manifestação por parte da esquerda, mesmo que anunciada já no dia 30 de julho, com mais de um mês de antecedência, sofre da falta de convocação e do crescente boicote aberto que as organizações defensoras da frente ampla fazem ao movimento. A realização do quinto dia de manifestações no dia 18 de agosto deixou claro este racha no movimento. Por um lado os trabalhadores aderiram à mobilização, e assim os atos contaram com a importante presença de categorias como os Correios e professores. Por outro, partidos como PCdoB, PSOL e PCB, boicotaram ativamente os atos e seus aliados direitistas, que buscavam se infiltrar nas manifestações, saíram de maneira definitiva do movimento.
Esta situação representou uma mudança de qualidade da mobilização, que moveu-se de forma significativa à esquerda, em uma aliança com os trabalhadores. Contudo, também demonstrou a oscilação presente nas direções da CUT e do PT, que no lugar de impulsionar os atos, aderiram de maneira passiva à baixa convocação impulsionada pela frente ampla. Isto agora traz problemáticos resultados para os atos do dia 7, ao passo que os bolsonaristas aumentam o tom e já garantiram a ocupação da Avenida Paulista, centro político do país.
O caso dos bolsonaristas revela alguns problemas fundamentais que a esquerda precisa levar em conta na mobilização contra Bolsonaro. A ação de Doria em entregar a Avenida Paulista para os fascistas evidenciou que o mesmo tem como prioridade esmagar a esquerda e os trabalhadores. Doria, nesse sentido, ocupa um papel de importância na crise que se desenvolve no interior da burguesia brasileira e que precisa ser aproveitada pela esquerda.
A luta é contra Doria e Bolsonaro
Doria é o candidato da terceira via para 2022, representando o principal setor da burguesia. Sua política central é a liquidação de todos os direitos democráticos da população brasileira. Agindo como uma espécie de Joe Biden brasileiro, Doria ao mesmo tempo que faz intensa demagogia com a esquerda identitária e tem como cavalo de batalha o problema da vacina, leva a frente uma brutal política ditatorial contra os trabalhadores. Doria é um dos principais defensores do “passaporte da vacina” no Brasil, impondo uma segregação entre aqueles que tomaram ou não a vacina no país, uma política que já gera protestos em todo mundo.
Além disso, o grupo de Doria é o que impulsiona o STF e toda sua política ditatorial. Prendendo lideranças da direita sem qualquer julgamento, como também atacando toda a esquerda. Doria em si é uma das mais impopulares figuras que representam a burguesia a nível nacional, um defensor do ataque aos direitos individuais e um defensor da ditadura de toga do STF.
Já Bolsonaro se apresenta como o defensor dos direitos individuais, da liberdade e afins. Em reposta à prisão de aliados como Roberto Jeferson, que foram atacados pela ditadura de toga, Bolsonaro passou a se apresentar como um suposto defensor da legalidade, quando na realidade sua política é tão antidemocrática quanto a de Doria. Se de um lado Doria defende a ditadura de toga, Bolsonaro é o maior defensor da ditadura de farda, da ditadura militar, da política de intensa repressão da população.
Ambos representam lados da mesma moeda, tanto Doria quanto Bolsonaro são fascistas, inimigos do povo e defensores da ditadura. No entanto, Bolsonaro se utiliza da ausência de uma real oposição a ser levada pela esquerda e surge atacando o impopular Doria, como se Bolsonaro fosse realmente um “antissistema”.
É preciso mobilizar e impedir o avanço dos fascistas
O próprio STF que ataca Bolsonaro é ao mesmo tempo uma das principais munições dos bolsonaristas. A política de Doria e do PSDB, na luta contra os direitos da população visando atacar Bolsonaro, apenas fortalece os fascistas e cria a crescente rebelião policial vista em diversos estados, principalmente em São Paulo, governado pelo próprio Doria.
A recondução de Augusto Aras à PGR, aprovada ontem pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado, no entanto, evidenciou a fraqueza do Congresso e das instituições, que se mostram claramente acuadas pelo contra-ataque bolsonarista.
Em meio a este cenário, a esquerda precisa se desvincular do centro político, do principal setor da burguesia, e ir no sentido contrário do que vêm fazendo grupos como PCdoB e PSOL. A aliança com a burguesia apenas fortalece Bolsonaro e torna toda esquerda um alvo fácil dos golpistas.
Os setores da burguesia ligados a Doria tentam um golpe em 2022 contra Lula e Bolsonaro, esmagando a esquerda e colocando o principal setor do golpe no governo. Contudo, esta mesma direita não se vê disposta a levar às últimas consequências a luta contra o bolsonarismo, muito pelo contrário, o fenômeno visto em 2018, quando Bolsonaro recebeu na reta final expresso apoio de toda a direita, muito possivelmente poderá ocorrer em 2022, representando uma profunda derrota para toda esquerda nacional.
Nas ruas a mobilização precisa ser tanto contra Doria quanto contra Bolsonaro. Nenhuma das máfias é democrática, ao contrário do que pensam os setores da esquerda que vêm bajulando o ministro Moraes. A esquerda precisa sair às ruas agora, mobilizar e garantir que a briga não seja entre PSDB e Bolsonaro, mas entre Lula e Bolsonaro, ou seja, os trabalhadores contra o regime golpista. Será esta a função principal dos atos do dia 7 para toda a esquerda.