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"Pró-democracia"

Choque entre imperialismo e China afunda Mianmar em sangue

Nova onda de manifestações termina com dezenas de mortos e fábricas chinesas atacadas pelos partidários do regime deposto

A crise política continua intensa no Mianmar. Segundo o jornal local Irrawaddy Times, ao menos três pessoas morreram no último dia 15, após mais protestos contra o governo militar. O final de semana, dias 13 e 14, foram marcados como o mais violento desde o golpe ocorrido em 1º de fevereiro.

Segundo a Associação de Assistência aos Presos Políticos (AAPP), 38 manifestantes morreram no final de semana, sendo 22 apenas na capital, Yangon. Já o sítio Myanmar Now informa que foram 59 óbitos e 129 feridos. Segundo a AAPP, um número superior a 2.150 pessoas foram presas desde o começo dos protestos. As manifestações destruíram trinta e duas fábricas de roupas em Yangon, todas elas ligadas à China. Segundo o sítio chinês Global Times, ligado ao Partido Comunista (PCCh) dois chineses estariam entre os feridos e US$36,9 milhões teriam sido o custo das depredações nas indústrias chinesas instaladas no país.

A imprensa burguesa ocidental tem descrito as manifestações birmanesas como “pró-democracia”, praticamente uma senha para identificar o apoio do imperialismo a essas ações. O golpe militar de 1º de fevereiro depôs o o presidente Win Myint, prendendo-o e também a líder do partido Liga Nacional para a Democracia (NLD), Aung San Suu Kyi, vencedora do Prêmio Nobel da Paz em 1991.

Nas eleições de 8 de dezembro, o partido NLD conquistou mais de 70% dos votos, fato contestado pela oposição ao governo que, na prática, era conduzido por Suu Kyi (tendo filhos estrangeiros, ela não pode exercer o a chefia de Estado, segundo as leis birmanesas). Segundo a junta militar, a porcentagem fora conseguida por meio de fraudes nas eleições, razão alegada para a intervenção no governo, a prisão dos líderes do NLD e a suspensão das posses parlamentares resultantes da eleição de 2020.

Cabo de guerra

Tendo se livrado do colonialismo britânico em 1948, o Mianmar viveu por longos períodos sob uma ditadura militar, com pequenos ciclos alternados de governos constitucionalistas. O regime militar, embora tenha as características direitistas tradicionais que marcam este setor da burocracia, conserva estreitos laços com a China, o que os coloca em contradição com os interesses imperialistas no país.

Próxima do imperialismo, Suu Kyi liderava um governo que se sustentava sob um frágil acordo entre as Forças Armadas – mais próximas da China – e os setores mais ligados às potências imperialistas. Após a eleição de dezembro, o acordo ruiu. Relativamente popular no país, a líder do NLD encontra-se presa ainda, com seu julgamento adiado após os protestos do último dia 15. Embora ligada ao imperialismo, estes pouco fizeram além da propaganda através da imprensa, com uma campanha nitidamente favorável à Suu Kyi, porém tendo o cuidado de não impor sanções ao país, como fizeram em tantas ocasiões contra diversos países.

Já a China, em editorial publicado no Global Times, caracterizou o golpe de 1º fevereiro como “mudança repentina ocorrida na situação do Mianmar no último mês”. Porém, em reação aos ataques dos manifestantes contra fábricas ligadas ao gigante asiático, pediu que os responsáveis sejam “severamente punidos” e acusou o Ocidente de “publicamente apoiar o NLD”.

O quadro geral indica uma ofensiva grande porém cautelosa do imperialismo contra o Mianmar mirando a China. Isto torna possível supor que tanto as eleições de 2020 quanto a atual onda de protestos contra o regime militar, podem ter sofrido grande influência do reduzido conjunto das nações mais poderosas do planeta.

Imperialismo nunca é democrático

Obviamente, regimes militares têm uma forte tendência a serem de difícil aceitação popular. Contudo, vale observar as forças sociais em disputa antes de uma caracterização, até para compreender o fenômeno.

A exemplo de outras experiências políticas ao redor do globo, por pior que possa ser o regime militar birmanês, infinitamente pior para a população de Mianmar seria a vitória do imperialismo no país.

Esse é um fenômeno facilmente identificado após guerras como a do Iraque.

Tendo como uma de suas motivações a luta contra o regime ditatorial de Saddam Hussein, o saldo de detruição, mortes e submissão militar, política e econômica que o imperialismo impôs ao pobre país árabe não deixa dúvidas quanto à natureza criminosa do imperialismo. Sendo este um regime de poder parasitário e de alcance global, sua capacidade de oprimir não encontra paralelos, mesmo entre ditaduras como a de Saddam Hussein.

O mesmo caso se desenvolveu em inúmeras intervenções realizadas pelo imperialismo e verifica-se agora no Mianmar, de modo que a classe trabalhadora não deve se confundir com a natureza real dos interesses conflitantes que envolvem os setores que apoiam o golpe militar e as manifestações “pró-democracia” no país asiático.

Na medida em que o regime militar birmanês encontra-se em relativa contradição com o imperialismo, as tentativas de derrubá-los por meio de sanções econômicas ou medidas bélicas devem ser severamente repudiadas. A classe operária e os camponeses do país, por sua vez, devem lutar contra os militares inimigos do povo mas sem fazerem qualquer tipo de acordo com o imperialismo, seu maior inimigo. Devem entender que os aliados da burocracia reacionária chinesa precisam ser derrubados, mas para isso deve Ser impensável uma aliança com os maiores genocidas da história da humanidade, que hoje são os mesmos que fingem exigir democracia no Mianmar.

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