Em 13 de março de 1881, há 140 anos, foi assassinado Alexandre II da Rússia, conhecido como “o libertador”, pelo Naródnaia vólia (Vontade do Povo). Em meio a um momento revolucionário que levou ao fim da servidão na Rússia, sob intensa repressão, a Vontade do Povo, que era o setor mais ativo e avançado da Rússia naquele momento, empreendeu o atentado ao regime monárquico na figura do czar, essa que seria sua maior e última ação.
Alexandre II
Nascido em Moscou em 29 de abril de 1818, filho de Nicolau I e Carlota da Prússia, teve como principal característica continuar o legado de desenvolvimento econômico, modernização e industrialização da Rússia iniciado por Pedro, o Grande. Alexandre II chegou a visitou muitos países proeminentes da Europa ocidental e foi o primeiro herdeiro da monarquia russa a visitar a Sibéria.
No início do seu reinado, teve de lidar com a continuação da Guerra da Crimeia e a derrota consolidada no Tratado de Paris, com a visível falência da estrutura monárquica como estava. Com a opinião pública favorável, Alexandre II iniciou uma série de reformas radicais visando a modernização da administração. Em 1861 ocorreu a emancipação dos escravos, que serviu de grande impulso ao desenvolvimento capitalista.
Antes de ser assassinato, Alexandre sofreu outras quatro tentativas de homicídio. A primeira foi em 1866 em São Petersburgo, realizada por Dmitry Karakozov. A segunda, na manhã de 20 de abril de 1879, impetrada por Alexandre Soloviev, que, após a falha, foi enforcado. Na terceira, em dezembro de 1879, a vontade do povo explodiu uma linha de trem que ligava Livadia a Moscovo, mas não atingiu o comboio do imperador. A última tentativa falha foi realizada em 5 de fevereiro de 1880, por Stephan Khalturin, membro da Vontade do Povo, com uma bomba relógio na sala de jantar do Palácio de Inverno.
Os revolucionários
Na década de 1860, se formam na Rússia os movimento dos Narodnik (populistas russos), composta majoritariamente por elites urbanas aderentes do socialismo agrário. Eles tinham como política ir aos camponeses e apresentavam uma série de características anarquistas.
Uma das mais marcantes organizações clandestinas dos populistas russos foi a Zemlya i volya (Terra e Liberdade), criada em 1870. Essa organização, que chegou a englobar uma parte expressiva do movimento revolucionário russo, refutava a luta política, embora defendesse o socialismo. A Terra e Liberdade deu origem, através de fraturas, a Naródnaia vólia (Vontade do Povo), formada em 1879 e a Repartição Negra, criada entre agosto e setembro de 1879.
A reação do setor mais ativo da Terra e Liberdade à intensa repressão do império russo foi a política de terrorismo, orientação seguida pela nascente A Vontade do Povo. Nesse momento, isso vem a se tornar uma contradição fundamental do populismo: do anarquismo que negava a luta política, o setor mais ativo passou a utilizar o método terrorista como meio para se opor ao poder político do czar, estabelecendo a necessidade da derrubada política da monarquia para se estabelecer um outro regime.
Isso fez com que os populistas que ingressaram na Vontade do Povo tivessem, além do terrorrismo, um programa político com assembleia constituinte e sufrágio universal. Os populistas que ingressaram na Repartição Negra, por outro lado, defendiam o programa anarquista tradicional, com abstenção da luta política e a concepção de que a revolução camponesa levaria a uma liquidação da sociedade como estava organizada.
A onda de atentados terroristas chegou ao auge com o assassinato de Alexandre II, sendo a Vontade do Povo totalmente desmantelada em sequência. Uma parcela dos populistas percebe que o caminho era a luta política, formando em 1883 o Grupo pela Emancipação do Trabalho, que se tornou a semente do marxismo na Rússia.