No dia 1º de março de 1921, iniciava-se a revolta de Kronstadt, a última grande revolta realizada contra o governo bolchevique durante o período da guerra civil russa. Marinheiros soviéticos da fortaleza naval da cidade de Kronstadt, localizada na ilha de Kotlin, no golfo da Finlândia, fizeram um levante armado, reivindicando uma série de exigências que não cabiam para o atual momento de guerra civil e de intensa crise, como por exemplo a eleição de novos sovietes, inclusão de grupos anarquistas nos sovietes, fim do monopólio bolchevique no poder, liberdade econômica para camponeses e operários, entre outras coisas.
Os revoltosos, em sua maioria anarquistas, eram compostos também por revolucionários proletários, com um histórico de lutas. A maior parte eram de origem camponesa e havia uma considerável camada de reacionários, filhos de culaques (camada mais rica dos camponeses) comerciantes e padres.
O governo bolchevique buscou o diálogo num primeiro momento, numa tentativa de conter o levante. Sem sucesso, o governo se viu na necessidade de reprimir a revolta através da violência, visto que tratava de uma revolta contra um governo revolucionário. Um levante armado contra um governo revolucionário favoreceria muito os movimentos contrarrevolucionários da época. Os anarquistas que se levantaram foram inclusive defendidos por mencheviques, pelos liberais e pelos reacionários e é utilizado até hoje por esses elementos como uma propaganda contrarrevolucionária, apelando para o uso da violência aplicada pelos bolcheviques.
Uma das reivindicações levantadas era sobre a participação de anarquistas nos sovietes. Trótski aponta que, no caso do soviet de Kronstadt, a direção pertencia ao partido bolchevique, porém os mesmos bolcheviques não constituíam nem metade do soviet. A maioria dos anarquistas representavam a massa pequeno-burguesa, estando aquém dos socialistas revolucionários de esquerda. Trótski ainda descreve o presidente do soviet como um “sem-partido, simpatizante anarquista” e “no fundo, um pequeno funcionário absolutamente pacífico, que tinha antes estado subordinado às autoridades czaristas e agora… à revolução”. Os sovietes dominados por anarquistas e socialistas revolucionários serviriam somente à transição da ditadura do proletariado à restauração do capitalismo.
No dia 17 de março, os bolcheviques enviaram o Exército Vermelho para reprimí-los, que teve seu fim no dia seguinte, afogando em sangue a revolta. Era uma necessidade, visto que os bolcheviques não eram adeptos desse método, mas no meio de uma guerra civil, se viram obrigados a agir de tal maneira. Os revoltosos atribuíam a culpa das condições de vida da população aos bolcheviques e não à guerra e à crise que os soviéticos vivenciavam. Trótski caracterizou o levante como uma “reação armada da pequena-burguesia contra as dificuldades da revolução socialista e o rigor da ditadura proletária”.