O capital em crise tem aumentado a pressão sobre as classes trabalhadoras do mundo todo para garantir seus lucros. Essa ação traz uma consequência inevitável: a polarização política. De um lado, o crescimento da extrema-direita em todo o mundo; do outro, a esquerda e as tendências revolucionárias da classe trabalhadora. Essa movimentação de forças está produzindo choques no interior dos dois polos. Os partidos que tentam se manter ao centro estão se despedaçando.
Aqui no Brasil, com a proximidade das presidenciais de 2022, está sendo feita uma grande operação política para tentar viabilizar um candidato do que se convencionou chamar de “terceira via”. Essa “terceira via” nada mais é que a principal aposta para a burguesia tomar o controle da presidência. Na eleição passada, como não conseguiu emplacar a candidatura de Geraldo Alckmin, a burguesia cedeu espaço para a extrema-direita, representada por Jair Bolsonaro. Este, porém, tem se mostrado um elemento de instabilidade para o regime, além de trazer consigo uma base que dificulta o confisco das riquezas nacionais na velocidade que o imperialismo deseja.
Manifestações colocaram a “terceira via” em xeque
No dia 7 de setembro, os atos de Bolsonaro foram muito grandes. As contramanifestações da esquerda, que ocorreram no mesmo dia, apesar de não terem sido bem convocadas, reuniram algumas dezenas de milhares. O “centro”, por sua vez, tinha uma manifestação marcada para o dia 12 de setembro na Avenida Paulista, que foi um estrondoso fiasco. Havia menos pessoas na Avenida do que em domingos normais.
Esse panorama que se apresentou está obrigando a direita a correr atrás do prejuízo. A movimentação é grande. Já estão se ensaiando fusões de partidos da direita como DEM e PSL. É preciso que fique claro que essas manobras visam a sobrevivência política desses setores que tendem a ser varridos da cena política em função do acirramento das tensões entre a extrema-direita e a esquerda. Os movimentos sísmicos estão abalando partidos e provocando rachaduras. No PSDB, por exemplo, Aécio Neves, de Minas Gerais, está abertamente a favor de Jair Bolsonaro. Eduardo Leite, do Rio Grande Sul, o gay de ocasião, está sendo lançado como uma espécie de candidato laranja que tenta esvaziar, em favor da extrema-direita, a candidatura de João Doria, o elemento que, ao que tudo indica, será a opção da Terceira Via.
A fusão entre esses dois partidos tem em vista as eleições do ano que vem. Segundo eles, seria formada uma ‘superbancada’ que traria um orçamento de aproximadamente R$ 1 bilhão do fundo partidário. Dinheiro que será vital para viabilizar o candidato da Terceira Via. Além do dinheiro, esse super partido montará uma bancada com 80 deputados federais. O que deve servir de estímulo para que seus quadros não se bandeiem para o lado de Bolsonaro.
Doria ou Bolsonaro
A despeito de toda a briga, para direita nada é pessoal, são “negócios” apenas. Não se importam se Bolsonaro come pizza em pé na calçada e depois lambe os dedos. O fato é que ele não está rendendo o que se espera dele. Por isso a burguesia está apostando suas fichas em alguém mais ‘eficiente’, um candidato que não tenha quaisquer escrúpulos e que esteja disposto a fazer o que for necessário para conseguir o cargo de presidente.
A operação, como se vê, não é nada simples. Dentro do ‘centro’ o terreno é movediço. Bolsonaro deu uma enorme demonstração de força. E, já podemos dar como certo, se a ‘Operação Doria’ não vingar, a burguesia vai para o lado de Bolsonaro sem pestanejar.
A esquerda e a paralisia
Dentro da esquerda existem setores centristas e vacilantes que também sentem os efeitos da polarização. Flávio Dino e Marcelo Freixo deixaram seus partidos e foram para o PSB. PCdoB e PSol, por seu turno, estão tentando embarcar a Terceira Via dentro dos manifestações de esquerda, num claro descompasso que existe dento do Movimento Fora Bolsonaro. Ocorre que as manifestações do dia 12 foram um verdadeiro fracasso. Sendo assim, como continuar sustentando que a “unidade com todos que são contra Bolsonaro” é fundamental para se vencer as eleições, se esses todos não conseguiram encher a frente do MASP? Sem mencionar o fato de que esses ‘todos’ não são contra Bolsonaro, só estão tentando arrastar para si o enorme contingente que a esquerda agrega, muito maior que a direita, para viabilizar o candidato da “direita democrática”.
Frente de esquerda
A esquerda precisa aprender com direita pelo menos essa lição, não pode ficar parada diante das tarefas que a situação política nos impõe. Tem que tomar a iniciativa, deixar de ser reativa. Ficar a reboque do Congresso ou do STF é o caminho para a derrota.
Ontem, dia 21, o companheiro Rui Costa Pimenta esteve em um debate na Tribuna Proletária (assista). Dessa conversa podemos destacar um assunto bastante relevante que diz respeito à atual situação que estamos passando:
A esquerda tem capacidade para definir a situação política. Precisa organizar as tendências revolucionárias da população e não esperar que as coisas ocorram espontaneamente. A esquerda deve apresentar um programa de modificações políticas e econômicas para o Brasil. Os sindicatos têm que entrar em cena com a palavra ordem de proteção dos salários diante da inflação.
Se faz necessária uma frente que aglutine todos os partidos de esquerda. Nessa frente, devemos formar ainda uma outra frente, um núcleo revolucionário, com os elementos mais combativos desses partidos para que deem um rumo e impulsionem a luta.