Os Estados Unidos da América (EUA) interviram para que o Brasil não comprasse a vacina Sputnik V, da Rússia. É o que admite o relatório anual do próprio Departamento de Saúde e Serviços Humanos norte-americano. Denúncia de John McEvoy, no portal Brasil Wire, mostra como se deu o combate às “influências malignas nas Américas”, que, como cita o próprio documento, tinha como objetivo “impedir o aumento da influência de Rússia, Venezuela e Cuba no continente americano”. Ou seja, se o Brasil neste momento ultrapassa 11 milhões de infectados, caminha rapidamente para 300 mil mortos por coronavírus (278.229 no boletim de 14/03/21) e a campanha de vacinação não anda (apenas 1,69% da população recebeu as 2 doses) é, além da incompetência absoluta das autoridades, também por pressão dos grandes monopólios capitalistas, representados sobretudo pelos EUA.
Segundo o relatório, o Departamento de Saúde dos EUA coordenou com outras agências governamentais do País para “fortalecer laços diplomáticos” e oferecer “assistência técnica e humanitária” para fazer com que os países da região não aceitassem ajuda dos Estados “mal intencionados, Rússia, Venezuela e Cuba”.
Seriam essas “outras agências” norte-americanas, a CIA, a NSA, o Departamento de Estado e outros órgãos militares de inteligência e espionagem a oferecer “ajuda humanitária”? Foi assim que, segundo o próprio relatório, o escritório do Adido de Saúde do Departamento de Saúde foi utilizado para “persuadir” — leia-se, chantagear — o Brasil a rejeitar a vacina russa contra a Covid-19.
Isto explica a grande burocracia no Brasil para aprovar a utilização da Sputnik V, que é muito mais barata e eficiente do que as demais aprovadas até o momento no Brasil. A título de comparação, a CoronaVac utilizada na propaganda do golpista João Doria (PSDB) é uma das mais caras e possui eficácia de 50%, uma das mais baixas do mundo. A maior parte da vacinação que ocorreu até o momento no País foi feita com essa vacina. E por que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) não aprovou até agora a vacina russa? Agora fica escancarado: os monopólios capitalistas não querem! Querem apenas que os países atrasados comprem as vacinas dos seus laboratórios.
Isto porque eles tem interesses econômicos na questão da vacina em si, dado que é um grande negócio, em que as empresas capitalistas que fazem parte da indústria farmacêutica ficarão ainda mais ricas e poderosas. E também pelo aspecto geopolítico da questão, dado que a Rússia se coloca em contradição com o imperialismo, ao conseguir fazer frente, de forma relativa, neste caso, na questão das vacinas, o que lhe garantiria aumentar sua influência nos países atrasados, justo na área de dominação doméstica, no “quintal”, dos EUA.
A prova disso é que a Rússia foi o primeiro país a aprovar uma vacina contra a Covid-19 e desde pelo menos novembro de 2020, o Fundo Soberano da Federação Russa tinha acordo fechado com a União Química para a produção do imunizante no Brasil, o que permitiria vacinar 100 milhões em seis meses! Em um primeiro momento, este acordo se dirigia aos estados da Bahia e do Paraná, mas poderia ser ampliado, como explica o responsável pelo Fundo:
“Queremos garantir acordos com vários Estados, estamos conversando com cinco, mas temos limitaçeão sobre o tamanho da nossa produção… Podemos fornecer ao Brasil cerca de 100 milhões de vacinas, cada uma com dois shots (doses), em meio ano.” (Kirill Dmitriev, CEO – sigla para Chief Executive Officer, o Presidente – do fundo russo, em entrevista ao jornal Valor Econômico, em 2020)
Mas não parava por aí, o acordo também permitira a destinação de vacinas a outros países da América Latina. A Rússia também fecharia, então, parcerias para a produção da vacina na Índia, na Coreia do Sul, na Arábia Saudita, em Cuba e no México. Ou seja, os russos ganharam, com sua vacina, uma influência inconveniente para o imperialismo.
Este boicote dos países ricos, principalmente dos EUA, à campanha de vacinação dos países atrasados, como o Brasil, mostra que o aspecto econômico e político da pandemia. Os países imperialistas estão “se vacinando” primeiro e deixando o resto dos países para depois.
A consequência nefasta e criminosa desta política é que os países pobres que não produziram a própria vacina estão entrando numa situação cada vez mais catastrófica, totalmente reféns de países como os EUA e a Inglaterra, controlados por monopólios capitalistas que querem lucrar com a pandemia, não salvar a população.
Desta forma, a falta de vacinas no Brasil deve ser entendida não apenas como incompetência dos governos, mas sim como uma política geral do imperialismo para os países atrasados. É a ideia de salvar a economia “morra quem morrer” a nível mundial. Isto deixa claro que a política genocida de Bolsonaro e dos “científicos” não é apenas um problema nacional, mas sim uma imposição do imperialismo, que independente de milhões de mortos pela doença no mundo todo, quer aproveitar a pandemia para aumentar seus lucros.
Os governos brasileiros teriam que romper com o imperialismo e conseguir a vacina de qualquer jeito, seja através da quebra de patentes, etc. Mas obviamente que esses golpistas não querem fazer isso e não querem gastar com a vacina. Por isso, a única maneira de combater seriamente a pandemia é mobilizando os trabalhadores pela derrubada do governo Bolsonaro e de todos os golpistas e por um programa de reivindicações classistas dirigidas à crise sanitária e econômica.