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COTV Entrevista

“Israel está comprando uma briga com 1 bilhão e meio de pessoas”

O tema do último COTV Entrevista foi a agressão do estado israelense contra a Palestina. A convidada Chadia Kobeissi, jornalista libanesa e brasileira, falou sobre o assunto

O COTV Entrevista dessa última segunda-feira (31) recebeu a jornalista e escritora Chadia Kobeissi. Ela é brasileira com cidadania libanesa, com pais árabes, viveu no Líbano, tendo se refugiado na Síria no período da guerra entre Líbano e Israel. Ela trabalhou, por um período, como correspondente da Radio France International, tratando de questões relativas ao Oriente Médio. Chadia chegou a presenciar ataques israelenses contra o Líbano e tem grande conhecimento sobre os crimes israelenses na Palestina.

Durante o programa, foram tratados temas como a sua vida no Líbano e na Síria, a campanha criminosa da imprensa nacional e internacional contra os árabes, palestinos e muçulmanos e as agressões do estado de Israel contra o povo palestino. A convidada deu uma breve explicação sobre a formação do estado israelense em território palestino e como o seu verdadeiro sentido era o de criar um posto imperialista na região do Oriente Médio. 

Através de situações de sua própria vida cotidiana, Chadia explicou a sensação de se estar em um território atacado por um país fantoche do imperialismo. A partir daí também se pode ver a importância da organização dos povos oprimidos para reagir a esses ataques. Segue abaixo alguns dos trechos mais importantes da entrevista.

Chadia, em quais países você viveu antes de vir se restabelecer no Brasil?

Então, eu nasci no Brasil, estudei aqui até o colegial. Meu pai estava no Líbano, eu fui passar um tempo lá, gostei também, acabei ficando um tempo e depois toda a minha família foi pra lá. Meu sonho era fazer jornalismo, mas quando eu cheguei lá, meu inglês era fraco e o árabe também – sabia apenas o básico, algumas palavras poucas do dia-a-dia e tal. Aí eu pensei “não quero desistir desse sonho de estudar jornalismo, mas em árabe vai ser complicado”. Então, eu decidi fazer um curso intensivo de inglês e fiz jornalismo lá. Morei lá entre oito e nove anos, mais ou menos, foi o tempo da faculdade e um tempo que eu passei trabalhando lá, e aí depois voltei para o Brasil. Morar lá foi uma grande experiência, teve suas dificuldades e seus problemas, mas é um lugar incrível, maravilhoso. Bem diferente do que é mostrado na imprensa sobre os árabes e muçulmanos, que é muito tendencioso.

Você mencionou que trabalhou como correspondente de uma rádio, né?

Sim, eu trabalhei como correspondente da Radio France Internacional, ela cobre em 20 línguas, uma delas é o português, o inglês também. Eu trabalhei um tempo lá. E o Oriente Médio é o local das notícias, para um jornalista estar lá é muito importante, profissionalmente. E você acaba vendo um outro lado do mundo, diferentes conceitos, né. (…) Quando eu vim pro Brasil, eu fiz um livro chamado “Estado anti-islâmico” porque o Estado Islâmico se intitula assim, mas 99% dos muçulmanos é contra essa organização, inclusive porque eles mataram muitos muçulmanos, mais até do que cristão e etc.

Mas quando eu vim pro Brasil, eu reparei que o islamismo estava muito ligado à questão do “terrorismo”, o Onze de Setembro justificou todas as invasões dos Estados Unidos. Se fala muito sobre esses atentados, mas não mencionam que os EUA, quando estiveram no Iraque, mataram mais de 5 ou 6 mil crianças, na sua invasão em 2003. Aqui há muitos daqueles estereótipos, dança do ventre, mulher-bomba etc. (…)

Quando eu estava lá no Líbano, eu recebi uma proposta de trabalho de um canal brasileiro bastante conhecido e eles me disseram diretamente assim “você vai precisar mostrar mais o lado de Israel”, justo pra mim? Primeiro, que eu não vou me vender em nenhuma causa, especialmente em uma causa como essa. Eu, libanesa, vendo o sofrimento das pessoas na guerra, você acha que eu vou mostrar mais o lado de Israel? Aí eu não concordei. (…)

E, graças a deus, nessa rádio que eu trabalhei, eles davam bastante liberdade para mostrar os dois lados. E eu já falei desde o começo que não ia usar o termo “terrorista” para grupos tais e tais. E eles concordaram.

Você esteve no Líbano no começo da guerra entre eles e Israel, como foi a experiência?

Olha, em 2006 estava tendo Copa do Mundo, futebol, pessoal soltando fogos lá no Líbano. Lá, a maioria torce pro Brasil, até o Hezbollah cancelava as reuniões quando tinha jogo do Brasil, uma coisa assim. Aí, passou alguns dias e os fogos viraram bombas. Então você imagina, estava todo mundo alegre lá e de repente o cenário mudou.

Foi assim, houve confrontos na área fronteiriça de Líbano e Israel e estavam todos falando que poderia ter algum ataque, uma coisa assim. Aí, às 4:30 da manhã, 5 horas, todo mundo em casa acordou, os aviões de Israel voando rasteiro, bem assim, baixo mesmo e o barulho era muito alto. Eles já violam o espaço aéreo libanês, contra a resolução da ONU, frequentemente, isso é normal. Mas dessa vez, a gente sabia que não eram aviões de espionagem ou coisa do tipo, eram aviões, caça, aqueles de guerra mesmo. Passavam baixo, aquele barulho alto, todo mundo acordou. E os primeiros lugares que eles atacam são os aeroportos, pra ninguém fugir mesmo. 

Eu vivia lá no subúrbio de Beirute, que é justamente o reduto do Hezbollah, e lá tem muitos brasileiros, muitas brasileiras casadas com libaneses da região. E o pessoal veio falar conosco e disse “É melhor vocês irem para a Síria porque aqui no Líbano, a coisa vai ficar muito feia”. (…)

Eu lembro que atacaram a fronteira da Síria dez minutos depois de nós termos cruzado. Se eu tivesse “enrolado” um pouco mais em casa, nem estaria aqui hoje falando disso com você.

E como que você enxerga a situação de conflito entre Israel e Palestina?

Então, para falarmos disso precisamos voltar bastante no tempo. Em 1917, o Secretário de Relações Exteriores britânico mandou um carta para o líder da comunidade judaica na Inglaterra falando “vamos dar um apoio para que haja um estado judeu na Palestina”, e a questão é que o apoio não seria para os judeus que estavam na Palestina, mas sim para a Federação Sionista da Inglaterra. Eles iriam para lá e colonizar o povo, o lugar e a região. Isso em 1917, então já começou a surgir um apoio a esse movimento sionista naquela época, mas até as coisas se tornarem reais, isso levou algum tempo. Com o tempo, já começaram a fazer uma propaganda, a alimentar essa ideia para os judeus que estavam na Inglaterra. Mas por que fazer isso? Porque para a Inglaterra, a presença dos judeus (sionistas) numa região árabe é essencial.

É preciso deixar claro que não temos nada contra os judeus, nada contra a religião e nem contra as pessoas, a questão é com o sionismo, um movimento político de fazer prevalecer esse estado de Israel, independente de quem more lá, de quem já estava lá, de quem tenha que matar, expulsar de casa etc. esse que é o problema. 

A questão é que seria muito mais fácil se tivesse essa presença sionista no Oriente Médio. É uma região muito importante geograficamente, com muitos recursos, petróleo, acesso ao Canal de Suez. É muito importante que tenha alguém lá, um fantoche do imperialismo. Então foi como uma “sementinha” ali.

Aí, em 1948, a ONU estabeleceu que seria feito o Estado de Israel dentro da Palestina sem perguntar para os moradores se eles aceitavam a divisão de território ou não, e os árabes não aceitaram. Como não aceitariam em qualquer lugar, o que gerou uma resistência. (…) Resistir é um direito. (…)

Em 1948 foi feito um massacre ali na região, mais de 700 mil pessoas foram expulsas de suas casas e isso não é falado na imprensa ocidental. Obviamente que houve uma resistência, o pessoal não aceitou e tal. Aí, como se não bastasse, Israel continuou avançando sobre territórios que não eram deles nem mesmo segundo a ONU.

Aí, vamos trazer para a atualidade. Temos Jerusalém Oriental, a Cisjordânia e Gaza. Esses lugares são territórios denominados pela ONU para os palestinos. Mas até hoje, Israel continua construindo assentamentos ilegais nessas regiões, então eles não estão seguindo a resolução da ONU de ficar no território dado a eles pela Organização. 

Por isso que começou esse conflito mais recentemente, em Jerusalém Oriental. Eles tentaram construir assentamentos num povoado chamado Sheikh Jarrah, que se seguiu a muitos protestos, aí a polícia israelense entrou na mesquita de Al-Aqsa, que é um lugar, pros muçulmanos, muito sagrado, como o Vaticano para os cristãos, então foi um desrespeito muito grande, uma ocupação.

A partir daí, começaram certos conflitos e 300 palestinos ficaram feridos. Nisso, o Hamas respondeu. Quando houve essa invasão dos territórios de Sheikh Jarrah e na mesquita de Al-Aqsa, que não é um lugar sagrado apenas para os palestinos. Israel está comprando uma briga com mais de 1 bilhão e meio de pessoas, que são os muçulmanos, não respeitaram o Ramadã, já pegaram toda a nossa terra, é uma ocupação criminosa (…)

Os temas ainda foram muito debatidos e aprofundados pela convidada. Caso queira acompanhar a entrevista em sua integridade, acesse o link abaixo, do vídeo da Causa Operária Tv:

A luta palestina contra a opressão de Israel – COTV Entrevista nº 64 – 31/05/21

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