Um setor da direção do movimento de luta que está nas ruas hoje vem incansavelmente tentando emplacar uma política de colaboração com a direita, sob o pretexto de que a presença dos direitistas “arrependidos” agregaria popularidade aos atos e autoridade política nos pedidos de impeachment.
O fato é que os tais “arrependidos”, sendo eles arrependidos ou não, são figuras de direita, tanto do chamado centro político, como o PSDB, ou até elementos da extrema direita supostamente não bolsonarista, como Kim Katagiri, Alexandre Frota e Joice Hasselman.
O PSDB, que é o mais influente dos grupos que estão se infiltrando na mobilização, serve bem para ilustrar o quanto está errada a política da esquerda para “ampliar” os atos. O PSDB é inimigo histórico do povo brasileiro, destruiu a economia nacional durante o governo FHC e reprime os trabalhadores paulistas há décadas através do uso da polícia militar assassina do estado de São Paulo. A sua presença nos atos não só não agrega, pois o PSDB sofre de um esvaziamento político, algo natural para um partido do centro político em período de polarização política, como traz desconfiança sobre os atos da parte do povo, que odeia o partido que destruiu a economia nacional do âmago do seu ser. A presença desta direita só serve o propósito de reabilitá-la e dar nas mãos da burguesia o controle das manifestações.
Desde que a situação vem se encaminhando para a polarização, o partido sofre de um conflito interno entre dar uma guinada definitiva em direção à extrema direita bolsonarista, e evitar a polarização de acordo com o instinto de autopreservação política da burguesia. A ala extrema direita do partido teve à sua frente o governador de São Paulo João Dória, por sua cínica e oportunista oposição a Bolsonaro, hoje entra na lista de direitistas “civilizados” da frente ampla. Este conflito interno evidencia que o partido, se está hoje contra Bolsonaro, não é por convicção ou ideologia, mas por uma manobra oportunista da burguesia para retirar Bolsonaro e colocar um direitista mais palatável no poder, o que tem sido chamado na imprensa de terceira via.
A verdade é que a chave para a expansão dos atos está na própria esquerda, mais especificamente nas organizações populares e partidos, o público das manifestações ainda é muito restrito, apesar do tamanho das manifestações. As verdadeiras bases da esquerda não estão nas ruas, e mobilizá-las é o que falta para o movimento ganhar um verdadeiro caráter de massas.
Quando vemos as manifestações, sentimos a falta dos sindicatos, que contém os setores mais organizados da classe operária, e organizações de massa como o MST, que sempre que vai aos atos, vem em peso trazendo os sem-terra, outro setor oprimido da sociedade.
Isso apesar de ser o certo, não acontece. O normal seria que antes de convocar os outros, a esquerda mobilizasse sua própria base, mas ela neste momento se vê desconectada da sua base, pois está voltando às ruas após um ano e meio de paralisia, algo que deixou as organizações “enferrujadas” e sem noção da situação da sua base.