Não é nenhuma novidade para a população de Florianópolis, e sobretudo para os trabalhadores e suas famílias, a discussão em torno da entrega da Companhia de Melhoramentos da Capital (COMCAP), uma das principais empresas públicas da cidade, já transformada em autarquia no passado e que agora sofre diretamente com a ameaça de privatização.
O prefeito Gean Loureiro (DEM), reeleito em 2020, é o principal encabeçador desta política junto aos capitalistas da cidade e também de fora do estado. No início de 2021, os trabalhadores da COMCAP realizaram uma forte greve, que durou cerca de duas semanas; realizaram grandes manifestações que tiveram como estopim o projeto levado à frente pelo prefeito da cidade que tinha como objetivo atacar uma série de direitos trabalhistas, conquistados pelos funcionários da empresa ao longo dos anos.
Contudo, foi junto a esta política de destruição de direitos que a prefeitura de Florianópolis passou a incorporar de maneira sorrateira a iniciativa privada na realização do trabalho de coleta na capital de Santa Catarina. Durante a greve, a prefeitura iniciou seu projeto de entrega da empresa, utilizando-se do pretexto da necessidade do serviço continuar em funcionamento.
Mesmo com o término da greve, no início de fevereiro, a prefeitura de Florianópolis não recuou com o projeto de terceirização do trabalho, e atacando os principais pontos do acordo coletivo da categoria continuou a impulsionar a atuação da iniciativa privada, sobretudo da empresa Amazon Fort, empresa que vem ganhando abertura em outras cidades do país, com a privatização da coleta e que já recebe inúmeras denúncias de ataques ao meio ambiente e superfaturamento.
O golpe é inclusive milionário, a prefeitura de Florianópolis vem destinando R$1,4 milhão à empresa que realiza um trabalho muito mais limitado do que o já feito pela COMCAP em toda sua história. A região continental de Florianópolis já foi entregue para os trabalhos da iniciativa privada sem qualquer base legal, um grande golpe contra a categoria, e agora denúncias indicam que Gean pretende implementar esta política na região norte da ilha, minando cada vez mais o trabalho da COMCAP.
Em resposta a esta situação, os trabalhadores em conjunto com o sindicato da categoria, SINTRASEM, declararam estado de greve e vêm organizando mobilizações nas últimas semanas. A disposição dos trabalhadores é cada vez maior, e ouve-se no interior da categoria declarações que apontam que a próxima greve será muito mais radicalizada.
A COMCAP tem uma categoria extremamente politizada, vi nas intervenções de diversos trabalhadores nas últimas atividades uma forte consciência de que a luta contra a privatização é em grande medida uma luta política, contra os interesses empresariais representados por Gean Loureiro. Vi também nas recentes atividades em torno da candidatura de Lula o apoio expresso por trabalhadores da COMCAP que estavam presentes no local, é vivível a rápida radicalização da categoria em meio à crise.
É importante, neste sentido, compreender que para a evolução da luta política contra a terceirização é preciso uma intensa mobilização. Não é mais um mero problema de luta econômica por reajuste, mas sim uma luta contra o prefeito Gean Loureiro, o responsável direto por esta política criminosa, que irá afetar diretamente milhares de pessoas em toda a cidade. Fica claro que a COMCAP aqui presta um papel fundamental para a mobilização dos trabalhadores, de levar à frente a campanha pelo Fora Gean, um mero representante do regime golpista na capital de Santa Catarina, que serve aos mesmos interesses de Doria em São Paulo e Bolsonaro a nível nacional. O Fora Gean é uma realidade para todas as categorias de Florianópolis, uma necessidade expressa nos brutais ataques feitos aos trabalhadores.
Além disso, destaca-se a importância da organização de comitês de luta em todos os setores da categoria, é necessário criar uma base de mobilização em todos os lugares, sendo a única forma de combater a entrega total da empresa. O exemplo da Corsan no Rio Grande do Sul, totalmente entregue para os capitalistas graças à ação de BolsoLeite, mostra que a única forma de barrar estes ataques é tomando as ruas, organizando a greve e mobilização de toda a população.
O próximo período será decisivo para a COMCAP, iniciando pelos atos do dia 7 de setembro e continuando na mobilização contra o golpista Gean Loureiro.