Quando pensamos em superlotação do sistema carcerário, países como os Estados Unidos e o Brasil são os primeiros que nos vem à cabeça. Tortura aos presos, falta de saneamento básico, alta incidência de doenças — um descaso total que vem constantemente a tona, sobretudo na ocorrência de alguma rebelião ou chacina orquestrada pela polícia contra os presos.
Mas o palco do nosso acontecimento dessa vez não é um país atrasado ou com altas taxas de desigualdade, mas sim um dos ditos “oásis da civilização”: a Dinamarca. Considerado como tal, em conjunto dos países nórdicos, suas condições de vida eram claramente mais altas, quando comparadas ao restante da humanidade. Falar em países como a Dinamarca era quase como falar em outro planeta, onde todos são felizes e conseguem tudo o que querem.
Apesar disso, o tempo é amigo da verdade. Em face da crise mortal a qual vive o capitalismo, nem mesmo uma peça de propaganda do sistema como a Dinamarca consegue se manter firme. Foi a vez do oásis se ver de frente com os problemas e contradições do capitalismo.
Nos próximos 10 anos, o Kosovo irá receber € 210 milhões (cerca de R$ 1,34 bilhão) para melhorar seus sistema carcerário e alugar celas para a Dinamarca “exportar” cerca de 300 presos estrangeiros, como forma de aliviar a superlotação. De acordo com o órgão responsável pela administração penitenciária no país, até 2025 o déficit será de 1.000 vagas para os presos.
A medida teve apoio da direita, da extrema-direita e até mesmo do que é considerado a “esquerda dinamarquesa”, como o Partido Socialista do Povo (Socialistisk Folkeparti – SF), que afirmou que isso seria uma vantagem pois, além de diminuir a superlotação, dá melhores condições ao trabalho dos agentes penitenciários.
É evidente que uma medida dessas é um absurdo. Os presos — pessoas de fora da União Europeia que deveriam ser deportadas após suas sentenças serem cumpridas — são tratados como cargas, coisas que ocupam espaço e estão lá porque incomodam a burguesia, assim como se esperaria de um sistema carcerário no capitalismo. É importante ressaltar que a questão não gira em torno do aliviamento da superlotação, mas sim da causa do porquê tantas pessoas estão sendo presas, se elas sequer deveriam estar ali e o que isso efetivamente ajuda em sua reintegração na sociedade.
Não são poucos os exemplos de medidas repressivas que foram implementadas e seu nível de repressão contra a população foi aumentando com o tempo, e com essa não será diferente. A decisão tende a se tornar mais nazista, uma vez que, além de ser a forma a qual a burguesia encontrou de se livrar do que eles consideram como o lixo da sociedade, também não é algo que resolve efetivamente o problema, o que significa que, com o aumento incessante da crise capitalista, fatores como a desigualdade, a pobreza, a miséria e o crime tendem a aumentar exponencialmente, e nem mesmo os oásis irão conseguir esconder tal fato.