A miséria no País está atingindo níveis catastróficos. Eis o resultado da política econômica que os golpistas impõem ao povo. Por isso mesmo, se há um remédio imediato mais eficaz para o problema da fome é a derrota do golpe de Estado, de Bolsonaro e todos os seus aliados, incluindo aí e principalmente os que agora procuram aparecer como oposição: o PSDB, a imprensa capitalista e os partidos da direita.
Isso é importante, pois medidas meramente demonstrativas não vão resolver o problema do povo. Na última semana, Guilherme Boulos foi elogiado na imprensa burguesa por ter organizado um visita no vão livre da Bovespa. Levou alguns militantes do MTST e do PSOL, ficaram por ali cerca de uma hora e foram embora. Segundo ele, o ato foi um protesto contra a fome. O “protesto”, a julgar pelo comportamento cordial da imprensa golpista, não pareceu ter incomodado ninguém e serviu mesmo como propaganda eleitoral de Boulos.
Algo parecido se repetiu nessa quinta-feira (30). Boulos organizou uma “ocupação da rua do condomínio em que vive o senador Flávio Bolsonaro”, segundo palavras da colunista da Folha de S. Paulo, Mônica Bergamo. Mais uma vez, com destaque amigável da imprensa golpista, Guilherme Boulos faz um ato demonstrativo.
Se a ocupação do vão livre da Bolsa de valores foi um ato demagógico e sem nenhum efeito real, ocupar uma rua em frente ao condomínio parece ainda menos perigoso. Talvez as madames, vizinhas de Flávio Bolsonaro (sua mansão custou quase R$ 6 milhões), tenham se incomodado com a presença de algumas dezenas de pessoas por ali, foi o máximo de radicalismo que se conseguiu.
De resto, conforme está claro pela divulgação feita por Mônica Bergamo, o saldo para Boulos foi mais uma propaganda eleitoral do pré-candidato ao governo paulista.
A primeira coisa que deve ser dita, então, é que, muito diferente do que o PSOL e Boulos querem dar a entender, a ação não tem nada de radical. Trata-se de uma ação inócua: obviamente não vai resolver o problema da fome, mas também não tem efeito na luta contra o golpe.
Não há nenhum problema em fazer ações demonstrativas, mas é preciso deixar claro qual o conteúdo político e a serviço de quem está sendo feita tal ação. Guilherme Boulos conta com o apoio da imprensa golpista e, portanto, do setor mais poderoso da burguesia, porque sua ação – apresentada como grande demonstração de radicalismo – serve aos interesses políticos da burguesia, na propaganda eleitoral contra Bolsonaro com vistas às eleições de 2022, que a burguesia espera encontrar um candidato alternativo da terceira via.
Ao aparecer fazendo um ato contra a mansão de Flávio Bolsonaro, Boulos reforça a ideia de que apenas Bolsonaro é responsável pela fome no País, como se justamente a Folha de S. Paulo e a terceira via não fossem mais responsáveis que ele pela miséria. Boulos é agente desse setor da burguesia.
Em troca, o candidato do PSOL faz campanha eleitoral para ele mesmo. Aparece como combativo na imprensa para conquistar os votos de setores ingênuos de uma classe média liberal.
Esse é o conteúdo da ação de Boulos. Para os que, ingênuos, pensam que tudo isso é produto de uma confusão política e não de uma política consciente, é preciso se lembrar que Boulos é um dos principais defensores da aliança da esquerda com a direita golpista por meio da frente ampla. Boulos e o PSOL defendem a presença da direita nos atos da esquerda como querem fazer no próximo dia 2, convidando a escória golpista para as manifestações.
Seu radicalismo de aparência, divulgado com a ajuda da Folha e com objetivos eleitorais, serve para esconder sua política hiper pelega nas mobiliações. A luta dos sem teto está sendo usada para esses objetivos completamente estranhos aos militantes do movimento e também daqueles milhares de brasileiros que estão sofrendo com a fome e a miséria.