Sexto dia de manifestações pelo Fora Bolsonaro, o dia 7 de setembro será marcado não apenas pelas novas mobilizações populares, como também pela política de boicote realizada por setores da esquerda pequeno-burguesa, defensores da frente ampla. Agora, nesta semana, a principal notícia sobre as manifestações tem sido a entrega do local do principal ato da esquerda em todo Brasil nas mãos dos bolsonaristas.
Avenida Paulista para os fascistas
Segundo informações divulgadas pela imprensa burguesa, a Justiça do Estado de São Paulo, com base na ideia de realizar um “rodízio” da Avenida Paulista entre manifestantes da direita e da esquerda, aprovou que o local será destinado neste dia 7 ao ato dos bolsonaristas, em um claro golpe contra todo movimento popular.
Convocando o ato para o mesmo dia que as forças populares, a extrema-direita bolsonarista convoca também suas bases a se manifestarem em algumas das principais cidades do país. A intenção é defender o governo golpista e o fascista Jair Bolsonaro contra a onda de manifestações populares que pedem a derrubada do regime político. Contudo, o que mais chama a atenção não é tanto a ação da extrema-direita, mas sim a política em favor dos golpistas levada a frente por Guilherme Boulos (PSOL) que garantiu que em São Paulo, local da principal manifestação do país, a justiça do estado agisse e impusesse que a Avenida Paulista, local tradicional das manifestações da esquerda, fosse destinada unicamente aos fascistas.
A esquerda será obrigada a manifestar-se em outro lugar, e a culpa disso tudo é sobretudo do líder do movimento “Povo Sem Medo” e defensor da frente ampla, Guilherme Boulos.
Há cerca de um ano, quando em junho de 2020 manifestações começaram a surgir em diversas cidades do Brasil, tendo como destaque principalmente São Paulo, convocadas pelas torcidas organizadas, Boulos deu um golpe em todo movimento.
Em todos os domingos, as torcidas organizadas e militantes da esquerda ocupavam a Avenida Paulista em uma crescente mobilização. Nas ruas, os fascistas foram expulsos pela força e a mobilização popular se desenvolvia rapidamente logo nos primeiros meses da pandemia, rompendo com a política do “fique em casa”. As manifestações acompanhavam também o impulso dado pelos grandes atos realizados nos Estados Unidos com a morte de George Floyd. No entanto, aliando-se com a burguesia golpista, Guilherme Boulos fez um acordo, sem o restante do movimento ser informado, segundo o qual os atos na Avenida Paulista sofreriam de um “rodízio” com os bolsonaristas, e a esquerda e os fascistas não poderiam mais se defrontar nas ruas. O ato na Avenida Paulista não seria de quem chegasse primeiro, mas sim da seguinte maneira: em um dia, é a direita; no outro, a esquerda; no seguinte, a direita de novo.
O golpe de Boulos contra a mobilização popular
A ação que veio com o pretexto de “garantir a segurança” dos manifestantes, na verdade foi um grande auxílio aos fascistas e ao regime golpista. Enquanto a esquerda se confrontava nas ruas com os bolsonaristas, o movimento popular crescia rapidamente e a extrema-direita se via cada vez mais intimidada pela força da mobilização. Isso pode ser comprovado, pois durante todo o mês de julho, após a expulsão dos fascistas em São Paulo, a extrema-direita teve muita dificuldade de reorganizar seu movimento. Contudo, com o acordo feito por Boulos, que se passou de “representante do movimento” (sem ter sido eleito por ninguém), a extrema-direita teve passe livre para ir às ruas, sem precisar temer a mobilização popular.
Na época, o acordo de Boulos serviu para desmobilizar o movimento popular, impedindo assim que ele fosse realizado todos os domingos, como estava ocorrendo. Por outro lado, a extrema-direita a partir deste momento levantou a cabeça e passou a organizar novos atos nacionais, sendo barrada novamente apenas com a volta das manifestações populares neste ano de 2021.
E, para piorar, nos dias combinados por Boulos para a esquerda ir às ruas, seu partido (PSOL) e seus aliados simplesmente sumiam das ruas. Contra essa traição colossal, o PCO e os Comitês de Luta tomaram a iniciativa de realizar essas manifestações nos dias em que Boulos havia combinado com a PM de Doria mas que não levava ninguém às ruas. E nos dias em que a Paulista estava reservada por Boulos e Doria aos bolsonaristas, o PCO e os Comitês realizaram manifestações em outros locais, como na Praça Roosevelt (centro da cidade).
Dessa maneira, com a manutenção deste “acordo” ditatorial realizada por Boulos com a justiça de São Paulo, a manifestação deste dia 7 sofreu um forte ataque. Impedida de ir à Avenida Paulista, a esquerda e os trabalhadores perderão o principal ponto de mobilização, tradicional de toda a esquerda para a ação dos fascistas.
A aprovação do governo Doria em apoio ao ato fascista também demonstra a política totalmente golpista do governador, que se une aos bolsonaristas para atacar a esquerda. Doria é o principal nome da burguesia dita “democrática” da qual Boulos e uma parcela da esquerda pequeno-burguesa, como o PCdoB, tentam se aliar visando barrar a candidatura de Lula.
A Avenida Paulista é dos trabalhadores!
Sobre esta ação, Boulos não protestou e de forma omissa ignorou este novo ataque contra todo o movimento, do qual ele é diretamente responsável. Perder a Avenida Paulista não é apenas uma política de desmobilização, como também serve para fortalecer os atos bolsonaristas. Com a esquerda ocupando as ruas, a extrema-direita seria confrontada por uma grande mobilização popular e sua manifestação terminaria completamente esmagada pelos trabalhadores.
Porém, assim como ocorreu em 2020, Guilherme Boulos tratou de dar caminho livre a todo movimento fascista, permitindo que o mesmo estivesse nas ruas na principal cidade do país. Os resultados do acordo realizado com a polícia paulista reforçam as denúncias feitas tanto pelo Partido da Causa Operária quanto pelas torcidas organizadas em 2020, quando a política de “rodízio” iniciou graças à ação de Boulos.
Hoje, esta política gerou ataques ainda maiores, aprofundando o boicote às manifestações dos trabalhadores de todo país.
É visível que mesmo com esta decisão, o movimento ainda deseja tomar a Avenida Paulista, custe o que custar. Sentindo a pressão da mobilização, as próprias direções do movimento Fora Bolsonaro ainda não abondaram a ideia de tomar a Avenida Paulista, mesmo com a presença dos bolsonaristas. A ação de defender a mobilização da esquerda na Paulista é o caminho correto, porém, independente deste problema, Boulos precisa ser denunciado como um claro agente contrário à mobilização. É a isto que serve, afinal, a política da frente ampla.