A anulação das condenações do ex-presidente Lula nesta segunda-feira (8) teve repercussão gigantesca, dominando as manchetes tanto da imprensa progressista quanto dos monopólios capitalistas da comunicação. Em meio ao turbilhão provocado pelo restabelecimento dos seus direitos políticos, os representantes do mercado financeiro voltaram ao noticiário para deixar clara a posição dos seus patrões.
Enquanto Lula era tratado como carta fora do baralho, inclusive por carreiristas políticos da esquerda, o setor mais poderoso dos capitalistas procurou impulsionar políticos da direita tradicional. Travestidos de “científicos” para simular uma oposição à Bolsonaro, políticos tão direitistas e anti-populares quanto o ilegítimo presidente, foram vendidos como alternativas “democráticas” pela imprensa burguesa. Entre eles, o psicopata João Doria (PSDB), atual governador de São Paulo, e Luciano Huck, representante da principal empresa do monopólio das comunicações no Brasil, a Globo.
Agora, os parasitas do mercado financeiro estão tendo que tirar as máscaras científicas e democráticas. Com a economia capitalista em frangalhos, a dependência desse setor em drenar o máximo dos recursos do Estado é cada vez maior. Para eles, qualquer sinalização de transferência de recursos públicos para a população mais pobre, através de programas de assistência social, é um ataque aos seus interesses. Nenhum “analista” do mercado apareceu para criticar a pornográfica transferência de 1 trilhão de reais para os bancos, por exemplo, mas ficam de cabelo em pé diante de auxílios mixurucas para o povo.
As manobras para derrotar Lula nas eleições foram a rotina no Brasil desde as eleições de 1989, mas diante da crise política se tornam cada vez mais complicadas. Até emplacar os candidatos preferenciais dos capitalistas tem sido uma missão quase impossível. Por isso a direita se uniu em torno de Bolsonaro em 2018. E isso com Lula preso e impedido de concorrer.
Outra frente de ação aberta são as alternativas supostamente esquerdistas, como Boulos, Ciro Gomes e Manuela D’ávila. A manobra não é nova e teve relativo sucesso ainda nas eleições de 2018. Na cidade de São Paulo, parte da militância do PT foi induzida até a não votar no próprio partido nas eleições municipais no ano passado, o que serviu para garantir a reeleição de Bruno Covas (PSDB) e para impulsionar uma das alternativas “esquerdistas” ao PT em 2022: o PSOL de Boulos.
Até segunda-feira, a estratégia mais explícita na imprensa burguesa era de impulsionar a direita tradicional como sendo científica e democrática. Mas com Lula no páreo, a direita teme dividir os votos entre dois candidatos e assim permitir que o PT chegue com tranquilidade ao segundo turno, diminuindo sua margem de manobra. Diante desse cenário, o recado dos capitalistas é claro: vamos de Bolsonaro mesmo. Para quem não cai na conversa mole da direita tradicional, esse posicionamento é bastante óbvio, mas setores da esquerda insistem em acreditar no conto de fadas da direita “civilizada” ou “democrática”. Os políticos direitistas representam os interesses da burguesia e esses interesses se contrapõem às necessidades do povo, não dá pra contornar esse fato.
Na defesa das reformas prometidas pelo “Chicago Boy” Paulo Guedes, o “mercado” não se preocupa nem com o negacionismo da pandemia nem com qualquer loucura que saia da boca de Bolsonaro. Os capitalistas são pragmáticos, querem que o patrimônio público brasileiro seja entregue de bandeja. Fazendo isso, o resto está liberado. Um Doria ou um Huck seriam provavelmente mais eficazes para cumprir essa função, sem perder tempo com demagogias com a extrema-direita ou recursos com a burocracia militar. Por isso, essas candidaturas vem sendo impulsionadas, inclusive ensaiando configurações de frente ampla que arrastam parte da esquerda também.
No entanto, Lula é uma pedra no caminho dessa frente ampla. Até o mais inconsequente dos “crackeiros eleitorais” da esquerda hesita em apontar um nome mais forte para a disputa presidencial. E o ex-presidente traz a tona todo o desenrolar da crise política dos últimos anos: a perseguição política contra a esquerda, a Lava Jato, o golpe de Estado e a fraude eleitoral em 2018. Essa polarização coloca a nu os demagogos da direita e da esquerda. Enquanto parte da esquerda se resigna e procura disfarçar suas posições, a direita é muito mais decidida e explícita. Assim como apoiaram todas as arbitrariedades contra Lula e contra o PT, apoiaram Bolsonaro em 2018 e vão apoiar novamente para impedir um novo governo esquerdista, mesmo que moderado.
É preciso ter claro que todo esse medo dos especuladores financeiros é um sinal de que a candidatura Lula é a única que realmente preocupa esse setor parasitário da economia. O ex-metalúrgico, forjado como liderança sindical num momento de intensa polarização política no Brasil, é conhecido em todos os rincões do país e tem a perigosa capacidade de mobilizar amplas massas populares. Não tem meio-termo, é Lula ou Bolsonaro.