As mobilizações contra a comemoração do golpe militar de 1694 convocadas pela esquerda representam uma grande vitória política sobre a extrema-direita fascista. Nas 32 cidades do Brasil e do exterior, os atos da esquerda levaram muito mais gente às ruas e demonstraram grande combatividade. Isso significa que setores do ativismo compreenderam o perigo da ameaça de golpe militar e a urgência de tomar as ruas.
Na cidade de São Paulo, a manifestação contou quase mil pessoas e terminou seu itinerário em frente ao prédio do antigo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), centro de repressão política e tortura de presos do regime militar. No Rio de Janeiro, o ato reuniu centenas de manifestantes com faixas, cartazes, apresentações musicais e discursos contra o governo Jair Bolsonaro e o golpe militar. Aconteceram outras manifestações em capitais e cidades interioranas de todas as regiões do Brasil.
Os comitês de luta organizaram manifestações no exterior. Portugal, Alemanha, Reino Unido, Espanha, Áustria, Finlândia, EUA e Canadá registraram atividades de repúdio aos 57 anos do golpe militar que derrubou o presidente João Goulart e instaurou a ditadura que se prolongou por vinte e um anos.
A extrema-direita convocou seus atos, que fracassaram miseravelmente. O maior ato fascista do País aconteceu na capital paulista e reuniu 100 pessoas em frente ao Comando Militar do Sudeste. Os fascistas tentaram forçar a entrada no quartel do Exército, porém foram contidos pelos militares. Eles pronunciavam palavras de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL, sem partido) e exigiam a intervenção militar.
No Rio de Janeiro, os fascistas se concentraram na orla de Copacabana com menos de 100 pessoas. Na capital paraense, Belém, a Polícia Militar dispersou um grupo de fascistas que se reuniu em frente ao Quartel General em Belém. Em Palmas (TO), sete pessoas se reuniram diante do 22º Batalhão de Infantaria.
O esvaziamento dos atos da extrema-direita é notório, apesar da convocação oficial por parte do presidente Jair Bolsonaro e pelas Forças Armadas com autorização da Justiça. A esmagadora maioria dos participantes de atos em prol da ditadura militar era de idosos saudosistas daquele período.
Pelo contrário, nos atos da esquerda a composição social foi bastante heterogênea. Militantes de diversos partidos políticos compareceram, como os do Partido dos Trabalhadores (PT), Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), dirigentes sindicais, ativistas dos movimentos sem-terra, negro, feminista, LGBT, artístico. A juventude compareceu e demonstrou grande disposição à luta. Trabalhadores e operários de distintas categorias responderam ao chamado nas ruas.
Na cidade de Araraquara, interior de São Paulo, um provocador fascista vestido de verde e amarelo compareceu ao ato e foi escorraçado pelos manifestantes na Praça Santa Cruz, zona central. O vídeo do confronto ganhou grande repercussão nas redes sociais e incitou o debate sobre a forma como se deve lidar com os provocadores da extrema-direita.
A desproporção no número de participantes nos dois atos comprova a crise do bolsonarismo, que não foi capaz de mobilizar suas bases sociais fascistas. A catástrofe do governo Jair Bolsonaro, que conta com mais de 13 mil militares da ativa e da reserva em postos civis, dificulta a comemoração da ditadura militar. Uma crise entre Jair Bolsonaro e os comandantes das três Forças Armadas, Exército, Marinha e Aeronáutica, eclodiu pouco antes do dia 31 de março. Pela primeira vez na história, três comandantes saíram simultaneamente.
No passado recente (2019), Bolsonaro havia proposto a comemoração da ditadura. Durante as quase três décadas que atuou como parlamentar, o atual presidente fez apologia da ditadura, da tortura, dos assassinatos e do golpe militar de 1964.
O que falta para mudar a situação política é os partidos de esquerda, movimentos sociais, sindicatos e o conjunto dos ativistas tomarem as ruas. Não será possível derrotar o governo Bolsonaro e as ameaças recorrentes de golpe militar sem uma ação enérgica nas ruas. É preciso romper de vez com a política de paralisia e conciliação com o governo genocida da extrema-direita.
As Forças Armadas tiveram papel de relevo no golpe de Estado de 2016 e na fraude eleitoral de 2018, que se materializou com a prisão do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva (PT), primeiro colocado nas pesquisas eleitorais. Elas têm total alinhamento com a política do presidente fascista, compõem o governo e participam do genocídio do povo brasileiro. Segundo dados do Ministério da Saúde, são mais de 12 milhões casos confirmados de coronavírus e 317 mil mortes. Novos recordes de mortes são batidos diariamente.
Fascistas em ato em frente ao Comando Militar do Sudeste (SP).