A perseguição contra a classe artística brasileira vem crescendo exponencialmente durante as medidas restritivas da pandemia do coronavírus. Em meio ao fechamento dos mais antigos e conhecidos bares, teatros, palcos e clubes do país, o palhaço baiano Gugu Dada, nesta sexta-feira (19), ao tentar se apresentar no metrô de Salvador, foi impedido pelos guardas de adentrar no serviço. Como diz em seu vídeo-desabafo, durante vários dias tentou se apresentar nos vagões e nos ônibus da capital e fora impedido.
Geralmente o artista faz o trecho Salvador/Itaparica diariamente, onde se apresenta como o palhaço animado, fazendo festas, brincando, cantando músicas e dando dicas para crianças sobre a importância dos estudos e do respeito ao próximo. Nascido em Conceição do Almeida, atualmente é morador de Salinas das Margaridas, ambos municípios baianos, e faz o serviço há aproximadamente nove anos.
O palhaço ficou regionalmente conhecido através de uma reportagem de 2018 da TV Aratu, onde Mário, nome de batismo do palhaço, contou sua história. Órfão de mãe, não conheceu o pai e, com as dificuldades na vida, foi morador de rua e passou a trabalhar se apresentando no transporte público da capital baiana. “Minha mãe foi abusada, segundo informações. Quando eu nasci, eu acabei passando por muitas situações, usei drogas também, minha mãe tentou me matar quando eu era pequeno, é o que as pessoas falam”, disse na época. Agora, em 2021, Gugu Dada está tendo de enfrentar mais um grande problema: levar comida para casa no meio da pandemia do COVID-19.
Ao ser proibido pelos funcionários da prefeitura de Salvador de se apresentar nas dependências do sistema público de transporte, Mário, revoltado, gravou um vídeo onde argumenta, de forma bastante lógica, que os funcionários agiram de forma racista e abusiva consigo por ser negro. Sustenta que apenas estava tentando levar para sua casa o pão de cada dia, e que não existem leis que pudessem impedir suas apresentações humorísticas. “Do que adianta mandar ficar em casa, e a gente que é correria não poder levar nosso pão para casa?”, pergunta.
Conforme o dito pelo palhaço, é cada vez mais claro que o lockdown sem auxílio financeiro e suporte ao povo não serve de nada. Quer dizer, serve para uma única coisa: matar o povo trabalhador de fome. É fato que o suposto combate ao COVID também está sendo utilizado para aumentar a repressão policial-estatal. Acontece que ela, aparentemente, continua com o mesmo foco de sempre: o povo pobre, o povo negro e o povo periférico de nosso país.