A restituição dos direitos políticos do ex-presidente Luis Inacio Lula da Silva alterou o quadro político e eleitoral para 2022. É amplamente reconhecido que Lula é o candidato mais popular do País e aparece com cerca de 50% das intenções de votos em todas as pesquisas, por mais manipuladas que sejam. O fato é que mesmo os institutos de pesquisa à serviço da burguesia não conseguem esconder essa realidade.
Há uma pressão social sobre a esquerda para apoiar a candidatura de Lula e o Partido dos Trabalhadores (PT), uma vez que é evidente que o ex-presidente e seu partido – o maior partido de esquerda da América Latina – são os únicos capazes de derrotar Jair Bolsonaro (ex-PSL, sem partido) em uma disputa presidencial. Entretanto, a burguesia articula uma manobra política, a frente ampla, para subordinar a esquerda aos setores burgueses que se declaram como de “oposição” a Bolsonaro, mas que foram fundamentais na fraude eleitoral de 2018, como o PSDB, DEM e PDT.
O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), já deu declarações sobre a montagem da frente ampla em torno da candidatura do Lula. Em sua visão, é possível unir o PT e Lula aos partidos de direita. Ciro Gomes (PDT) é cotado para fazer parte desse bloco político. Dino cita como exemplos de união da esquerda com a direita seu próprio governo, cujo vice-governador é do PSDB. Nas eleições municipais, em diversos casos a esquerda se aliou com a direita em nome da suposta “luta contra o bolsonarismo”.
Guilherme Boulos, ex-candidato pelo PSOL, também advoga na mesma linha. A ideia é avançar na estruturação da frente ampla com a direita “civilizada” e “democrática”.
A manobra que é chantagear o PT, partido que tem mais votos e importância política e social, para que abra mão de sua candidatura e apoiar algum outro candidato do bloco político da frente ampla. Caso isto não seja possível, forçar o PT a fazer o máximo de concessões para os partidos direitistas e oportunistas. Se o PT não ceder às pressões, existe a cartada de acusá-lo de “hegemonismo”, um recurso frequente de Ciro Gomes.
Não é possível compreender a razão pela qual o partido que tem mais votos teria que abrir mão de sua liderança política em prol de partidos que têm menos votos. O protagonismo do PT não é um fenômeno artificial, mas resultado de sua ampla base social, penetração nos movimentos populares e, principalmente, em virtude de dirigir a Central Única dos Trabalhadores (CUT).
Se a unidade é vista como essencial para a derrota de Jair Bolsonaro, é só declarar apoio desde já à candidatura de Lula. Todos os partidos e forças políticas que realmente estão preocupados com a derrota da extrema-direita devem declarar apoio à candidatura de Lula.
Flávio Dino e Guilherme Boulos são dois políticos oportunistas. Não participaram na luta pela libertação de Lula e tampouco nas mobilizações em prol da restituição dos seus direitos políticos. Boulos e o PSOL sempre se dedicaram a ações propagandísticas, de forma a passar a impressão de que participavam nas lutas. Por sua vez, Dino e o PCdoB têm menos necessidade de disfarçar, uma vez que têm ligações sólidas com a direita tradicional, que organizou o golpe de Estado de 2016, a fraude de 2018 e pôs Jair Bolsonaro na presidência da República.
O fato é que a burguesia golpista não aceita Lula. Devido ao nível de desmoralização da Lava Jato e do próprio Supremo Tribunal Federal, é complicado retirar o ex-presidente da disputa com uma medida meramente burocrática. É preciso acionar outros recursos.
A ala esquerda da frente ampla, casos de Boulos e Dino, é o recurso que a burguesia mobiliza para confundir o panorama político. As declarações de Ciro Gomes contra o PT e Lula, bem como as acusações de “hegemonismo”, “corrupção” do “lulopetismo”, são parte da estratégia de isolar o PT.
Em sua essência, a Operação Abutre está em marcha para isolar Lula e o PT, apresentar uma “nova esquerda”, inofensiva e completamente integrada ao regime político, sem base social de massas e incapaz de ameaçar os interesses da burguesia. Os abutres Ciro Gomes, Flávio Dino e Guilherme Bous querem o amplo eleitorado petista e se dedicam a tentar ocupar o espaço político do PT.
A candidatura de Lula coloca em xeque o regime político antidemocrático que se montou na sequência do golpe de Estado. A esquerda deve ficar completamente neutralizada, sem qualquer possibilidade de disputar o poder político. Devido à sua ampla base social e projeção nos movimentos populares, Lula é um obstáculo objetivo para que isto se concretize.