As mobilizações contra a aprovação pelo Supremo Tribunal Federal (STF) da tese do Marco Temporal mostraram duas importantes lições para o movimento de luta contra a direita “civilizada” e o governo de Jair Bolsonaro. A primeira é a enorme tendência de mobilização existente entre a população brasileira que está sendo atacada diretamente pelos golpistas.
Foram duas importantes mobilizações durante algumas semanas para acompanhar a votação do Marco Temporal pelos ministros golpistas do STF, que se mostraram as maiores mobilizações indígenas desde 1988. Na primeira foram 6 mil indígenas e na segunda, na Marcha das Mulheres Indígenas, também mobilizadas contra o Marco Temporal, concentraram-se mais de 5 mil indígenas no acampamento em Brasília.
Essas duas enormes mobilizações mostraram que quando há uma campanha de mobilização e organização, as pessoas vão às ruas lutar contra a direita e o governo Bolsonaro.
A outra questão que ficou evidente foi a total ausência dos partidos de esquerda e de movimentos de luta pela terra nessa mobilização indígena contra o Marco Temporal. Apesar de algum apoio pontual em alimentação e transporte, não se viu um peso grande da esquerda na mobilização, apenas alguns discursos parlamentares que não servem para nada.
A ausência da esquerda nessas mobilizações enfraquece o movimento indígena e permite que os latifundiários, juntamente com os ministros do STF, façam algumas manobras para enfraquecer o movimento e encontrar uma maneira adequada de atacar os indígenas e suas terras.
Outro ponto é que, com a ausência de partidos da esquerda e de movimentos da luta pela terra, as reivindicações dos povos indígenas ficam à mercê das organizações não-governamentais, que não têm nenhuma ligação real com o movimento indígena e suas reivindicações básicas e imediatas. Essas ONGs financiam algumas “lideranças” conhecidas e algumas entidades “representativas”, mas que servem apenas aos interesses de países estrangeiros e setores da sociedade cujos interesses são alheios aos indígenas.
A política dessas ONGs foi vista dentro do acampamento, na tentativa de expulsar bandeiras de partidos políticos e de manipular uma grande mobilização combativa para transformá-lo em um movimento pacifista e de passeatas em defesa da “natureza” para agradar os países estrangeiros. Uma forma de captar recursos para essas organizações.
Os indígenas estão sendo duramente atacados pela direita e pelo governo Bolsonaro e sua luta é importante para toda a população brasileira que sofre com os desmandos da direita, dos latifundiários e da pistolagem no campo. Para reverter esse quadro e colocar um programa real de defesa dos interesses dos povos indígenas, é preciso que a esquerda jogue peso nessas mobilizações e insira a pauta do movimento indígena na luta nacional pelo Fora Bolsonaro.
É preciso apoiar com estrutura para as mobilizações e mobilizar toda a população trabalhadora para a causa indígena, que é a mesma dos trabalhadores do campo e de outras comunidades tradicionais como os quilombolas. A causa principal é comum: a luta pela terra. Mas também uma série de reivindicações básicas para o desenvolvimento do campo e das populações indígenas, como postos de saúde, médicos, água, energia, escolas e muitas outras coisas para o desenvolvimento e segurança dos índios. E não apenas a defesa abstrata da natureza realizada pelas ONGs e países europeus, que na verdade possuem interesses antipopulares e imperialistas por trás dessas reivindicação.
A participação da esquerda é importante para obrigar o Estado a financiar os programas de desenvolvimento das terras indígenas e sua população, e não essas entidades que vivem de propaganda para captar recursos estrangeiros e que muitas vezes se colocam contra o desenvolvimento do país.
Partidos de esquerda e movimentos de luta pela terra devem inserir a pauta de reivindicações dos indígenas e unificar a luta pela reforma agrária, pelas demarcações e pelo fim do latifúndio, e que o Estado financie programas para o desenvolvimento das terras indígenas.