O nacionalismo burguês é uma corrente política importante nos países atrasados da África, Ásia e América Latina. No final da década de 1990, os governos nacionalistas chegaram ao poder na Venezuela, Bolívia, Argentina, Paraguai, Uruguai, Peru e Brasil como resultado da crise revolucionária aberta pela política neoliberal.
A burguesia dos países atrasados é uma classe semi-oprimida e semi-opressora. Ao mesmo tempo que é uma classe exploradora e opressora da classe operária em cada país, ela também é oprimida pelo imperialismo mundial. Nos países atrasados, o papel fundamental é jogado pelo capital estrangeiro, que controla os setores estratégicos da economia e intervém na política nacional para garantir seu controle e seus interesses.
A opressão imperialista gera choques com a burguesia nacional e os setores populares. Na América Latina, são inúmeros os exemplos de movimentos nacionalistas, que colocam problemas políticos reais, principalmente as questões relativas à soberania e desenvolvimento nacionais.
Para controlar as massas, que se encontravam em estado insurrecional, o imperialismo permitiu que os governos nacionalistas ascendessem ao poder naquela década. Tratava-se, naquele momento, de uma maneira de preservar o regime burguês da tendência insurrecional. Os governos nacionalistas, uma composição política entre os setores populares e as burguesias nacionais, por sua natureza, realizam concessões às massas nos marcos do regime capitalista. Estes governos procuraram desenvolver a indústria nacional – casos dos setores de petróleo e mineração -, implementaram programas sociais de combate à miséria, realizaram uma política externa de integração latino-americana, criaram os blocos políticos Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), União das Nações Sul-Americanas (Unasul), Alternativa Bolivariana para as Américas (ALBA), Petrocaribe. Inclusive, cogitou-se a abertura de uma escola latino-americana de defesa nacional para alinhar as forças armadas dos países sul-americanos contra a ameaça de ingerência externa.
A política de golpes de Estado, que teve início com o golpe em Honduras (2009) e se desenvolveu até o golpe no Brasil (2016), visava acabar com a era dos governos nacionalistas e substituí-los por governos neoliberais, agentes diretos do imperialismo. A derrubada da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) não poderia permitir que o Partido dos Trabalhadores, expressão política do nacionalismo burguês e com influência sobre amplos setores da classe operária, voltasse ao poder pela via eleitoral em 2018. Por isso, aconteceu a fraude eleitoral que retirou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva das eleições presidenciais e colocou Jair Bolsonaro na presidência da República.
A candidatura do ex-presidente Lula é uma alternativa real de poder aos golpistas de 2016 e 2018. O imperialismo não aceita, de forma alguma, a candidatura do ex-metalúrgico e procura se articular para apresentar sua própria alternativa burguesa ao governo Bolsonaro. Devido às bases sociais de massas e a influência da classe operária brasileira, Lula e o Partido dos Trabalhadores são capazes de levar adiante uma política de relativa independência do imperialismo.
A crise capitalista mundial exige a implementação da política neoliberal. Os governos nacionalistas, caso do Lula e do PT, representam obstáculos a esse tipo de política. O nacionalismo burguês é pressionado a fazer concessões às massas. Conforme estas se radicalizam, consequência das suas condições materiais, estes governos aprofundam as concessões para manter o controle e influência política sobre elas. O imperialismo não quer nenhuma concessão às massas, pelo contrário, quer a retirada total dos direitos trabalhistas, o fim dos sindicatos e organizações de massas, fim dos direitos previdenciários, alinhamento incondicional com sua política externa e austeridade fiscal sobre os gastos do Estado nas áreas sociais. Não há espaço para programas sociais e todos os recursos devem ser destinados para os bancos e grandes capitalistas estrangeiros.
O nacionalismo burguês emerge das condições econômicas e políticas de dominação do imperialismo sobre os países atrasados. O Partido dos Trabalhadores consegue se apoiar nas massas, sindicatos e movimentos populares para se contrapor ao imperialismo. Lula é o político mais popular do País e precisa dar respostas às pressões que sofre das bases, atingidas pelo desemprego, fome, miséria.
Por mais conciliador que seja o nacionalismo burguês, o imperialismo não está disposto a aceitá-lo. Não quer concessões e negociações. Daí a articulação para prender o ex-presidente nas masmorras da Polícia Federal em Curitiba, com a finalidade de bani-lo da vida política nacional. O que impediu a concretização deste objetivo foi a projeção política de Lula na na consciência das massas. Na consciência destas últimas são vivas as recordações sobre os programas sociais, a política de geração de empregos, o descobrimento das jazidas do pré-sal, os programas habitacionais, aumento do salário mínimo, os programas de melhora da infraestrutura das escolas, distribuição de terras (mesmo que muito parcial) e uma série de iniciativas governamentais. A popularidade de Lula se assenta na política que levou adiante enquanto governo federal.
A mobilização popular em torno da candidatura de Lula é o caminho para impor uma derrota aos golpistas à serviço do imperialismo. Os trabalhadores devem apresentar uma alternativa de poder. O ex-presidente, com todas as contradições, é esta alternativa.
A experiência histórica ensina que não se deve confundir o nacionalismo burguês com o imperialismo. Em todas as situações em que o nacionalismo burguês entra em choque com os senhores do mundo, é preciso apoiá-lo e mobilizar as massas contra o principal inimigo da humanidade.