80% das mortes por COVID-19 são provenientes dos bairros mais pobres da cidade de São Paulo, pois são esses os que mais sofrem com a falta de políticas públicas de defesa dos interesses dessa população de menores recursos, e que se torna presa fácil de qualquer que seja a mazela social que os atinja. É claro que, se o governo não tem uma política pública condizente com essa situação, que lida com pobres e miseráveis, não resta a menor dúvida de que serão presas fáceis em situações como essas.
Mas o fato é que até o empresariado precisa equilibrar bem essa tendência ao morticínio, encaminhado pela falta de políticas públicas, com a necessidade de reposição de mão de obra necessária para baratear o valor da força de trabalho empregada na indústria, e alimentar o exército de desempregados utilizados para esse fim. E, na medida em que o número de óbitos na periferia cresça como de fato cresceu, estimando-se em 50% desde janeiro até março deste ano, alguma coisa a burguesia vai ter que fazer para não deixar que isso extrapole os limites que a prejudique nesta conta.
Com o crescimento do número de óbitos, tornou-se necessário aparelhar, minimamente, os hospitais que recebem a população carente. Mesmo assim, a situação é levada ao limite para que o balanço aconteça, e o avanço acaba por coincidir com a lotação nas unidades de saúde das regiões. O número de mortes nos bairros mais afastados dobraram em relação aos mais próximos do centro da cidade nos últimos dez meses.
Sapopemba, Brasilândia, Grajaú, Capão Redondo e Campo Limpo, são bairros que lideram essa conta que considera o número de mortos. Na UPA do Campo Limpo, localizada na zona sul da capital paulista, são recebidas muitas reclamações de demora para o atendimento, onde, totalmente lotada, ela já conta com 23 pacientes internados e 15 entubados.
Há uma diferença abismal na qualidade de vida e na garantia de direitos dos habitantes de São Paulo, que, apesar de morarem na mesma cidade, vivem realidades completamente diferentes. A saúde é mais um índice que nos alerta para o Mapa da Desigualdade.
Publicado anualmente desde 2012, o estudo organizado pela Rede Nossa São Paulo analisa 53 índices de várias áreas da administração pública nos 96 distritos da capital, e determina o nível desta desigualdade.
Na Cidade Tiradentes, por exemplo, extremo leste de São Paulo, em 2018, a média de idade com que as pessoas morreram foi de 57 anos. Em Moema, sofisticado bairro da zona sul, a média foi de 80 anos. Uma diferença de 23 anos em duas cidades relativamente próximas.
Ainda de acordo com o levantamento, a proporção da população negra e parda nas diferentes regiões da cidade também é muito desigual. Enquanto no bairro Jardim Ângela 60% dos moradores são negros e pardos, o índice de pessoas negras é de apenas 5,8% em Moema.
Outro dado apresentado pelo Mapa da Desigualdade se refere à proporção de favelas em comparação com o total de domicílios. A Vila Andrade é o distrito com o maior percentual de favelas (49.2%). A região tem a maior disparidade socioeconômica do município. Lá onde vivem famílias tanto de alta renda quanto de baixa renda.
A média da capital é de 8.2. Em outros 11 distritos como Perdizes, Alto de Pinheiros e Consolação, não existem favelas.
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad) feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e divulgada no fim de outubro, a oferta de postos de trabalho informais disparou e bateu o recorde da série histórica e atinge 38 milhões de pessoas. O número representa 41,4% da força de trabalho brasileira.
O Mapa da Desigualdade em São Paulo mostra como a cidade está incluída neste retrocesso e que a grande maioria das pessoas que se encontram nesta situação moram nas regiões periféricas.
Como de praxe, a burguesia espera que a situação chegue ao limite, quando já muitos foram prejudicados e morreram, e o sistema entra em colapso, para pensar em fazer algo. E, como isso é muito perigoso para ela, já que beira o ponto em que o povo se rebela por causa de tanta desgraça, então ela primeiro se prepara para conter o povo e uma possível rebelião, para, só depois, pensar em reparar o mal de toda essa desgraça. E, mesmo assim, não descarta esperar o máximo para ver se a situação se ajusta sozinha, como vem sendo o caso em que se espera que e a resposta da estratégia do emprego da imunidade de rebanho, sem a vacina e sem hospitais aparelhados, seria positiva, e, mesmo que pagando o preço de muitas mortes, no final, a cura da pandemia aconteça sem nenhum esforço ou gasto.
Como se pode ver, o Brasil está chegando perto de uma provável rebelião, que é o que resta e é o que preocupa a burguesia. À esquerda cabe o papel de preparar a classe trabalhadora e o povo para superar o tratamento desumano que lhe é dispensado, não só pela falta de saneamento básico e de atendimento médico e hospitalar, mas também de emprego e renda, para assumir, de uma vez por todas, o controle da situação que a possibilite ter saúde e uma vida digna com trabalho e renda. O que só será possível com a derrubada do governo ilegítimo de Bolsonaro e da burguesia que o apoia.