No dia 23 de maio de 1932, um grupo de manifestantes tentou invadir a sede do Partido Popular Paulista (PPP), agremiação encabeçada por Miguel Costa e sustentáculo político de Getúlio Vargas em São Paulo. A sede se localizava na Rua Barão de Itapetininga, esquina com a Praça da República, na capital paulista.
Quando os manifestantes se postaram em frente ao prédio, as forças ligadas ao governo federal reagiram com tiros e várias pessoas ficaram feridas e outras morreram. Dos mortos surgiram os mártires M.M.D.C: Mário Martins de Almeida, Euclides Miragaia, Dráusio Marcondes de Sousa e Antônio Américo Camargo de Andrade (Mário, Miragaia, Dráusio e Camargo).
A sigla M.M.D.C foi criada como uma representação da Revolução Constitucionalista. A burguesia paulista organizava um levante contra o regime varguista, que subira ao poder como desfecho da Revolução de 1930 e a crise terminal do regime oligárquico da República Velha (1889-1930).
Um agudo conflito entre distintas facções da burguesia nacional explodiu como consequência do rearranjo das forças políticas promovida pela revolução. Os interesses da burguesia paulista, a mais poderosa e influente do País – que dominara o regime político brasileiro durante décadas na República Velha -, entraram em contradição com o governo Getúlio Vargas. Os paulistas reivindicavam a convocação de uma Assembleia Constituinte e repudiavam a nomeação de interventores federais no estado.
A burguesia paulista não aceitava a intervenção de Getúlio Vargas em São Paulo e estava disposta a defender sua autonomia, prevista na primeira Constituição da República. O pleno controle do governo estadual era fundamental para a garantia de seus interesses econômicos e políticos, conforme ocorrera durante o período prévio à Revolução de 1930. Não estava nos planos da burguesia permitir interferências em seus negócios.
As seguintes organizações estavam envolvidas na criação do MMDC: a Liga da Defesa Paulista e a Liga Paulista Pró-Constituinte, o Partido Democrático, o Partido Republicano Paulista, a Associação Comercial de São Paulo, associações da sociedade civil e os mais destacados órgãos de imprensa da época. A burguesia paulista, a líder do movimento, realizou uma campanha de arregimentação do povo para lutar em prol de seus interesses. O levante contou com o apoio das classes médias e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) teve papel de destaque na produção dos materiais bélicos.
Os combates estouram no mês de julho nas frentes de batalha nas divisas com o Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e ainda no Litoral. Devido ao isolamento e à superioridade das forças federais, o movimento fracassou. Em 1º de outubro de 1932, a rendição foi assinada. Os principais líderes tiveram seus direitos políticos cassados e foram deportados para Portugal. Estima-se que tenham morrido 800 soldados paulistas e 400 das tropas federais.
O acontecimento histórico completa 89 anos. Apesar da derrota no campo militar, o movimento liderado por São Paulo forçou Getúlio Vargas a manter a política de valorização do café, reativar a comissão de elaboração da Constituição e permitir o reescalonamento das dívidas dos cafeicultores e aceitar bônus de guerra como moeda legal.
A importância da Revolução Constitucionalista de 1932 reside no fato de que se tratou de um conflito no interior das classes dominantes. A burguesia paulista mediu forças com o governo Vargas. Apesar da vitória militar, Getúlio foi forçado a atender uma série de reivindicações dos paulistas, o que teve um importante efeito no desenvolvimento posterior, não só do estado de São Paulo, mas do Brasil como um todo.